O pior cego é aquele que não quer ver (2)
Lá pelos tempos de outrora e o que me faz lembrar agora, e que não vou deixar de lado, é o armazém de secos e molhados. Nele se reuniam os iguais, em fins de tarde, inicio de noite, cada qual no seu canto ou amontoados no balcão, e entre sacas de arroz, milho, farinha e feijão, contavam seus causos, suas piadas, e entre um conto e outro mascavam seus tabacos, e davam uma boa beiçada no mé, e a vida corria assim entre trabalho casa e botequins;
Enquanto isto la fora agüentando o sereno das madrugadas mulas e alguns cavalos aguardavam pelos seus donos, e quando davam fim na algazarra iam cambaleando rumo às montarias, e gastando o ultimo fôlego conseguiam ocupar as referidas selas, e o resto, deixavam por conta daqueles quadrúpedes que os caminhos de casa conheciam de cor. E entre perdas e ganhos viviam e faziam aquilo que se podia, e volta e meia um vinha a ter o figado aos poucos diluindo causando assim o seu fim, mas isto ficava entre eles, pois não era assunto de valores financeiros para os tablóides. Mas hoje são tempos modernos, mas pouco ou nada os locais de encontro onde se bebe e falam bobagens se diferenciam do velho secos e molhados, a não ser o transporte que agora se tornaram mais possantes, pois qualquer um daqueles que se encontram presentes tem la fora a espera-lo no mínimo uma tropa de oitenta cavalos. E o pior que se pode desde já visualizar é que nenhumas destas charmosas montarias sabem sozinhas em casa chegar, e os seus donos, muito menos conseguem se orientar, e nos seus embasamentos mentais acabam virando cegos que perderam a bengala, e o que se nota é que esta morte da ibope, esta sim vende jornais.
Mas para tudo na vida existe explicação, já que eles insistem em fazer o que não pode, mesmo com tantas leis, multas e inflações, talvez não queiram mesmo é morrer de cirrose. E os piores cegos neste caso somos nós.