O Vazio - Uma das Telas da Vida
O Vazio que mais nos atormenta é o que nos deixa sem direção, sem chão.
Quando o coração sente o abandono e as lembranças já não preenchem o Vazio,
As belezas do corpo perdem as suas razões, a barba crescida, o banho por tomar, os cabelos por pentear, as roupas por escolher, o calçado por limpar, os desejos e os anseios do corpo se desfazem.
Presenças levadas pelo destino por ausências permanentes, amizades cortadas, namoros desfeitos, falsidades descobertas.
Fica um perfume no ar que nos parece enjoativo, fotos desfiguradas, peças de roupa que logo viram trapos de limpeza ou doação.
Ficamos sem rumo e o mundo segue indiferente, às vezes escarneia de nossos sentimentos colocando em nossa frente pessoas intensamente felizes como se a tristeza e a infelicidade só pertencessem a nós mesmos.
Por vários dias (ou meses?Ou anos?) nos deixamos levar à reboque dos dias que seguem.
Quando acordamos como de um pesadelo lá adiante, nos sentimos despreparados para reiniciar a confiança, o namoro, tornar o amor novamente o objetivo, reiniciar a vida outrora maravilhosa.
Em nossa mente permanece ainda emoldurados os piores momentos que pintamos em telas estáticas, de cores sem brilho e sem vida.
Em nossa galeria nem as janelas se abrem pois o sol pode destruir as nossas obras de arte que insistemos em expor ao mundo cruel.
Muitos nefastamente se recolhem às suas telas e se expõem embaixo dos viadutos, das marquises e se tornam eles mesmos a obra-prima.
A dignidade humana deve ser a primeira pintura a ser inserida nas telas da vida e a última demão nesta tela será dada pelos pintores que devemos ensinar para combinar as cores do mundo.
Triste é ver que muitos destroem as suas personalidades por má conduta ou são abandonados pelo caminho a sua própria sorte e projetam então, no fundo de suas telas, as cores negras com o brilho intenso da morte que não nos deixam mais ver os seus vestígios e nem nos deixam sentir saudade.