Sobre o Medo

Sobre o Medo

O que é o Medo

O Medo acompanha a evolução da cadeia biológica.

Nos mais singelos seres vivos unicelulares, observamos os fenômenos de paralisação ou detenção do curso vital, quando se vêem submetidos a bruscas ou desproporcionais modificações em suas condições de existência.

Em qualquer protozoário podemos surpreender a cessação de inatividade em resposta a essas sujeições.

As primeiras manifestações de vida do ser humano são acompanhadas desta reação, acusando a presença do medo. Entretanto, não existe consciência de sua existência.

Se jogarmos um recém-nascido para o alto, aparando-o novamente, apresentaria todas as reações provocadas quando sentimos medo. Tais sintomas, outros não percebidos em suas vísceras e, ainda, outros são produzidos por liberação de adrenalina.

Se nessa hipótese intensificássemos a violência do fenômeno, persistiriam durante horas vestígios de uma grande comoção ou choque e até mesmo a morte seria possível, provocada por uma ação global e indireta sobre todo o seu organismo.

Qualquer leigo ao presenciar essa experiência confirmaria a sabedoria popular, dizendo: deram um susto de morte à criança.

Por outro lado se resolvêssemos diminuir progressivamente a vitalidade de outro recém-nascido, por meio de uma alimentação deficiente, expondo- a ao frio e a outras condições adversas, obteríamos a mesma resposta.

Já em um vertebrado somos capazes de notar essa mesma inatividade resultado da previsão de uma possível sujeição. Esta reação em forma subjetiva é o Medo.

Em algum momento da evolução biológica existe a mudança de mera passividade à ativa defesa individual ante os estímulos geradores do medo.

Em grau mais elevado de complicação biológica, produz-se uma conduta global – “conduta fugitiva ou reação de fuga”, cujo propósito é o afastamento físico do ser ante a situação perigosa. Assim, poderíamos dizer que o animal utiliza seus recursos pára superar tais situações, libertando-se delas sem sofrer maiores danos.

Desta forma poderíamos dizer que o animal não foge porque tem medo, mas para livrar-se do medo.

Os animais herdam um acervo limitado de reações e seu aprendizado baseia-se numa série de reflexos condicionados constantemente mutáveis, de acordo com os estímulos recebidos.

Os sentimentos têm a finalidade de auxiliar os seres humanos a perceber as coisas do mundo real. Assim, depois de certo tempo, o Estímulo e o Sentimento ficam tão agregados, que não temos capacidade de separar o Sentimento da Situação ao qual foi aderido.

O medo é um estado emocional universal. É sensação que todos conhecem e emoção natural do ser humano.

O Medo, algo natural e que nos protege, se em excesso, causa sofrimento e nos prejudica.

O Medo ou ansiedade normal provocado pela necessidade de fazer uma palestra, de dar uma aula, de submeter-se à entrevista para emprego, etc., faz com que a pessoa fique mais alerta, mais preparada e, portanto, mais apta ao sucesso.

Entretanto, o medo exagerado, exacerbado faz determinado estímulo banal de ocorrência freqüente parecer ao Sistema Nervoso Central como situações de risco. Essa reação exagerada atrapalha e compromete o êxito nas ações do dia-dia.

Tipos Básicos de Medo

A partir do segundo ano de vida, as lembranças de uma criança podem a qualquer momento transformar-se em imagens e apresentarem-se ante ela. O ser transcende; o pensamento “adquire asas” e já pode construir estímulos próprios, alimentando-se a si mesmo.

A função psíquica mediante a qual os dados e as imagens são associados e combinados denomina-se “Imaginação”.

Poderíamos simplificar tão complexo atributo humano, afirmando que os tipos básicos de medo são:

a) Medo Instintivo: correspondente àquelas primitivas manifestações de debilitação, retenção ou paralisação do curso vital , sob a ação direta e imediata de estímulo maléfico;

b) Medo Lógico: medo condicionado, latente em nossos genes pela ancestralidade dos estímulos (similar ao acervo herdado pelos animais) ou pela experiência (aderindo Sentimento – Medo à Situação) e baseado na razão;

c) Medo Imaginário: medo gerado pela Imaginação que, de forma independente da razão, associa e combina Situações Condicionadas com imagens e dados diversos.

O Medo Instintivo-Orgânico manifesta-se deforma idêntica em todos os seres humanos. É um medo mais tido que sentido e mais sentido que pensado. Vai dos centros locais aos superiores e por isso o indivíduo só percebe que se assustou a posteriori, quando chega aos centros corticais.

Medo Lógico sentido a priori como reação ao perigo ou de alerta sobre o dano. É pensado antes de ser sentido e sua fórmula é a atitude de prudência, não te arrisques. Funciona a partir de uma forma de idéia do possível dano que se projeta para os centros superiores e depois se irradia no sentido descendente.

Medo Imaginário ou Fobia é caracterizado pelo condicionamento a objeto que nunca constituiu motivo de medo, mas encontra-se ligado a um verdadeiro estímulo, através de uma cadeia de associações distorcida. Assim, tal medo torna-se injustificado e incompreensível não só para os que o analisam como para os que sofrem seus efeitos.

Desenvolveremos mais esse tipo de Medo noutro artigo – “O que é Fobia”

Motivos para o Medo

Existe uma variedade infinita de motivos para o Medo.

Dentre os Estímulos ou Agentes do Medo, existem alguns que, por estarem relacionados à história dos seres humanos como mamíferos, ou pela sua constância através de todas as épocas, devem ser considerados fundamentais: trovões; tempestades; cataclismos naturais; escuro; insetos; animais; pessoas estranhas; dor; sofrimento moral; enfermidades; morte; solidão; vida; instintos; guerra; e revolução.

Reações do Corpo ao Medo

Numa situação de ameaça, seja real ou não, sentimos medo e nosso corpo reage assim:

- Cérebro: as amídalas cerebrais são as estruturas responsáveis por iniciar a reação a estímulos amedrontadores e encontram-se localizadas na região das têmporas. Elas enviam um sinal ao hipotálamo, região de controle do metabolismo, para que seja intensificada a produção de adrenalina, noradrenalina e acetilcolina em fração de segundo. A descarga dessas substâncias causa imediatamente alterações no funcionamento de diversas partes do corpo.

Olhos: as pupilas se dilatam. Isso diminui a capacidade de a pessoa reparar nos detalhes que a cercam, mas aumenta o poder de visão geral. Em tempos ancestrais, esse recurso permitia que o homem identificasse predadores e as possíveis rotas de fuga no escuro das cavernas.

Coração e pulmões: eleva os batimentos cardíacos. A maior irrigação sanguínea faz com que cérebro e músculos trabalhem mais intensamente, deixando a pessoa alerta e ágil. O fato de o coração bater acelerado exige maior oxigenação, daí por que a respiração se torna mais curta e ofegante.

Estômago: dores na região estomacal devido ao aumento na produção de acetilcolina. A liberação em maior quantidade de sucos gástricos acelera a digestão e a transformação dos alimentos em energia.

Fases Progressivas do Medo

Sobre as fases progressivas do Ciclo Emocional do Medo Mira y López no livro “Quatro Gigantes da Alma” afirma: “podemos distinguir perfeitamente seis principais níveis de intensidade da emoção do Medo: Prudência; Concentração; Alarme; Angústia; Pânico; Terror.

Na Prudência,Concentração e Alarme a conduta motora individual é ainda satisfatoriamente controlada pela personalidade, enquanto que nos três últimos – Angústia, Pânico e Terror- acelera e precipita a total desorganização e abolição a conduta motora”.

Existem comportamentos que alguns estudiosos do assunto, como Mira y López, os relacionam intimamente com o Medo como se fossem suas máscaras, ou seus disfarces.

Mira y Lóipez em “Quatro Gigantes da Alma” enumera como disfarces do medo em suas formas menos intensas: modéstia; prudência; preocupação; e nas mais intensas: escrupulosidade; pessimismo; tédio; vaidade; hipocrisia; mentira.

Já vai longe o tempo em que se acreditava que o Medo era saudável, pois representava dispositivo do chamado “instinto de conservação”, prevenindo-nos e afastando-nos dos perigos. Hoje sabemos que o Medo é Arauto da Morte.

O Medo é um resíduo de propriedade da mesma natureza da própria vida, destinado a desaparecer à medida que o Homem seja capaz de intervir em seu próprio destino, para esculpir-se numa personalidade superior.

“Medo” é tentativa em rimas, cheia de receios e medos, para cantá-las, quando alguma ameaça for pressentida ou, até mesmo, imaginada.

Fontes:

“Quatro Gigantes da Alma” – Emilio Mira y López;

Frederico Graeff – USP;

amban.org.br - Márcio Bernik e Fábio Corregieri;

gballone.sites.uol.com.br;

revista Veja;

revista CB Juris – Ano 1 – nº 2 – Junho 99 – Fernando Basile da Silva

Medo

A sabedoria “entrou no ar”:

a vida tem enredo!

Pequeno é o amor,

onde se espalha o medo.

Para a vida proteção,

como aviso do perigo.

Do homem, a imaginação

fez da Dádiva do Divino,

desordem da emoção,

que agiganta o pequenino.

Bailam suas máscaras

no carnaval da fuga:

prudência; tédio; modéstia;

timidez; vaidade; e mentira.

Desfilam suas fantasias

na passarela da agonia:

Pânico; terror; e fobias.

Basta! Aja e sorria.

Se crermos um dia

ser chispa do Divino,

o medo desapareceria

e a paz seria nosso destino;

o medo desapareceria

e o amor seria nosso destino.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 31/01/2010
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