Falsos cristãos me perseguem porque não acredito na existência de um Deus

Eu não acho graça alguma em perseguir alguém, seja crédulo ou incrédulo. É uma questão de valor. Não tenho deus, mas tenho valores e respeito pelo próximo. Quem me conhece pode comprovar facilmente o que afirmo.

Desde a minha tenra idade jamais consegui acreditar na existência de Deus tal como meus pais me ensinavam. Aliás, gostaria de “inocentar” meus genitores por ter desviado um caminho que parecia tão natural. Também gostaria de pedir desculpas a todos que me ajudaram na vã convicção de que estariam me guiando para as suas igrejas. Agradeço especialmente a Igreja Católica que, através das irmãs da Divina Providência, me ofereceram a oportunidade de concluir o Ensino Médio com formação em professor das séries iniciais. Certamente, muito do que contribuiu para a formação do meu caráter e dos meus valores, foram alicerçados em ambientes cristãs sejam de denominações católicas ou protestantes.

Consciente das rotulações, preconceitos e perseguições que eu enfrentaria após saberem da minha descrença em um deus, demorei anos e anos para manifestar meu posicionamento ateu. Hoje, mesmo depois de ter comprovado uma conduta ilibada, sofro veladamente o preconceito e a perseguição daqueles que se dizem guiados pelos ensinamentos de um deus de amor. É angustiante ter que conviver diariamente com a falsidade e a hipocrisia de pessoas que se escondem atrás de uma religião para parecerem melhores do que o que realmente são. Para elas, o fato de acreditar em um deus é como se as colocassem numa instância superior. Já os ateus seriam pessoas destituídas de valores e capazes das piores atrocidades, mas não sabem elas que as evidências científicas provam justamente o contrário.

Não precisamos pesquisar muito na história para constatar que, em nome de valores religiosos, foram praticadas grandes mortandades, infindáveis guerras, horrendas atrocidades (como a Inquisição) e nefandos atos terroristas. Ou matar em nome de Deus não é uma constante insana da humanidade? Quem é mau, então? Os cristãos ou os ateus? Além de tudo, os dogmas religiosos contribuíram significativamente para o atraso da ciência, pois historicamente a igreja sempre se posicionou contrária aos estudos científicos, inclusive perseguindo grandes gênios como Galileu Galilei.

Um estudo feito em 1997 pela Federal Prison Board, dos EUA mostrou que enquanto que 75% da população carcerária americana se declarou religiosa e crente em Deus, apenas 0,2% se declaram ateus ou agnósticos! (na população em geral eles já representariam cerca de 10%). O divórcio (um pecado, segundo o catolicismo, mas não segundo os protestantes) ocorre em 40% dos católicos americanos, 27% de evangélicos e apenas em 21% dos ateus. As estatísticas elucidam o grande distanciamento entre a verdade e a mentira, entre a religião e a ausência dela, entre os cristãos e os ateus. “A crença em um pecado é inversamente proporcional à sua adoção”, declarou Ataliba Teixeira.

Ao contrário do que os cristãos pregam, os estudos sociológicos têm demonstrado cabalmente que ateus, em geral, cometem menos crimes, respeitam mais as leis, e criam seus filhos com mais critérios morais e familiares do que a maioria dos que acreditam em Deus. Conclusão: não é preciso acreditar em Deus para ser moral e respeitador dos costumes e das regras sociais. Meus pais sempre afirmaram que a justiça para ser boa começa de casa, então, me utilizarei desse recurso para avaliar as incoerências, insensatez e hipocrisia entre os cristãos da minha própria família.

Tenho parentes que praticamente moram dentro das suas igrejas e que vivem a fazer alardes da fé e dos sacrifícios para atingir a salvação, entretanto, são os primeiros a justificar os divórcios dos seus filhos, a encobrir os adultérios e principalmente a fazer julgamentos das ações dos seus semelhantes como se fossem eles os juízes supremos.

Há uma corrente de cristãos, sobretudo, evangélicos que insistem em propagar a idéia de que muitos cientistas antes de morrerem aceitaram “Jesus Cristo” e fizeram pronunciamentos em defesa da existência de um deus. Essa é uma tentativa frustrada de nos convencer de algo que naturalmente não compactuamos. Outros defendem que é perfeitamente possível uma harmonia entre a ciência e a religião. No fundo, são formas equivocadas de persuasão. O certo é que quase 40% de todos os cientistas declaram não ter religião. O ateísmo é muito mais prevalente entre pessoas de maior escolaridade, intelectuais e autores, do que no resto da população. Uma exceção são os políticos, pois estes têm receio de declarar publicamente seus "valores ateus" num país que é predominantemente composto de eleitores cristãos. Ironicamente, quanto mais os políticos alardeiam sobre suas crenças, mas corruptos costumam ser.

Dentre os ateus ou agnósticos mais famosos no mundo e no Brasil podemos citar gênios como Einsten, Charles Darwin, James Watson, Richard Feynman, Paul Dirac, Linus Pauling, Alfred Kinsey, Carl Sagan, Sigmund Freud, Thomas Edison, Michel Foucault, Augusto Comte, Denis Diderot, Karl Max, Oscar Niemayer, Jorge Amado, Paulo Autran, Dráuzio Varela, Charlie Chaplin, John Lennon, Woody Allen, Chico Buarque e tantos outros.

Outro fato interessante é que os três maiores doadores de dinheiro para causas boas e nobres, de toda a história, George Soros e Warren Buffet (financistas) e o fundador da Microsoft, Bill Gates, são ateus declarados. Juntos, eles doaram mais de 70 bilhões de dólares. O que dizer disto?

A verdade é que as pessoas não precisam de uma religião para serem boas ou más. Ter respeito pelos seus semelhantes é uma questão de formação, de caráter e personalidade. Tenho concluído que quanto mais religiosas são as pessoas mais intolerantes costumam ser contra as crenças dos outros. A história comprova isso. Muita gente fica assombrada quando falo da minha ausência de crença em um deus e a maioria delas costumam jurar que não acreditam no que defendo, simplesmente porque eu sou uma pessoa muito correta para ser atéia. Ocorre que o conceito que a maioria dos cristãos tem sobre os ateus é falso, ou seja, é puro preconceito.