GANHEI NA LOTERIA

GANHEI NA LOTERIA

Por Aderson Machado.

O que vou relatar aqui aconteceu no ano de 1980. Não me lembro bem do mês. Creio, no entanto, que tenha sido no segundo semestre desse ano. Pois bem, fazia menos de dois anos que eu estava morando em Floresta/PE, e costumava apostar, todos os finais de semana, na loteria esportiva – naquele tempo não havia a enxurrada de loterias que há hoje em dia.

De tanto insistir, pois não é que finalmente chegou o meu dia de sorte! Acabara, portanto, de fazer treze pontos na tão badalada loteria esportiva. Assim, ninguém, neste mundo, poderia avaliar o meu grau de contentamento. Antes, porém, passei por uma grande expectativa ao acompanhar os resultados dos jogos pelo rádio. Já havia acertado doze jogos, e o resultado parcial do último jogo não me era favorável. Havia marcado a coluna 1, e estava dando a dois. Era necessário, então, que o time perdedor invertesse o resultado. Porém, o tempo para o jogo terminar era de aproximadamente 15 minutos. E eu de ouvido colado ao rádio, na maior expectativa, e já um tanto quanto desenganado, porquanto o tempo corria rápido. Quando tudo parecia perdido, eis que uma luz começava a aparecer no fim do túnel: o time que perdia acabava de empatar a partida. Nessa altura, faltavam menos de cinco minutos de bola rolando, e minha adrenalina estava nas alturas! Mais um golzinho, e eu iria correr para o abraço. E não deu outra, ao apagar das luzes, o time perdedor virou o jogo, e eu completava os treze pontos. Pronto. Não faltava mais nada, estava “milionário”, e já começava a esboçar os meus planos...

De imediato, um filme passou pela minha cabeça, e comecei a pensar: o que fazer com tanto dinheiro?. Deixar o meu emprego, no qual estava a menos de dois anos? Essa não me parecia uma atitude das mais sensatas, até porque ainda não havia adquirido a minha estabilidade no emprego. Estava com menos de dois anos de trabalho, e, portanto, em regime probatório.

Pensei, por outra, em quebrar tudo que tinha dentro de casa, e comprar tudo de novo. Porém, esse tudo era quase nada, porquanto estava recentemente casado, e ainda mobiliando a casa, que era alugada, diga-se de passagem. Assim, mudei de ideia, e pensei em comprar a melhor casa da cidade, um carro de luxo, e viajar, viajar, viajar. Queria conhecer o mundo, que pra mim tornar-se-ia pequeno diante de tanto dinheiro que iria receber!

A propósito, pra onde eu deveria ir mesmo? O fato é que opções não me faltavam. Poderia, muito bem, começar pelo meu Brasil, que conhecia muito pouco. Depois, eu faria uma incursão pelo exterior. Nessa incursão eu não descartaria fazer um Cruzeiro pelo Mediterrâneo e também conhecer a Europa de cabo a rabo. Por outro lado, eu não pretendia conhecer a Terra do Sol Nascente. Não fazia o meu gênero, além do que ficava do outro lado do mundo.

Repensando os meus propósitos iniciais, não fazia sentido continuar morando no interior, principalmente no sofrido Sertão nordestino. Teria, sim, que ir morar numa capital, de preferência na capital do meu estado de origem, João Pessoa, onde os meus filhos iriam ter uma educação de qualidade, e onde todos iríamos ter mais opções de lazer. Além do mais, iria morar junto com toda a minha família.

Depois de ter conhecido o Brasil e grande parte do mundo, depois de ter feito os meus investimentos de praxe, quer em móveis ou imóveis, com o dinheiro que sobrasse eu ainda pretendia ajudar os meus familiares e até os meus amigos mais próximos. Estaria, assim, compartilhando os frutos da minha sorte com as outras pessoas, numa demonstração de fraternidade e grandeza de espírito. Destarte, eu estaria de bem comigo mesmo.

Enquanto estava fazendo essas divagações, sobreveio, então, a grande frustração. É que o rádio acabava de anunciar o número de ganhadores da loteria esportiva: 100 mil ganhadores, e cada um iria receber, em cruzeiros, o que equivalia, hoje, a aproximadamente vinte reais!

Portanto, das viagens que planejei fazer, limitei-me a ir a Salgueiro/PE receber essa merreca, já que em Floresta não havia agência da Caixa Econômica Federal...

Aderson Machado
Enviado por Aderson Machado em 06/02/2010
Reeditado em 20/03/2019
Código do texto: T2071807
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