Mais realista que o rei

Nesta semana, numa conversa doméstica com uma amiga fiquei estupefato com o seu relato. Seu marido, que também é professor, não havia obtido sua licença por motivo de doença porque seu médico recusava preencher o relatório de anamnese nos termos recomendados pelo Departamento Médico do Estado.

A questão, aparentemente simples e corriqueira, trouxe um problema enorme para ela.

De um lado, o referido médico alegando que ele tem a autonomia para realizar o seu relatório e assim o faria do jeito que achar mais conveniente e do outro, o Departamento Médico que insiste em não aceitar a não ser nos benditos termos requeridos.

Agora resta uma pergunta:

E, o terceiro lado?

Como fica?

Será que em nenhum momento alguém se preocupou com o professor que necessita de sua licença para tratamento de saúde, e que por “caprichos” acaba tendo a necessidade de deslocar-se seguidas vezes até São Paulo.

Infelizmente, ainda nos dias de hoje, com todos os aparatos tecnológicos, mídias globais, conversas “on-line”, ainda existem pessoas, que colocadas diante de um impasse, procuram cercar suas decisões ou uma simples tomada de posição, com tantas provas, ou garantias, ou formas específicas de apresentações de relatórios mais realistas que o próprio rei, que no mínimo tornam-se cruéis com quem deles necessitam.

Dentro desse contexto, talvez isso seja até mais corriqueiro do que imaginamos, os valores estão tão deturpados ou invertidos que determinadas pessoas passam avaliar umas às outras, talvez não pelas questões reais e necessárias, ou até mesmo, boas ações e honestidades, mas sim pelo que cada um dos julgadores apresentam, ou melhor, querem ostentar em seus meros cargos.

Eu diria até que essa inversão de valores está tão disseminada entre nós que é bem capaz de acharmos tão necessária a forma da apresentação de um simples relatório profissional que o seu conteúdo seja totalmente desprezado.

Realmente, certas pessoas ao exigir determinadas coisas, determinadas situações, valorizando em excesso as necessidades, na certa estarão sendo mais realistas que o rei.

Oswaldo Genofre

Supervisor de Ensino Aposentado

Atualmente, Secretário Adjunto de Educação e Cultura

(Artigo publicado no jornal Folha de Ribeirão)