MENDES RIBEIRO E O PAYADOR MISSIONEIRO

Tenho para mim que tudo o que se faz presente no mundo é criação divina, posto que resulta da obra Dele ou da criatura - o homem - que, mais do que criação, é inspiração divina, na exata proporção da aplicação do princípio de que somos feitos à imagem e semelhança do Supremo Artífice.

Por isso, o papel de cada ser humano durante sua caminhada aqui na terra é deveras importante, pois o percurso deve ser palmilhado de tal forma que, ao olharmos para trás, possamos ver muito mais amor do que ódio, beijos do que bofetadas, alegrias do que tristezas, perdão do que ofensas...

Sei que a missão posta desta forma não é uma tarefa fácil, isto porque, não raras vezes, esbarramos no orgulho, na vaidade, na hipocrisia e noutros sentimentos menos nobres que, lamentavelmente, marcam presença indevida na vida do homem.

O grande desafio é tentar fazer a caminhada com aplicação dos princípios antes referidos, de sorte que o paradoxo da vida se materialize na existência de cada ser humano, cumprindo-se o milagre da vida. É isto que justifica o fato de que quando aqui chegamos choramos, enquanto que aqueles que nos recebem sorriem pela nova vida que surge, e quando morremos sorrimos pelo cumprimento da maioria das metas do caminho percorrido, enquanto os que ficam choram pela dor da despedida decorrente do amor que construímos durante nossa existência.

Acredito que, na semana que passou, o Rio Grande do Sul testemunhou o término da caminhada de dois de seus filhos mais ilustres. O primeiro que partiu foi o "Payador Missioneiro", Jayme Caetano Braun, certamente que com o desafio da sua vida por ele aceito e regiamente cumprido. Nas suas composições musicais e poéticas imortalizou o gaúcho como um ser humano que é, dotado de extrema coragem e, ao mesmo tempo, de amor e bondade. Uma lenda na história do povo gaúcho! Foi-se o "Payador"!

O segundo a partir, induvidosamente, foi apóstolo do amor e da lealdade, sentimentos sempre presentes em todos os atos da sua vida, nas suas aulas, nas suas obras literárias, na tribuna parlamentar e nas atividades de jornalista e radialista destacado.

Com este - refiro-me a Jorge Alberto Beck Mendes Ribeiro, o nosso Mendes Ribeiro, ou simplesmente o Mendes -, tive a oportunidade de conviver, mesmo que por pouco tempo, razão pela qual posso testemunhar que ele foi, na linguagem de Jayme Caetano Braun, um verdadeiro "galo de rinha", cuja luta era sempre em defesa da paz, da lealdade, do amor e, principalmente, de uma crença firme no Criador dos céus e da terra e de tudo quanto existe entre essas duas dimensões. Um homem de espinha dorsal ereta. Foi-se o Mendes!

Quando o "Payador" e o Mendes nasceram, há cerca de setenta anos atrás, choraram, enquanto seus familiares sorriram. Agora, quando partem, sorriem pela certeza da missão cumprida, enquanto nós, gaúchos, choramos por tão significativas ausências.

Por isso, Mendes Ribeiro, peço-te licença, em nome da crença que defendias, para dizer a ti e ao "Payador Missioneiro" que, realmente, foi um privilégio ter estado com vocês.

Que Deus os receba com o mesmo amor que vocês souberam dedicar a esta terra e a este povo!

* Artigo escrito à época do falecimento dos homenageados no contexto.