AINDA HOMENAGEANDO SÃO PAULO
Glória Kreinz
Há críticas intermináveis a fazer no aniversário da cidade São Paulo e foram feitas.Mas como esta foi a cidade que José Reis escolheu para viver,trocando-a pelo Rio de Janeiro,e aqui morou com sua família, repousando hoje no cemitério São Paulo, querendo que seu acervo ficasse no Núcleo José Reis de Divulgação Científica da ECA/USP,que ele chamava nosso núcleo, só posso pensar com carinho na cidade que ele amou.E tem também Crodowaldo Pavan, que em várias entrevistas afirma que voltou para cá por amor...Assim, nosso legado será mantido, pois aqui é a casa deles, tentando manter a memória de um povo que as vezes esquece seus grandes nomes.
Meu amor por São Paulo descobri com Mário de Andrade, quando fiz minha tese de mestrado orientada por José Aderaldo Castello, mestre querido, que junto com Antônio Cândido fundou o Instituto de Estudos Brasileiros, o IEB, da USP.Li muito Oswald e Mário de Andrade e o coração acabou batendo paulistanamente, como Mário dizia...Ainda bate, o amor foi forte, e permanece...O poema de Marcelo Roque, homenageando São Paulo, me lembrou Mário, e o próprio Marcelo quando diz:
Indefinível amor
Se eu pudesse dizer a pessoa amada o quanto a amo,
isso não seria amor...
Porque amar é ter sempre a sensação que ainda há
muito a se dizer...
Marcelo Roque
E então ele disse tudo sem dizer, como é estilo seu, na poesia SÃO PAULO, MINHA SÃO PAULO
São Paulo, minha São Paulo,
que tão bem me acolhe em teus congestionamentos,
de praças perfumadas de asfalto,
e gente, que me sorri solidão
São Paulo, minha São Paulo,
que de tão grande perdeu-se de ti,
diga-me onde anda tua velha garoa,
além de aqui, dentro de mim
São Paulo, minha São Paulo,
de verde escasso e cinza abundante,
só quero que saibas que dentre tantos
sou apenas mais um que tanto te odeia,
tamanho o imenso amor que sinto por ti.
Marcelo Roque
Já Mário de Andrade, em Poemas da Amiga, que amo demais, disse muito, mas também deixando ainda algo por dizer:
POEMAS DA AMIGA
I
A tarde se deitava nos meus olhos
E a fuga da hora me entregava abril,
U m sabor familiar de até logo criava
Um ar, e, não sei porque, te percebi.
Voltei-me em flor. Mas era apenas tua presença.
Estavas longe, doce amiga; e só vi no perfil da cidade
O arcanjo forte do arranha-céu cor-de-rosa
Mexendo asas azuis dentro da tarde.(1930)MÁRIO DE ANDRADE
E assim a cidade de São Paulo entra pelos olhos/corações dos poetas, e seus arranhas céus inspiram odisséias de beleza, no concreto transformado em magia dentro das tardes, das chuvas, e das contradições...E os nomes dos homens que fazem sua história permanece em nós,pois aprendi com José Aderaldo Castello o gosto pela pesquisa e pela manutenção da tradição da memória nacional, como se faz no Instituto de Estudos Brasileiros, o tradicional IEB.