Em Memória à Tom

Divertido, inteligente, tão cheio de sensibilidade. Tom foi, é, e continua sendo uma das maiores referências da música popular brasileira. Sua primeira música gravada chamava-se "Pensando em Você". Praticamente ao mesmo tempo, em parceria com Neyton Mendonça, gravou "Incerteza". As duas foram gravadas em discos de 78 rotações, que hoje não existem mais.

O letrista Tom Jobim é autor de inúmeras obras-primas da música brasileira, como "Águas de Março", "Triste", "Fotografia" e outras que encantam até hoje pela simplicidade e criatividade de seus versos. Era também especialista em homenagear mulheres, reais ou imaginárias, com suas músicas. Entre as reais destaca-se "Teresa da Praia", feita em homenagem à esposa do escritor Fernando Sabino. "Todos os nomes de mulher que aparecem em minhas canções representam uma paixão. O truque é trocar o nome. E Maria a gente bota Joana; Ana, vira Lígia", disse Tom, uma certa feita em entrevista.

Apesar de apreciar muito as mulheres, Tom era um homem de sentimentos estáveis. Viveu 35 anos com Tereza Hermany até se apaixonar pela fotógrafa Ana Lontra, 38 anos. " No início Ana tinha medo de mim. Afinal eu ainda era casado", conta. Seu último disco foi lançado um pouco antes de sua morte, em dezembro de 1994. Nele Tom canta junto com sua filha caçula Maria Luíza de sete anos. Nesta mesma época, chegava às lojas o segundo volume do "Duets", em que o compositor brasileiro canta "Fly Me to the Moon" com Frank Sinatra, amigo de longa data.

Tom não era muito fã da tecnologia, não gostava de usar computador para escrever suas músicas. O máximo de avanço tecnológico que se permitia era um lápis japonês. Também usava um gravador pequeno, desses de pilha, quando compunha, para não esquecer o que havia pensado antes. "Os músicos antigos escreviam tudo o que tocavam, para não correrem o risco de esquecerem. " Não preciso ter todo esse trabalho porque uso o gravador. Também escrevo longe do piano, pois imagino coisas às quais as mãos ainda não se acostumaram. No computador, tudo já vem pronto, o que acaba levando à mesmice. Aí é melhor abandonar tudo e tocar violão no meio do mato", dizia ele.

Tom sempre achou muito esquisito ser considerado um gênio brasileiro e receber homenagens. Levou muitos anos trabalhando, e nunca foi muito de subir no palco, cantar em público. Isso sempre o constrangeu. Apesar disso, já enfrentou públicos de 30.000 pessoas, como no Maracanã num festival da Canção.

Uma das maiores emoções que Tom sentiu na vida, foi quando a Mangueira o homenageou no desfile de Carnaval de 1992. " Claro que uma manifestação popular daquele peso é muito emocionante. Passei minha vida toda dedicado ao samba e um dia vi todas aquelas pessoas gritando meu nome".

É por seduzir e encantar as pessoas, unindo três gerações com sua música para todas as idades, que Antônio Carlos Jobim deixa saudades, além de tantas outras coisas, e fica definitivamente registrado em nossa História. Esta grande marca em nossa cultura, fez eclodir um novo conceito de musicalidade, de vida e de poesia substancialmente representada...

*Citações do compositor, extraídas das Revistas Veja e Caras.