CONJUNTO DE APARTAMENTOS

Tenho um conhecido em um conjunto de apartamentos que morei que fuça a vida de todo mundo e sempre passa as novidades futriqueiras para quem se encontra com ele pela área do estacionamento e locais onde é comum ve-lo à sombra de uma castanheira perto do prédio onde é sindico. Seus comentários aguçam a curiosidade alheia:

- Aquela loira do 43 tá toda enrolada com o sindico geral porque a noite quando ela está nos romances grita demais e o caso já deu delegacia como ela paga aluguel, ele tá querendo botar ela pra fora. Já apertou o dono pra pedir o apartamento;

- Essa noite a polícia andou rodando pelo estacionamento e parece que tava procurando o filho daquele sapateiro do predio perto da portaria e ele já tem seis processos e semana passada vi dois detetives atrás dele com um mandado de prisão;

- A mulher do sindico do 54 está de caso com um cara que faz carreto lá na avenida e ele andou dando uns tapas nela como se fosse o marido que parece que ainda ta vendido;

- Os bombeiros vieram ai na terça feira e multaram doze prédios com irregularidades no sistema preventivo, parece que o elevador do 16 foi até interditado;

- Viu aquele fusquinha que tá estacionado com placa amarela perto do 19? Foi um funcionário de uma loja de móveis ali na pracinha que chegou fora de hora e a mulher dele estava do jeito que veio ao mundo com um boy do 22 mas ele não fez nada com ela, só virou pra trás e caiu fora e já faz 8 anos que não deu as caras e tem gente querendo comprar o carro faz um tempão;

- Roubaram um Del Rey no estacionamento e o ladrão ainda por cima pediu para o vigia ajudar a empurrar para fora da vaga, foi mandado embora pra deixar de ser ruim de serviço.

Tudo que acontecia era assunto primeiro dele depois de quem quizesse ouvir: despejos, prisões, brigas festas inoportunas que ele chamava a polícia escondido; Enfim o homem era o "Xerife" voluntário do conjunto e sempre aborrecia alguém com suas atitudes intrometidas, embora fosse dado a ajudar alguém ás vezes.

Apareceram u dia umas irmãs de caridade procurando uma senhora cuja criança esquecida num orfanato poderiam ser filhas dela e que possívelmente deveria morar no conjunto. Esbarraram no prédio do sujeito que afinal conhecia todos por ali: Tocaram a campainha e o moço as atendeu sem cerimonia com boa vontade peculiar, causando boa impressão. A primeira era de idade avançada com mais de sessenta e bonachona, não tinha dificuldade para rir; Já a segunda era quase menina de tão nova Seguia a outra por discipllina da ordem de onde não parecia querer outra coisa senão voltar pra lá. Mas ficou rizonha com a receptividade do morador que afundou pra cozinha dizendo que voltaria com um café. Só que um fato inusitado as fizeram cair fora com o triplo da rapidez que entraram no apartamento e o motivo foi uma visão que para duas irmãs de caridade seria o cúmulo dos absurdos pecaminosos. O sujeito estava, a despeito de ser casado (um casamento estranho que merece explicações mais adiante) numa foto de tamanho médio, nu e com os braços para cima, se era para ter o efeito Clark kent usava óculos apenas na foto e apenas os óculos. O constrangimento foi tal, que elas enfiaram dentro da kombi que as trouxe abandonando a busca de imediato não sem antes participar o sindico geral que não deu a mínima chegando a rir de tudo por ser chapa do moço que o ajudava a receber inadimplências.

Houve um tempo em que teve que mudar-se porque entregou uns caras perigosos de um conjunto lá pros fundos, entre o 36 e o 29 e chegou a sair uns tempos para um sítio para coisa ficar esquecida mas teve um que colocou um bilhetinho desaforado no carro dele e ainda esvaziou os pneus como aviso, Levou tempo para a coisa voltar aos trilhos e com essa não quis mais coisas assim não.

Antes de dar a coisa por encerrada por aqui vou ao casamento: Esse cara era casado com uma mulher bastante conhecida menos por ser popular do que pela espalhafatosidade das roupas e um par de óculos escuras que possivelmente não largava nem para deitar-se. Não tinha problemas financeiros e por isso chegava e saia de carro, embora não deixasse de manter a afabilidade e cumprimentasse todos que lhe cruzassem o caminho. Ela era na verdade uma pessoa agradável. O contraste era entretanto ver o marido o dia todo de calção e sandálias pelo estacionamento e a mulher sempre elegante saindo para o trabalho. Justificativa também havia pois ele era aposentado e o que fazia ali é possível que fosse também um trabalho.

Um belo dia circularam um periódico com um pessoal da terceira idade que sempre tirava férias e nele havia uma foto onde dois radiantes velhotes estavam abraçados num local paradisíaco como se de fato casados fossem de longuissima data propaganda para uma finalidade mas que atingiu outra. O velhote usava essa bermudas esportivas combinando com uma camisa de time de futebol e ium tenis super alegre que o tornava mais jovem. a velhota, nosssssssssa. a velhota era a mulher do sujeito futriqueiro e a reportagem indicava uma união de 20 anos. Ninguém comentou com ele até hoje o assunto e sempre há um com um rizinho maroto quando ele fala de algum caso de adultério ou romance debaixo da cerca de um ou outro, numa fila que ele entrou no final. O telhado dele também era de vidro.

Pacomolina
Enviado por Pacomolina em 28/01/2010
Reeditado em 28/01/2010
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