O MUNDO DA POESIA

Acredito que todos lêem, dizem ou escrevem poemas, pelo menos uma vez na vida, uma linha de verso, uma simples quadrinha, seja lá o que for. Ou fazem poesia no pensamento e nem atentam para isto. Outros extravasam a poesia no papel, no Word, em outras artes, a exemplo da música, da arquitetura, da pintura ou das ciências. Tudo é poesia, até cuidar de uma casa, ensinar, costurar, etc.

Mas, o retrato do mundo da poesia ao qual aqui me reporto, seria aquele que chamaríamos de “oficial”. A imitação daquele “das ideias”, o mundo da poesia expressa em versos, estrofes, formas poéticas, clássicas ou não. O universo onde vivem ou flutuam os assim considerados e celebrizados poetas, inscritos nas páginas da literatura.

Esse “lugar”, digamos assim, é realmente transcendental, mágico e prodigioso, semelhante aos quadros de Salvador Dalí. Nele vivem os poetas. Ali vivenciam sua complicada realidade, aprisionando-se ou não. Isto é com eles. Creio tratar-se de um destino, pois não é provável que alguém escolha ou decida ser poeta.

As asas da imaginação traçam o sistema no qual habitam os poetas, corpos distanciados dos biológicos, plasmados na inspiração. O regime de vida no mundo da poesia é algo que até independe da vontade do ser poeta. Entretanto, este ser, contraditoriamente, tenta governar essa paisagem sem notar a impossibilidade de consegui-lo.

A Poesia é um sentido e um sentimento, uma emoção e um corpo etéreo, mas de força descomunal. Os poetas existem à sua imagem e semelhança. E é ela quem escolhe as cartas e as distribui a bel prazer. Faz ensolarar e faz chover. Essa moça de beleza resplandecente e também de face mutável, não se incomoda com o que fazem ou pensam os seres do chamado “mundo real”. Suas características principais são a subjugação, a tirania e a reunião em si de todos os significados _ dos mais simples aos mais profundos da essência das coisas todas, boas e más.

A Poesia não depende do material para existir, não se dá conta do sofrimento de quem a persegue e ama desesperadamente. Nós, poetas, feliz ou infelizmente, a experimentamos e sentimos a necessidade de apreendê-la de alguma maneira. O problema é nosso apenas.

Quem convive nessa galáxia pensa poder demonstrar ao mundo sua intimidade amorosa ou sofrimento da experiência incontrolável com a Poesia. É uma espécie de alcoolismo e, por mais que se tente, não se obtém a cura. Mesmo que hoje paremos de colocar poemas no mundo real, não se tenha dúvida, a Poesia está entranhada em nós definitivamente. Se há um DNA do espírito, o registro poético está ali incrustado.

No momento em que a inspiração se esconde em algum precipício no Mundo da Poesia, os poetas entram em crise existencial, privados do vício mais fatal. Quando a deusa se faz de rogada, vem o desespero e a febre ao contrário. Sim, há duas febres, a primeira, de quando estamos plenos de sentimentos e sentidos os mais variados e podemos dizê-los em versos. E há a febre ao contrário: a da ausência, da solidão e do capricho da Poesia. Esta não se farta de inventar, de mudar de opinião, cônscia de sua eternidade, senhora de si. A Poesia não faz questão dos mortais poetas, completa-se em si mesma, autônoma e majestosa que é.

Então, falo contigo, Poesia, e digo que comigo o páreo é duro, pois igualmente somos voluntariosas e impiedosas. A mim não vencerás, pois se não me tomas em teus braços de sedução, eu mesma em ti me transformo. E não fujas, pois eu não correrei em tuas pegadas. E não implorarei teus beijos insanos. Pelo contrário, beijarei versos de princípio e fim, gerados antes e independentemente de ti.