O Pacto e o pato

De repente, sem que ninguém esperasse, surgiu uma convocação, a partir de um grupo de deputados estaduais, para que a sociedade do Rio Grande participasse de um “pacto” em nome da governabilidade do Estado. Á primeira vista, como todas as iniciativas comunitárias, o pacto é salutar, teoricamente exeqüível e patrioticamente partilhável.

No entanto, com o passar dos dias, analisando a profundidade da proposta bem como sua ressonância nos segmentos da sociedade, constatou-se que essa medida socorrista e eleitoreira, visa minimizar o caos que assola nosso Estado. Ora, sabemos que quem assume um Estado como o Rio Grande, recebe os cofres raspados. Trata-se de um processo usual, histórico e endêmico. Mas, também é histórica a capacidade de recuperação de quem começa um governo “no vermelho”. No entanto, essa recuperação não ocorreu nos últimos quatro anos. Desde o princípio as contas estiveram desequilibradas, os pagamentos atrasados, os aumentos irrisórios, os precatórios das pensionistas do Ipê ficaram no calote, e o funcionalismo teve que tirar empréstimo para obter o 13o. salário.

Agora me falam em “pacto” como coisa mais natural e técnica do mundo. No entanto, olhando os cortes propostos, constata-se que há uma incisão profunda nos recursos destinados à sociedade, sem que os fautores do projeto tenham tirado de suas generosas remunerações uma parcela, pequena que fosse, para ajudar nesse esforço. Além disto, há que se considerar que o Rio Grande do Sul sofre com um dos ICMS mais perversos da República.

Assim como existe nacionalmente uma orgia de gastos no que tange aos Três Poderes da República, igualmente em nosso Estado – se quisessem fazer um pacto sério - a coisa podia ser reduzida à metade, e não setorizada em reduções na educação, na saúde e na segurança. Quem sabe se atacassem as “despesas com os gabinetes”? Assim como é demais termos quase 600 Congressistas, o número de Deputados Estaduais podia ser substancialmente reduzido, assim como a sociedade deveria exigir do Judiciário e do Executivo mais eficácia em seu mister, a fim de que o benefício social se proporcionalizasse a seu custo.

Assim, quando vejo tantos Deputados eufóricos, se abraçando, uns rindo e outros chorando, ajudados pela mídia a anestesiar o povo com mais uma cantilena, eu fico concluindo que o tal “pacto” vai estourar, mais uma vez, no “pato”, que é o povo, o contribuinte, aquele que é onerado por taxas de serviços e impostos. Que culpa tem o povo, que ano após ano tem pago a conta, se o Governo não foi competente em equilibrar seu caixa?

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 03/08/2006
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