Perdoa-me, oh Deus

Perdoa-me, oh Deus

Se do ontem ao até o agora pequei por pensamentos e palavras, quando, à penumbra de um magnânimo sacrário, ainda podia tê-las evitadas deixando-as vaguear por entre os despenhadeiros cósmicos e incongruentes daquele cemitério de espectros tristonhos ‘per si’ já mortos;

Se à flor dos lábios sonoros poemas ecoaram ríspidos e insossos por entre os alvéolos desta sublime e cândida realidade, quando, à esteira daquele porvir, ainda podia ter ajoelhado ante a nobre pena e recitado somente aqueles versos de amores diluindo o fel das eternais mágoas que, ao embalo da enovelada fragrância, por mim foram estupidamente ignorados e sufocados;

Se à ira da incompreensão deixei levar pela idiossincrasia hipócrita do momento arremessando a culpa dos meus fracassos vividos àqueles andrajos farpeados de sequelas, quando ainda podia ter, à magnânima época, ofertado o ombro amigo a eles ajudando-os na leva da cruz de seus dias mais penumbrados e no ínterim os auxiliado na escalada do calvário da existência;

Se numa lágrima falsa deixei verter por entre os homens de boa vontade o negro fel da discórdia, quando, à esteira da reciprocidade, podia ter injetado o antídoto da caridade, do amor, da união e o da fraternidade não me esquivando jamais daquela frasal correspondência a cuja tona ainda boia ardente em meio à maré desta desvirtuada consciência: ‘do quão evasivo e arrogante fui ante ao enorme pedestal de vidro... ’;

Se à penumbra do entendimento achei ou sequer imaginei que a dor e a infelicidade dos outros fossem pequenas demais diante das minhas, quando na verdade estava reverberando impropérios desconexos às avessas; pois ao ter vestido o manto da compreensão e a carapuça da humildade aprendi a olhar ante o espelho da vida e no reflexo da absorção certificado do quão paupérrimo e prepotente havia sido até àquele blasfemo destempo;

Se à “Santa Casa do Senhor” tive a audácia, a discrepância, a insensatez e a frieza de ir para ficar reparando não somente nos trajes alheios, mas também por ter fomentado, semeado e abrasado inúmeros boatos àqueles frequentes de boa fé, quando, à sombra da oração e da onipotência daquele sagrado e bíblico andamento, podia ter ajoelhado ante a hóstia da harmonia, do amor e da subserviência e escalado os fios invisíveis da oração pedindo perdão pela tão crudelíssima e abestada observação;

Se à margem da ignorância e da espiritual cegueira curti ululando pelos palcos da vida aquelas efêmeras vitórias com pitombas estúpidas e ensurdecedoras, quando jamais podia ter esquecido que por detrás desta desumana cortina havia aqueles irmãos que carpem as disgras de terem vindo ao mundo sem moradia e com a inumana desgraça de estarem vivendo sem pão;

Enfim. Rogo perdão não só por tudo isso, mas também por todas aquelas frasais verdades que deste moribundo e poento ser passaram despercebidas; pois doravante tentarei não mais pecar e sim filtrar os atos a fim de que esta orvalhada e bendita lágrima, que agora sangra suavemente por entre os dedos, possa erigir um templo à verdade convertendo este pálido coração naquele imenso santuário de outrora cuja luminescência se revigora e se esplende borbulhando do mais puro torpor, como também do mais truculento amor...

Pálido poeta
Enviado por Pálido poeta em 19/02/2010
Reeditado em 19/02/2010
Código do texto: T2095417
Classificação de conteúdo: seguro