MEDIOCRIDADE OU CARÊNCIA?
Fico aqui no meu canto a fitar como as pessoas se envolvem emocionalmente, ou por motivo nenhum se alienam às situações que o mundo nos apresenta a cada momento. Somos bombardeados a todo o momento com notícias de catástrofes na natureza, acidentes, mortes de famosos, crimes hediondos e também por que não dizer das notícias mais amenas, que nos deixam às vezes descontrair o humor.
A despeito de recentes acontecimentos marcantes, exaustivamente explorados pela mídia, três chamaram-me mais a atenção: a grande comoção pela morte do artista Michael Jackson; o terrível acidente com a aeronave que decolou do Brasil com destino à França, não deixando nenhum sobrevivente; o recente episódio mostrado ao mundo em uma foto, um flagrante de um momento do início da reunião de cúpula do G-8, em Áquila, Itália, na qual o Presidente Barack Obama e o Premier francês Nicolas Sarkozy parecem admirar ''as costas'' de uma brasileira, que acabava de passar por eles.
Ora, quem de vocês viu tamanho estardalhaço com a notícia do último 07 de julho? – Mulheres Uighur choram por seus maridos presos por autoridades chinesas após os protestos de domingo em Urumqi, na China (por qual motivo teriam protestado?). Ou ainda, em 10 de julho deste ano - Muçulmana chora ao lado de caixão de parente entre as 534 novas vítimas identificadas do massacre de Srebrenica, em 1995 (qual o motivo deste massacre, alguém sabe?). Quem se importa com mais um confronto étnico, na China no qual mais de 150 pessoas, de duas etnias (etnia Uigur em Xinjiang contra chineses da etnia dominante Han), morreram no último domingo? Ou com mulheres mulçumanas que perderam seus maridos na Guerra na Bósnia em Srebrenica – Sérvia, no qual mais de 7 mil muçulmanos bósnios são executados e os corpos enterrados em valas comuns, no massacre pelas tropas sérvio-bósnias, na matança mais grave na Europa desde a Segunda Guerra mundial (1939-1945)?
Estou aqui a imaginar, quantos me lêem agora de olhos estatelados e presumivelmente julgando ou criticando o porque das minhas indagações. Outros tantos tentando lembrar ou entender tais episódios e qual reação eles causaram-lhes ou ainda hoje lhes causam. Quero acreditar que ainda em meio a estes existam muitos que se preocupam e se indignam tanto quanto eu, com a banalização da vida humana em prol das artimanhas do poder, da supremacia étnica, dos valores religiosos e outros. Aqueles que intimamente choram em comunhão com as mulheres mulçumanas ou com as mulheres Uighur e tantas outras mulheres no mundo que por vários motivos, choram pelos seus filhos, maridos, pais e irmãos.
Voltando às manchetes que atordoaram muitas cabeças nos últimos dias, de súbito me pego indignada. Seria a morte de um artista reconhecidamente ídolo de multidões, motivo para tamanho aparato, não fossem as pessoas tão carentes de apego, carentes de motivos que lhes façam sentir-se parte do mundo? Ou seriam as pessoas tão medíocres, que lhes bastam apenas as futilidades para sentirem-se vivas? Não critico que tenhamos ídolos (tenho os meus), mas que os tornemos deuses de nossas vidas. Homens poderosos, Obama, Sarkozy, olharam ou não a beldade brasileira? E daí, eles são homens antes de serem poderosos, não são? Que importância as pessoas podem dar a algo tão insignificante, não fosse o vazio que lhes preenche a mente? Talvez estes mesmos nem se importem com a dor das famílias e dos amigos daqueles que tiveram suas vidas ceifadas brutal e precocemente no acidente da aeronave, muitos sem a chance de ter seus corpos encontrados ou identificados e de ter um sepultamento digno.
Mediocridade ou carência, não importa, o que realmente o mundo precisa é de mais amor das pessoas por si mesmas e destas para as outras e que não haja carências, para então se sentirem prontas para dar as mãos uns aos outros e entenderem que a vida de cada um só tem valor, se e somente se, o ser humano for um ser para o outro, para que não se sinta ou se torne medíocre a ponto de esquecer a verdadeira solidariedade.