Oh! Posteridade

Oh! Posteridade

Oh posteridade, abri os braços e no vosso regaço acolhei os frutos de minha herança, que em trôpegos passos, encaminham-se agora na direção da sua perene realidade. Entrego-vos estas preciosidades que me foram confiadas, inobstante os poucos méritos amealhados para justificar o recebimento de tão grandes dádivas. E quando o eclipse às retinas se afigurar e a visão perder o brilho existencial deixai que as fibras do eu-vivente se ajoelhem diante do oráculo do onipotente e possam entoar as cantilenas, a fim de que a matéria impura se desprenda do fantasma a turbar esta alma alquebrada. Não as legai de encontro ao conturbado pernoite da negra sombra da profecia a turvar as imagens de outrora legando apenas à memória as sublimes faces angelicais e não as extraviando na imensidão do cosmos do porvir.

Mostrai a elas os caminhos da retidão e da justiça; afastai-as das vis materialidades do ser; dai-lhes sabedoria e prudência para que o sobejo fardo do amanhã não ultrapasse as forças do espírito a cruciarem os instantes de suas inocências a serem instados; dizei-lhes que na poesia e na filosofia hão de se reencontrar e que, quando chegada à hora, um lampejo lhas quiser desvirtuar, cobri-as com o vosso manto de luz.

Oh filhas minhas! Oh filhas do mundo! Expressão pueril a eternizar a efêmera essência que se metamorfoseia na etérea substância original, fonte inextinguível de vida que surge em forma de sonhos, na realidade poética da sinfônica existência e das promessas solenes entrepostas pelos eus-posteriores; escutai a voz desse locutor que às horrendas tempestades preconiza. Anjo das ilusões, às asas brancas, volvei-as afastando-as da borrasca que outro sol o brilho descora; aquecei-as no inverno sem pudor, que se despe ante o outono mormente.

Eis aqui o Alfa, princípio abstrato, e o Ômega, falsa volatilização da perenidade existencial que ora se alui. Eis aí o Alfa - Beta - Gama que para vós se direcionam a passos confiantes. Prometei-me, à surdina, que ao cruzar o último solstício, a lua há de prantear a lousa e no sorriso facial declamar os hieróglifos em voz audível: foi poeta (viveu o Alfa), enalteceu o sonho de viver (realizou o Ômega) e no abreviar do anátema reproduziu as belezas em diademas preciosos a buscarem, irmanados na idêntica jornada, a angelical amplitude - como as rezas a Deus se erguem gemendo.

Pálido poeta
Enviado por Pálido poeta em 17/02/2010
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