LITERATURA: UM DESAFIO VIÁVEL?
Considerando Londrina a terceira maior cidade da região Sul – perdendo em número de habitantes apenas para Curitiba e Porto Alegre (RS) e, em geração de riquezas, além das capitais mencionadas, para Joinville (SC) e Caxias do Sul (RS) –, por que não pensá-la no âmbito cultural e elevá-la a pólo regional gerador de grandes escritores?
Diferentemente do Rio Grande do Sul, que possui um interessante, admirável e invejável sistema literário, os demais estados sofrem com a falta de condições para escritores iniciantes e profissionais desenvolverem carreiras literárias estáveis. O desenvolvimento dessas carreiras – assim como o incentivo à leitura, o aumento das vendas de livros, a expansão de livrarias, a realização de eventos, o incremento ao turismo, a circulação de riquezas e o intercâmbio de culturas em geral e, especificamente, literárias – se consolidará quando dispusermos de uma estrutura que beneficie a manutenção do tripé do sistema literário: editoras londrinenses publicando escritores londrinenses que, por sua vez, serão lidos por leitores londrinenses.
Londrina terá sua visibilidade realçada não apenas nas cidades paranaenses, mas também nas paulistas de modo que se tornará mais do que mera referência para centros urbanos de pequeno e médio portes, entre eles Marília, Presidente Prudente, Assis e Ourinhos. Sendo assim, a construção e a consolidação de um sistema literário beneficiariam grande quantidade de leitores (comuns, intelectuais, literatos, eventuais) que a situariam no roteiro de viagens. Afinal, quem gosta de Literatura – e principalmente de livro – arquiteta uma maneira de viajar para participar da Feira Literária Internacional de Parati (RJ), da tradicional Feira do Livro de Porto Alegre (RS), das bienais realizadas alternadamente entre Rio de Janeiro e São Paulo ou da Feira do Livro de Pernambuco.
Alguns ainda podem argumentar sobre a realização freqüente ou regular de eventos literários coletivos ou isolados, entretanto, tais eventos podem ajudar a divulgar a Literatura de maneira geral, mas ainda faltam substratos para constituir um sistema literário. A afirmação se sustenta pelo simples fato de escritores de Marília, Presidente Prudente e Ourinhos se deslocarem aos grandes centros para lançaram obras ou interagirem literariamente quando, na prática, poderiam escolher a maior cidade do norte paranaense como centro de suas atividades.
Construído um sistema sólido, escritores, leitores, editores, gráficos, livreiros, jornaleiros e suas correspondentes redes de trabalho serão beneficiados. Os números dos índices de leitura aumentarão e quem sabe se, em pouco tempo, não seremos alternativa intercalada aos visitantes da jornada de Passo Fundo (RS)? Quantos amantes da Literatura não encheriam hotéis, buscariam restaurantes, utilizariam os transportes coletivos, gerariam riquezas diversas? O incentivo à leitura auxilia indiscutivelmente em tais índices. Os últimos informes de leitura indicam que o brasileiro lê em torno de 1,3 livro por ano. O brasileiro do Rio Grande do Sul atinge seis livros anuais. E, pasmem, em Passo Fundo, onde ocorre a famigerada jornada literária, o índice anual de leitura por habitante atinge espantosos nove livros.
É possível, portanto, estruturar a Literatura em Londrina não apenas como maneira de atrair investimentos, situar a cidade no mapa literário regional e nacional, ampliar as perspectivas turísticas, mas também como item essencial para aumentar os níveis de leitura e acrescentar alguns pontos ao Índice de Desenvolvimento Humano, ao Produto Interno Bruto e aos levantamentos de ministério e secretarias de cultura. Somos capazes de enfrentar o desafio?
Vicentônio Regis do Nascimento Silva é tradutor e crítico literário.
*Publicado originalmente na Folha de Londrina (Londrina – PR) de 2 de fevereiro de 2010.