Um mundo que queremos compreender

Quando vejo alguém morrer em um acidente da natureza, fico me perguntando: Como seria a vida daquela pessoa que morreu quando sua casa foi soterrada em um desabamento, na encosta de um morro? Sua vida interrompida ali, seus planos, seus sonhos, suas tristezas, tudo se dissipa em segundos, um nada se apodera daquela vida, o abraço de um destino fatal.

E pensar que talvez se não fosse o desastre natural, como o terremoto que aconteceu no Haiti, aquela jovem que morreu nos escombros de algum prédio, se formaria em Jornalismo e deixaria o país para cobrir quem sabe em uma rede nacional de TV, como correspondente um evento em algum lugar distante dali, quem sabe em Paris.

Pensei também naquele jovem em Santana do Cariri no Ceará, que preparava a terra da sua família, para a plantação que se aproximava com a chegada das chuvas, e do nada, atingido pelo raio caiu desfalecido. Em segundos a natureza tão misteriosa levou uma vida que poderia ter um futuro magnífico.

Existem também os fenômenos da natureza humana. O caso da menina Alanis Maria em Fortaleza; que assistia a missa com sua mãe em uma igreja no bairro do Conjunto Ceará e que na hora que a mãe tirou a vista da menina em questões de minutos para dá o abraço da paz, costume religioso; se surpreendeu ao vê que a filha havia sumido.

A procura foi grande, a imprensa local toda está fazendo a cobertura, a polícia a procura, a mãe fazendo um apelo emocionado. Nada adiantou o corpo da menina foi encontrado em um matagal, em um bairro próximo. O assassino, Luis Carlos, criminoso que já havia cometido outros crimes sexuais e que fora colocado em liberdade provisória, sem uma avaliação psicológica adequada, agora voltava para a cadeia.

Se ele não tivesse sido solto, talvez Alanis estivesse viva, crescesse, se casasse, teria muitos filhos, poderia ser deixada pelo marido e entraria em estado de depressão, morresse de overdose de medicamentos controlados. Não se saberia ao certo o futuro, mas ela teria uma oportunidade de viver, se não tivesse acontecido essa fatalidade.

Outro acontecimento que me chamou a atenção foi o borracheiro de Goiás, que não aceitava a separação da sua companheira, que tinha um salão de beleza, próximo da sua casa. As gravações telefônicas o mostraram exigindo que ela saísse da casa dele, sendo bastante claro que a mataria, caso ela não cumprisse o que ele queria.

A autoridade que passou na reportagem de televisão disse claramente que a lei Maria da Penha, a protegia, exigindo certa distância por lei que o borracheiro tinha que ficar do estabelecimento da cabeleira. Mas a lei a protegia apenas teoricamente, pois não existia nem uma proteção policial a cabeleira.

Mesmo ela prestando oito boletins de ocorrência contra o acusado, nada o impedia de ameaçá-la. Ela colocou por fim um circuito interno no seu estabelecimento, sendo justamente esse equipamento que flagrou o seu próprio assassinato. Foram cenas fortes demais, fiquei arrepiado.

O borracheiro, por sinal um homem másculo, estilo de lutador de vale tudo, entrou tranquilamente no salão, conteve algumas clientes que tentavam fugir. Olhou para a ex-mulher que estava de pé, muito firme no olhar, com um braço apoiado em um equipamento do seu salão.

O primeiro tiro foi na boca do estômago, pois as mãos da cabeleira foram para frente da barriga, para tentar se defender. Mas era tarde demais, em questão de segundos, outros tiros foram disparados e ela estava lá no canto da parede morta. Um ato impensado destruiria aquela mulher que estava lá batalhando sua vida.

A vida é realmente inexplicável, não sabemos até onde poderemos ir, nem se gostaremos de como nossa vida será futuramente. Alguns falam que devemos viver cada minuto como se fosse o último. Isso é até interessante nos motiva, porém não conseguimos viver dessa maneira sempre, achando que na próxima esquina perdermos a vida, por isso se deve aproveitar ao máximo.

Vivemos felizes, tristes, meigos, arrogantes, com medo, frios, muitas vezes estamos meio perdidos na vida, ou presos a situações que não conseguimos nos libertar. A tragédia é inevitável, faz parte de uma engrenagem maior que não conhecemos ainda.

Carlos Emanuel
Enviado por Carlos Emanuel em 24/01/2010
Reeditado em 09/11/2015
Código do texto: T2048691
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