O pai, na visão dos filhos.
Enquanto meu pai viveu, minha mãe teve dois maridos, hoje eu a vejo com seus mais de noventa anos e fico imaginando que na verdade ela foi um misto de Dona Flor e Amélia. Enquanto nós, os filhos, conviviam-mos com a presença de dois homens, sendo que um deles era pacato e carinhoso, mas o outro... Causava-nos muitas tristezas e desgostos.
O pacato chegava em casa sempre com um agrado para minha mãe e uma fruta ou outra guloseima para nós, ai tomava seu banho, sentava na varanda onde tomava seu cafezinho, e nunca dispensava seu cigarrinho, mas entre uma tragada e outra sorria satisfeito das historias que nos contava. E nesses poucos momentos existia um lar, uma pobre casa na verdade, mas pelas atitudes do momento, aquela paz representava mais do que qualquer dinheiro pudesse comprar. E ali estava um homem digno de ser amado, como pai, como marido, e as nossas tristezas e preocupações eram apagadas pelo som de sua sonora risada.
Mas o outro... Aproximava-se com outra visão, olhava tudo ao redor como se nos visse de dentro de uma garrafa, e nos tragava, bebia a nossa quietude, e vomitava palavrões, e não satisfeito, não sei se por gosto ou maldade, destruía tudo aquilo que o pacato havia plantado, e no lugar das historias que o carinhoso contava, usava força bruta contra a Amélia e fazia brotar nos olhos de Dona Flor, lagrimas chorosas.
Eu sei que cada caso é um caso, mas nestes casos não pode haver nenhum descaso, pois as estradas da vida são muitas, e você que qualificou sua esposa com o codinome Dona Flor, fique atento ao se dirigir para casa... Não beba, e se beber... Apague seu fogo numa calçada. E meu pai...Que Deus o tenha.