MEDO

Quando pensamos em medo, geralmente associamos a algo concreto que tememos, como medo de um animal, de uma situação , de um assalto, etc. Muitas vezes confundimos susto, ansiedade e medo. Entretanto, o susto refere-se ao perigo inesperado, é quando somos pegos de surpresa, não houve tempo de preparo para uma determinada situação”perigosa”. A ansiedade é a espera do perigo, ainda que desconhecido. O medo exige um objeto real ou imaginário de que se tenha temor.

As fobias referem-se ao medo mórbido ou patológico , ou seja, aqueles medos que escapam da razão e causam grandes limitações à nossa vida, pois não podemos controlar ainda que tenhamos consciência do absurdo de sentir medo diante de uma determinada situação, por exemplo estar dentro de um elevador. Por mais irracional que pareça, continuamos a sentir medo.

As fobias são classificadas de acordo com o objeto fobígeno (objeto ou situação que aparentemente causa o medo): Agorafobia ( temor a espaços abertos), claustrofobia ( espaços fechados), zoofobia ( animais), misofobia (sujeira), etc.

Mais do que classificar e explicar os diferentes medos, suas origens e suas formas de manifestação, pretendo abordar o aspecto mais sutil do medo e ao mesmo tempo o mais comum. O medo que todos nós , de alguma forma , carregamos ao longo de nossa existência. O medo quase que imperceptível, “invisível” até, porém, tão sofrido. O medo da vida.

Esse medo possui suas raízes muito profundas pois nasce junto com nossa própria construção de “ser”. Desde muito cedo vamos aprendendo a responder, de formas a sermos aceitos, a obter o amor de nossos pais( ou substitutos). Buscamos ser bons para obter o amor. Entenda-se bom o contrário de mau e mau “tudo aquilo que com a perda do amor nos faz sentir ameaçados”. Nascemos e permanecemos por muitos anos dependentes de nossos pais. Sem outro ser humanos que nos cuide, não sobrevivemos. Isso cria um padrão de comportamento extremamente dependente. Vamos nos adaptando para sermos aceitos e quando sentimos algo que não podemos expressar ou sentimos que não podemos porque isso decepcionaria os pais, negamos uma parte nossa e vamos construído um ser diferente do que realmente somos. Felizmente também esta construção é imperfeita e vão-se construído conflitos estruturais. Conflitos (“forças opostas em ação”) que podem aparecer de diferentes formas ( sintomas ), porque haverá sempre um conflito entre a parte autêntica e a parte adaptada. Pode parecer pouco para um adulto perder o amor de alguém, mas para uma criança é questão de sobrevivência. O medo da perda do amor vai cerceando nosso desenvolvimento, crescemos com a ameaça constante da rejeição.

Como uma planta que cresce em meio a muitos obstáculos, vamos crescendo e construindo nosso ser, muitas vezes com uma aparência bem diferente da natural. Com esse padrão vamos construir também todos os outros relacionamentos, ou seja, a cada novo encontro será revivido um “novo” medo. Exatamente por isso esse medo nos acompanhará até o momento em que possamos resgatar nosso verdadeiro self (Eu ).

Muitas pessoas não superam o temor da perda do amor e assim nunca tornam-se independentes do amor do outro. São comuns os relatos de pessoas que atribuem ao outro , a causa de sua infelicidade. Essas pessoas não percebem o quanto de responsabilidade têm por se colocarem nesta posição de dependência em relação ao outro. Na verdade nunca se libertaram da dependência infantil. “Vivem” hoje como se não sobrevivessem sozinhas.

De certa forma todos nós ao longo da vida, sempre teremos um nível de dependência em relação ao outro e talvez a questão que surja neste momento seja: Como vencer o medo e se tornar suficientemente independente ? Como viver mais, sentir mais se temos medo disso ? Acreditamos que é perigoso sermos levados por nossas emoções. Por isso erguemos defesas que acabam criando a condição que queremos evitar, como alguém que constrói uma fortaleza para se proteger e não percebe que se torna prisioneiro de sua obra.

“Nos tornamos covardes , com medo de sairmos da casca, medrosos de nos arriscarmos e morrer em nome da liberdade. Cada vez que pensamos em romper com a proteção e fracassamos, morremos novamente de medo. Romper a concha é arriscar à morte, mas ficar dentro dela é morrer em vida.”

Tentamos evitar a dor nos protegendo da vida, sem sentir as vezes, o quanto sofremos com isso. “Se conseguirmos nos entregar à dor descobriremos que ela se torna suportável e o processo natural de cura terá início.” É preciso Ter a coragem de correr riscos e buscar, de mergulhar na própria dor e recomeçar sempre.

“O amor da gente é como um grão, uma semente de ilusão. Tem que morrer prá germinar...plantar nalgum lugar... morre nasce trigo, vive morre pão...”

Gilberto Gil

Postado por Paulo Luiz Brum

Paulo Brum
Enviado por Paulo Brum em 22/01/2010
Código do texto: T2045066
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