Marjolet Rosê

Eu gosto muito de vinho; costumo tomar, diariamente, um cálice no almoço. Embora não seja um connaisseur, costumo adequar essa bebida ao sabor das comidas, como tinto com carnes e massas, assim como o branco com frutos do mar. Embora os supermercados da Região Metropolitana de Porto Alegre pratiquem preços melhores que as vinícolas produtoras, volta-e-meia Carmen e eu subimos a serra para buscar vinho em maior escala. Sei que o preço, o gasto com o combustível e outras despesas encarece o produto, mesmo assim vamos até lá pelo passeio, pelo ar puro, pela gastronomia e pela quebra das rotinas. Vou até lá, compro tintos, brancos, champanhes e sucos de uva.

Hoje tem gente (ah! esses “novos ricos”) que desdiz o uso aludido (branco para isso, tinto para aquilo), dizendo, repetindo seus “gurus”, que é assim ou assado. Por falar nisto, viram como foi connaisseur modificada a forma de beber champanhe? (ou espumante). Antes se bebia em taças, hoje em flûtes (flautas), cálices altos e finos. Meu pai também era apreciador do vinho. Como sua preferência (um “Chianti”) nem sempre era disponível, ele se contentava com um clarete Único, ou um riesling da Granja União. A verdade é que cada época teve/tem sua preferência, fazendo surgiu produtos da moda. Já foi cult o consumo dos varietais da Aurora, onde o badalado Gewustraminer surgiu e se apagou. Os vinhos da Almadém também tiveram sua época. Hoje ainda estão na crista da onda os chamados “cabernet sauvignon”, independente da adega de origem. Atualmente, o pessoal usa muito os chilenos (Santa Ana, Concha y Toro e Sanha Helena) mais para presentear do que consumir. Eu gosto muito de vinho, e não abro mão, em paralelo com os mais sofisticados, um produto mais simples, como um tinto seco, da Jotapê ou dos Vinhos Jaguari.

Coisa boa é você ir a uma churrascaria ou galeteria e pedir “uma jarra” de um tinto desconhecido. A verdade é que os vinhos têm seus ciclos. Surgem ótimos, tornam-se razoáveis e depois experimentam seu ocaso. Eu gosto muito de vinho, por isso não abro mão do meu Joseph Friedrich, alemão branco. Mas cuidado: estão apresentando um “pseudo-alemão”, de garrafas retorcidas, produzidos na África do Sul. Tem gosto de rabo de elefante.

Pois há vinte anos atrás, a moda era o Marjolet (marjolê) rosê. De uma feita fomos a um restaurante, éramos três casais, jantar. Minha mulher, um amigo e eu, bebemos uma garrafa de vinho. As duas senhoras beberam refrigerantes. O cidadão (um nordestino) tomou três garrafas. No day after ele estava se queixando que o vinho lhe fizera mal. Também, pudera... Na hora não me cabia dizer-lhe que vinho naquela quantidade fazia mal.

Eu tive um colega, um esnobe membro de uma classe média emergente, que era consumidor e apologista desse vinho. Um dia, mencionei a ele um aforismo argentino: “El vino rojo (tinto) es para los hombres, machos; el blanco (branco) para las mujeres; y el rosado (rosê) para los tontos y maricones”.

Ao que me consta, ele reformulou sua preferência pelos “rosados”.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 03/08/2006
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