Cearês: “Uma Forma de Expressão”
Cearês: “Uma Forma de Expressão” William de Oliveira
Quem é que nunca ficou com abuso na frente de um “abestado” bebo botando boneco? “Arre égua”, eu num gosto destas coisas. Eu “tava nu meu canto queto” e o “fidumaegua” do Severino que “tava bebo” ficamos “insutando” comigo, parecia até possuído pela coisa ruim. “Valha me Deus que diabeisso?” Vou sai daqui que esse “maxu” tá me deixando “aperreadim”. O que poderia parecer uma outra língua para uma pessoa que nasceu fora do Ceará soa como leque de reclamações feitas por um cearense típico e usuário do "cearês". Esse por sua vez se trata de um idioma criado paralelamente ao português, nossa língua de origem. E deu ao povo do Ceará uma característica peculiar em seu modo de se expressar. Ainda tema de muitas gargalhadas, o "cearês" vem, com o passar dos anos, conquistando novos adeptos e teve direito até mesmo a um dicionário, explicando da forma mais “engraçada” tudo o que é dito por um povo que, em quase tudo, se diferencia dos demais brasileiros.E não se engane. O "cearês" é falado em todas as classes. Seja a pessoa culta ou não, em momentos de “apurrinhação”, sempre pergunta que “diabêisso”? Ou mesmo liga “pra” um mecânico reclamando que ficou “no prego”. Eu mesmo, estudante de jornalismo e pré-concludente, fiquei muito tempo, “doidim”, para escrever essa notícia e não sabia como, de preto que sou, fiquei até amarelo queimado de tanto pensar. Mas acho que o recado “ta” dado e agora vou “capar o gato pra faculdade, se não a fêssora me bota na maior cruzeta”.
Cearês: “Uma Forma de Expressão” William de Oliveira
Quem é que nunca ficou com abuso na frente de um “abestado” bebo botando boneco? “Arre égua”, eu num gosto destas coisas. Eu “tava nu meu canto queto” e o “fidumaegua” do Severino que “tava bebo” ficamos “insutando” comigo, parecia até possuído pela coisa ruim. “Valha me Deus que diabeisso?” Vou sai daqui que esse “maxu” tá me deixando “aperreadim”. O que poderia parecer uma outra língua para uma pessoa que nasceu fora do Ceará soa como leque de reclamações feitas por um cearense típico e usuário do "cearês". Esse por sua vez se trata de um idioma criado paralelamente ao português, nossa língua de origem. E deu ao povo do Ceará uma característica peculiar em seu modo de se expressar. Ainda tema de muitas gargalhadas, o "cearês" vem, com o passar dos anos, conquistando novos adeptos e teve direito até mesmo a um dicionário, explicando da forma mais “engraçada” tudo o que é dito por um povo que, em quase tudo, se diferencia dos demais brasileiros.
E não se engane. O "cearês" é falado em todas as classes. Seja a pessoa culta ou não, em momentos de “apurrinhação”, sempre pergunta que “diabêisso”? Ou mesmo liga “pra” um mecânico reclamando que ficou “no prego”. Eu mesmo, estudante de jornalismo e pré-concludente, fiquei muito tempo, “doidim”, para escrever essa notícia e não sabia como, de preto que sou, fiquei até amarelo queimado de tanto pensar. Mas acho que o recado “ta” dado e agora vou “capar o gato pra faculdade, se não a fêssora me bota na maior cruzeta”.
Paulo Diógenes
Paulo Diógenes ficou conhecido com a personagem Raimundinha, que nasceu para o mundo em 1986, mas oito anos antes ele já havia estreado no teatro, em uma peça chamada (O Padre, O Podre). (A Raimundinha) é bem a cara do humor cearense e é difícil não associar um ao outro, afinal, os dois cresceram juntos e hoje já atingiram a maioridade. É, claro que eles ainda têm muito a aprender, no entanto, é inegável o valor de ambos. Paulo Diógenes ganhou outra filha há uns três anos atrás. (Catita) veio com o programa Beco do Riso, da TV Diário, e não tem quem não caia na gargalhada com os bordões (morra e posso desabafar). Confira então a entrevista exclusiva que Paulo Diógenes concedeu ao Portal Verdes Mares. - Rodrigo Santiago
SEGUE A ENTREVISTA FEITA COM O HUMORISTA PAULO DIÓGENES DA
NOVA SAFRA DO HUMOR CEARENSE.
Seu começo no humor foi natural?
Eu fazia teatro e estreei no teatro em 1978, na peça (O Padre, O Podre) com o pessoal da faculdade de Comunicação da Federal (curso de Comunicação Social da UFC), que se uniu para encenar essa peça. Mas o elenco não se formou todo, então eles me chamaram para fazer uma participação nesse espetáculo, e eu aceitei. Quem trabalhava nessa peça era a Anita Teixeira, o Nonato Albuquerque, são as pessoas que hoje estão na televisão também. Essa foi a minha primeira experiência com teatro, em 1978. O humor veio em 1986. Eu comecei a fazer humor porque eu achava que não tinha grupo de comédia no Ceará naquela época. Então eu montei um espetáculo de comédia, chamado (O Que Vocês Não Vão Pensar) e aí a dona de uma casa noturna que ficava ali na Abolição com Barão de Studart, assistiu ao espetáculo e se interessou pelo meu trabalho e me chamou para eu fazer show lá, dia de quinta-feira. Naquele tempo não existia humorista trabalhando em bar. Dentro do espetáculo eu fazia um papel que era de uma mulher que levava a filha para fazer um teste num cabaré, e a filha era crente, e mesmo assim ela mandava a filha fazer striper e tudo. Foi aí que surgiu a Raimundinha, porque eu fazia uma (mãe muito doida), que levava a filha careta para um cabaré e mandava ela imitar a Gretchen. Estava no auge da Gretchen. Então ela assistiu ao espetáculo e me convidou e foi daí que surgiu o humor, em 86.
A Raimundinha é o personagem que você mais gosta de interpretar?
É o que tem maior identificação com o público?
Quando eu fiz o laboratório do personagem Raimundinha, eu me inspirei muito naquelas mulheres de subúrbio, aquelas mulheres ignorantes, no sentido da palavra mesmo, aquelas mulheres puras, que chegam dentro do ônibus, começam a falar com você falando alto, sem estarem preocupadas se alguém está ouvindo e dão um beliscão no filho, sem estarem preocupadas se alguém está vendo. Não deixam para beliscar em casa, como geralmente acontece. Quer dizer, a minha inspiração da Raimundinha foi nessas mulheres. E eu adoro a Raimundinha. Só que de uns tempos para cá, de uns três anos, por conta do meu programa da TV Diário, o Beco do Riso, tá surgindo um personagem que as pessoas estão começando a identificar mais, que é a Catita, uma bichinha, do subúrbio também. Muito do sucesso hoje do Beco do Riso se deve à Catita. E as pessoas quando me encontram hoje, me associam mais à Catita, porque tiveram esses bordões que pegaram aqui em Fortaleza que são o (morra e o posso desabafar). A Raimundinha, eu adoro, mas eu acho que todo personagem que eu faço tem a sua vida própria independente da minha vida. E os personagens para mim são como filhos, eu tenho amor igual a todos, não tem preferência, todos eu amo do mesmo jeito.
- E como surge a inspiração para criar o humor e para criar os bordões?
Para criar o humor eu pego a coisa engraçada que cada pessoa tem e faço em uma pessoa só. Tem uma pessoa que tem o olhar engraçado, eu pego o olhar, tem outra que já olha normal, mas falo engraçado, eu já tiro o jeito de falar. O andar... quer dizer, você tira cada coisa engraçada e junta numa pessoa só. As personagens de humor todas surgem assim.
- A Raimundinha recebe muitas cantadas nos shows?
Um homem para dá uma cantada na Raimundinha tem que estar dez anos sem ver uma mulher. Tem esse negócio de dizer que o cearense é machista, que o homem cearense é machista, eu acho que isso diminuiu muito depois que começou o humor no Ceará. Porque eu sou um homem que se veste de mulher para virar a Raimundinha e tem também a Catita que é um gay. As pessoas sabem que eu sou um ator, não acham que é coisa de gay. Todo mundo adora, chegam e dizem que adoram. Eu acho que o preconceito maior hoje tá no sul, quando você chega num programa nacional para fazer a Raimundinha, dizem que é uma drag-queen, um bicha, eles não fazem essa diferença. O cearense, por incrível que pareça faz.
- Qual foi a sua maior gafe em cena?
Eu sou uma pessoa desligada, completamente desligada. Então eu já entrei uma vez todo maquiado de Raimundinha sem batom e em Sobral eu entrei sem peruca. Quando eu entrei, o cara da banda me chamou de volta para eu colocar. Então há uns oito anos eu tenho camareiro, porque eu sou capaz de entrar sem nada, eu me perco totalmente, porque eu sou muito desligado. Então a maior gafe foi entrar em cena todo maquiado e sem batom. Eu trabalhava com o Ciro Santos, que começou a rir e eu não sabia o que era.
- Qual a diferença de trabalhar na televisão e no teatro?
Eu trabalho em televisão, em teatro, em rádio, onde eu participo do forrozão 93, com Gleudson Rosa, e tem o bar, que são quatro coisas completamente diferentes. Mas o que eu me identifico mais é com o teatro, a televisão eu acho muito frio, diferente do teatro. Quando você chega na televisão o resultado não é de imediato. Mas na televisão você se surpreende. Às vezes você faz um programa e acha que foi maravilhoso, porém quando vai ver foi uma droga. Já, às vezes, você acha que foi uma droga e no ar fica maravilhoso. Quer dizer, na televisão o resultado não depende só de você, depende do som, da edição, da iluminação. Depende muito de equipe, no teatro não. Você está ali só e apenas depende de você. Eu gosto muito de teatro. Bar eu gosto, eu comecei em bar. O surgimento do humor no Ceará ocorreu em bares, mas no teatro, só o fato das pessoas irem, pagar, ir lá só para ver você, faz um trabalho muito mais artístico.
- Qual a maior diferença do humor cearense do seu começo para agora?
Quando eu comecei não existia humorista, não existia platéia para o humor. Quer dizer, eu não era bom, mas a platéia também não era exigente. Então eu considero que eu fui crescendo com o público. Eu chegava num bar, tinha 30 pessoas, no outro, tinha 100, 200, e eu fui melhorando. E eu tive muita sorte, porque o público cearense se tornou muito exigente para o humor. Tem 40 pessoas querendo fazer humor, mas o público não quer esperar que o ator amadureça. Então eu tive muita sorte de amadurecer junto com o público.
- Qual a maior qualidade e o maior defeito do humor cearense?
Eu acho que a maior qualidade é a espontaneidade. O maior defeito é que o humor cearense precisa deixar de curtir com a cara das pessoas que vão assistir. Eu acho isso muito feio. Tipo assim: (olha que cara feio). E o cara é feio mesmo. O óbvio no humor é muito feio. O engraçado no humor é o não óbvio. Assim, você vê o gay e diz: (olha o gay). Isso está errado. Você tem que pegar o mais macho e dizer: (olha o gay). Isso é que é humor: uma brincadeira, sem agredir. Isso já mudou muito, mas teve uma fase do humor que as pessoas deixavam de ir a um show com medo que os humoristas mexessem e até humilhassem. Eu acho que melhorou muito, todos, eu assisti agora, e na maioria dos shows estão parando com isso, até porque tava se tornando nacional essa história.
- Há quanto tempo você está conseguindo viver do humor?
Eu era bancário do Banco do Estado do Ceará. Larguei o banco em 89. Estou há treze anos vivendo só do humor. Mas quando eu saí do banco, o humor não me dava dinheiro. Larguei o banco achando que ia conseguir viver. Não era nem com o humor, era com o teatro. Eu sou ator, tenho formação teatral e eu achava que eu ia viver simplesmente, humildemente com o teatro.
- De onde surgiu a idéia de lançar um livro voltado para o público feminino?
A idéia de lançar o livro nasceu porque eu acho o universo feminino uma coisa muito bonita, eu acho uma coisa super massa a mulher. Eu estava assistindo uma vez uma entrevista no Jô e um cara disse que os homens, para cuidarem melhor de suas mulheres, deviam se feminilizar. Não era virar gay, era se feminilizar. Por quê? Porque as mulheres prestam mais atenção nas coisas, as mulheres são mais harmonizadas. Eu pensei assim: (gente, por que nunca ninguém escreveu um livro falando só sobre mulheres? ´) O livro (“Raimundinha metendo o pau nos homens”) é uma reverência à mulher, é a valorização dela, como ela deve se comportar, perguntas que as mulheres querem fazer aos homens, mas nunca tiveram coragem. Quer dizer uma auto-ajuda mesmo, com humor. Eu não sei escrever, eu tinha a idéia e peguei a Verônica Nicolau, que é pedagoga, e é a redatora do programa (O Beco do Riso). E eu disse para ela que eu ia falando e ela ia escrevendo. A gente fez pesquisa, distribuiu questionário. Foi um livro que durou quase um ano para ser feito. É um livro para mulher mesmo, com humor, que fala de coisas sérias e coisas bonita, em relação à mulher.
- Qual é o sonho do Paulo Diógenes no humor?
Eu aprendi a viver cada dia, meu dia muito bem vivido. Isso é meu lema de uns anos pra cá. Quer dizer, eu quero cumprir com as minhas obrigações hoje, não fazer mal a ninguém e pronto, o retorno vem. Eu não tô preocupado com o que vai acontecer daqui a cinco anos e o que foi que aconteceu há cinco anos atrás. Eu estou preocupado com o que é que eu tô fazendo hoje, e quero fazer muito bem feito agora. Porque não adianta, a vida é como dizia a novela, já tá escrito, e eu acredito muito nisso.
- Você aconselha alguém a seguir a carreira de humorista?
’Olha’ ‘eu’ - acho uma profissão muito valiosa, eu me sinto muito feliz. Eu acho que o humor é uma terapia e isso foi provado cientificamente. Quando você sorri, mexe com não sei quantas partes do rosto, do cérebro. Eu já escutei histórias como a de uma menina do Direito que estudou muito, ficou doente e teve que fazer tratamento psicológico. Durante o tratamento, o pai a levava para os meus shows e ela acabou ficando boa. Tem muitas histórias que o pai morre e os filhos levam a mãe para ver os meus shows, e quando sai tá se sentindo bem melhor. Então eu acho que é uma gratificação muito grande você saber que durante uma hora você fez as pessoas esquecerem mágoa, rancor, dívida, problemas, quer dizer, é uma profissão muito bonita. Eu acho até que as pessoas deviam se tocar quando elas chamam outra pessoa de palhaço. O político rouba e o chamam de palhaço. Palhaço é uma profissão tão bonita, tão legal, tão pura, deveriam chamar outro nome.
ANTONIO pAIVA rODRIGUES-ESTUDANTE DE JORNALISMO DA fgf