O JOVEM CONSUMIDOR

A participação juvenil no mercado consumidor não é mais novidade, surpreendente mesmo é como os jovens brasileiros se destacam mundialmente quando se trata de “fazer umas comprinhas”. De coisas pequenas e que aparentemente não mexem no orçamento familiar como refrigerantes, leite, produtos de higiene diária, os adolescentes conseguem, só através das compras mensais para casa que os pais ou responsáveis fazem, consumir em média quatro por cento a mais do que os adultos. Dessa forma, os pequenos são os grandes consumidores.

Crianças de quatro, cinco anos já não têm mais surpresas ao receber presentes de aniversários ou de Natal, tudo isso porque já escolheram e exigiram o que vão receber. E assim os adolescentes são educados, acostumados a ter o celular mais popular, a roupa da moda, a bolsa de marca, o iPod mais moderno. Os marqueteiros das grandes empresas estão de olho nesse comportamento.

Pensar que está “descobrindo o mundo” é típico da idade. O início do ano com a volta às aulas gera um descontrole ainda maior na avidez consumista. As “necessidades” aumentam à medida que surgem novos produtos ou velhos recebem nova roupagem. O desejo de destacar-se nos grupos antigos, a intenção de inclusão em novos estimula o instinto consumista que muitas vezes nem cabe no orçamento familiar uma vez que produtos de lançamento costumam estar no topo da lista dos preços.

Os marqueteiros exploram a natural insegurança dos jovens bombardeando-os através da mídia sem deixar muito tempo para reflexão entre o necessário e o supérfluo. Assim, vemos muitos jovens desperdiçando mesadas em compras de produtos que vão utilizar uma única vez. Outras vezes nem chegam a utilizar um determinado produto, porque foi comprado impulsivamente, apenas pelo desejo de posse ou de estar incluído num grupo.

O consumo de bens duráveis ou não é uma necessidade de mercado. Distinguir entre o necessário e o supérfluo, entre o urgente e o dispensável é uma tarefa árdua que exige muita negociação entre pais e filhos. Se para os adultos já é difícil distinguir quando são transformados em massa de manobras e/ou garotos propaganda, imagine para os jovens inseguros. O desejo de ter o mesmo “castelo de areia” do colega de classe pode até ser saudável. Mas é bom verificar se a formação e a identificação pessoal não estão indo pro brejo. Os pais costumam ter hábitos protecionistas e tomam decisões em coisas aparentemente pequenas, que atrapalham a formação. Os jovens de classe média não aprendem a utilizar o transporte coletivo, porque os pais determinaram que isso pudesse ser perigoso. Assim, em muitos aspectos os pais contribuem para que haja uma certa acomodação no momento de decidir sobre coisas do cotidiano.

A orientação paterna deve ajudar os jovens a decidir e assim evitar que se tornem reféns do consumismo. Contudo, o verdadeiro desafio na educação, e isso não é responsabilidade apenas dos pais, é preparar para o mundo pessoas que sabem decidir o que desejam e o que não desejam, o que é bom e o que não é e sem manterem fiéis aos seus princípios sem cair na vala comum dos que consomem apenas porque um determinado produto é bem divulgado.

(agradecimento especial a Jéssica Amorim, adolescente, que sugeriu o tema e que demonstrou na escrita que os jovens sabem o que querem)

Luiz Lauschner – escritor e empresário

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 06/02/2010
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