AS ARMAS DA MORTE

No sábado (06.02.2010) fomos surpreendidos com indignação com a notícia do assassinato do jovem estudante de biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco Alcides do Nascimento Lins. A morte deste jovem de 22 anos de idade, provavelmente, mal teria sido noticiada pela mídia, como acontece com dezenas de outros jovens assassinados em Pernambuco, não fosse ele um estudante que foi notícia nacional, quando em 2007 passou em primeiro lugar, entre os estudantes provindos de escola pública, no vestibular da UFPE. E ainda mais, ele provinha de uma família em extrema pobreza, com mais três irmãs, sustentada pela mãe catando lixo. Na sua dedicação e persistência, Alcides se preparava para o vestibular em 2007, muitas vezes, apenas tendo acesso às matérias através dos livros catados por sua mãe no lixo. Mesmo assim venceu, e era exemplo para muitos jovens. Estava no sétimo período de seu curso, estagiava no HEMOPE e no Departamento de Micologia da UFPE. Era também monitor no Departamento de Fisiologia. É de notar que o estudante só pode ser monitor na UFPE quando não possui reprovação em seu histórico escolar. O que comprova a dedicação de Alcides aos estudos. Ele era o arrimo da família, provavelmente sustentava a mãe e as irmãs com os míseros dinheirinhos que ganhava com os seus estágios. Mas, quando formado, a sua grande esperança era conseguir dar uma vida mais digna para sua mãe e suas irmãs. Era o orgulho de sua mãe e de sua comunidade pobre de Santa Luzia da Torre/Recife. E esta vida foi ceifada por dois tiros assassinos na cabeça do estudante.

Esta morte deveria ter sido percebida com muita indignação, e como uma grande tragédia para o Recife e para Pernambuco. Mesmo em tempo de carnaval o Prefeito da cidade e o Governador do Estado deveriam ter-se manifestado com indignação. Mas cadê os políticos, cadê até os religiosos, que nem nas missas festivas do dia 07 de fevereiro, final dos festejos dos 100 anos de Dom Helder, se mostraram adequadamente indignados com este crime hediondo? Dom Helder, se vivo fosse, provavelmente, teria transferido a sua missa para o cemitério de Santo Amaro, onde Alcides foi enterrado. Por que o Governador não decretou luto oficial por causa deste jovem, que, tão jovem, já havia projetado nacionalmente a capacidade dos jovens pernambucanos, mesmo aqueles que vivem em situações infra-humanas. E por que morreu este jovem? Porque existem armas nas mãos de assassinos. Armas da morte. Mas, como estas armas circulam tão abundantes e tão facilmente pelas mãos dos matadores? Donde vêm, quem são seus fabricantes e seus comerciantes? Com certeza a polícia civil e militar conhece os lugares onde são comercializadas, quem as comercializa. Será que o tão propalado Pacto pela Vida não consegue inibir a circulação destas armas? Verdade é que o Brasil se gloria de ser um dos grandes fabricantes e exportador de armas. Armas exportadas, armas importadas, armas comercializadas em feiras.

Sugiro que algumas ONG's, que se dizem defensoras dos Direitos Humanos, que se dizem inspiradas pelo exemplo de Dom Helder Camara, processem o Estado, e exijam uma indenização pela morte de Alcides. Pois não é admissível que um Governo de Estado civilizado não seja responsabilizado pela morte do filho duma mãe, catadora de lixo, que esperava de seu filho o resgate de sua dignidade de cidadã, que propriamente o Estado deveria garantir. Não tenho dúvida que os órgãos de segurança, também do Brasil e, especialmente, de Pernambuco seriam capazes de desarmar os bandidos. Mas, para isto, são necessárias ações honestas dos políticos, dos policiais, do Ministério público e da justiça.

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