A calmaria chegou, é hora de seguir viagem
As férias acabaram, o carnaval também. Totalizando, foram quase dois meses de pernas para o ar, sem pensar em trabalho, sem madrugar, sem escrever.
Neste ano as coisas foram um pouco diferentes dos últimos, pois aproveitei bem mais o descanso, e realmente dei férias para as responsabilidades cotidianas. Viajei em família, viajei com a namorada, fiquei em casa, deitado na cama assistindo a filmes, joguei sinuca, baralho, tomei cerveja, bebi uísque, chorei pela tragédia que nos assolou como um monstro voraz, agradeci pelos que sobreviveram e sofri pelos que morreram. A única coisa que não fiz foi escrever.
Na virada do ano, quando a chuva devastou Angra dos Reis, a tristeza cresceu a cada minuto, primeiro pelas dores pessoais, a preocupação com os bens, a tensão pelo pior; depois veio a dor, a dúvida, a certeza. Quando morre alguém que faz, ou fez, parte da nossa vida, em geral, há uma perda de controle, uma laceração íntima sem tamanho. Decidi não escrever sobre Angra dos Reis e suas vítimas. Não quis, ou não pude, sentar e relatar a angústia, o pavor e o medo que nos fez chorar. Pela primeira vez quis sair de Angra nas férias de verão. E foi bom.
Mas para não ficar metido no ócio, resolvi mexer em velhas páginas. Encontrei o meu original de Pesadelos esquecido na gaveta e resolvi olhar com mais cuidado para o livrinho de contos de terror. Como a sensação era essa, terror, pareceu-me ser o momento exato de retomar a ideia de, se não me engano, 2006. Tirei as férias para reler Pesadelos e, para minha surpresa, surgiu a oportunidade de publicá-lo. Larguei mão do ofício colérico da pena e entrei no mundo obscuro da editoração. No final, o produto do meu trabalho me agradou muito. Fiquei contente com a edição do livro. Da capa ao marcador de página, nada me desanimou no projeto. Pela primeira vez, um livro ficou do jeito que eu queria.
As coisas aconteceram rápido. Antes mesmo da finalização do boneco, recebi um convite do jornal Rumo e da rádio Costazul para entrevistas sobre o livro. A divulgação parece estar encaminhada, felizmente.
Estou, agora, acertando os últimos detalhes para o lançamento do livro. Minha equipe de imprensa e agentes estudam a melhor data para o evento, que ainda não sei qual formato terá. Gostaria de um café literário, como fizemos na época de Intermitência, ou alguma coisa maior, como fizemos na Casa de Cultura. Ainda não me decidi pela forma como levarei o bastardo ao mundo.
O ano começou mal, mas ganhou contornos de esperança. Pode ser que toda negatividade tenha escoado com a água que nos devastou no primeiro dia do ano, e agora as positividades venham nos trazer um pouco de alegria. Parece que a calmaria chegou, preparamo-nos para seguir viagem. O livro está lindo, as perspectivas boas. O que me falta agora é conseguir escrever, já que os Pesadelos acabaram.