CARNAVAL CARIOCA: O ATO FINAL
O segundo dia dos desfiles das agremiações cariocas esteve à altura dos carnavais apresentados no dia anterior. O ato final do espetáculo confirmou a condição de maior fenômeno artificial da Terra instituída pelas escolas de samba do Rio de Janeiro.
Vamos direto ao ponto. A Mocidade de Padre Miguel, distante do sábado campeão desde 2003, na minha visão passará mais um ano somente assistindo a esse desfile. A Estrela-guia não apresentou nenhum diferencial em seu desfile, tendo sido o que chamo de “desfile de manual”, semelhante ao da Imperatriz no primeiro dia. As alas não compremeteram, a comissão de frente fez o básico, os carros de forma alguma inovaram... e o samba-enredo, além de tudo, é fraquíssimo, tem um refrão enjoado e não transmite a menor emoção a ouvidos acostumados ao estilo poético e metafórico dos sambas-enredos. Esta última questão é concernente à Porto da Pedra. O refrão é completamente inexpressivo, ainda que inspirado em uma canção de Noel Rosa famosa na voz de Zeca Pagodinho. O problema que identifiquei no samba-enredo da Porto da Pedra (por sinal, o mesmo da Mocidade) é que ele não emociona o ouvinte. Por outro lado, o tema do Tigre foi muito bem linearizado no desfile. O abre-alas estilo rupestre, passando pela era antiga e medieval até chegar aos tempos modernos foi muito bem apresentado e esteve de fácil entendimento. Destaque para o tigre com os piercings e boné, este sim trouxe ao desfile a emotividade ausente na composição do samba.
A Portela repetiu o que foi visto na Mocidade, na Imperatriz e na União: um desfile pragmático, restrito a contar o que está escrito na letra do samba-enredo. Aliás, este não foi o forte da Águia em 2010. Na fila desde o inesquecível 1984 de “Contos de Areia”, há algum tempo que nenhum samba encantador é chocado no ninho portelense. A performance apenas comum da maior campeã carioca não deve devolvê-la ao sábado das campeãs.
A Grande Rio - censurada pela emissora bajuladora da cervejinha – brilhou na Avenida. O desfile, responsável por evocar o espírito de grandes carnavais da Marquês de Sapucaí, além de reavivar a memória foliã com muita vivacidade, incorporou a magia desses míticos desfiles. São inesquecíveis o Ita salgueirense, o Cristo proibido da Beija-Flor ou a Kizomba da Vila Isabel. E o samba-enredo resume fantasticamente as importantes passagens do Carnaval carioca, além de contar com um refrão contagiante – mesmo que os Robertos Marinhos não tenham gostado.
Assim como no desfile Salgueiro, o sono causado pela transmissão global impossibilitou minha audiência plena à Vila Isabel. Mas posso falar do samba-enredo, completo na história e rico nos refrões. A letra é rica em sua simplicidade e profunda na mensagem, não à toa composta por Martinho da Vila.
O melhor samba-enredo do Carnaval carioca de 2010 ficou por conta da Mangueira. O atrativo do samba está nas mensagens alusivas a músicas famosas. E se prestarmos atenção em toda a letra, ela apresenta a arte musical como inerente a uma determinada época. É a música como um instrumento de recordação das passagens da vida.
O desfile da Verde-e-Rosa também foi satisfatório. Não chegou a ser fora-de-série, mas retratou competentemente os pontos históricos mais importantes da música no Brasil.
Concluo com o meu ranking do Carnaval 2010:
1 – Beija-Flor
2 – Mangueira
3 – Unidos da Tijuca
4 – Grande Rio
5 – Salgueiro
6 – Vila Isabel
7 – Viradouro
8 – Porto da Pedra
9 - Imperatriz
10 – Portela
11 - Mocidade
12 - União da Ilha