O SENTIDO DA VIDA
Gostaria de inicia esta minha reflexão fazendo menção de um dos maiores personagens da história da humanidade. Seja no campo da Física ou no campo reflexivo filosófico, este personagem muito fez pela humanidade. Estou falando de Albert Einstein, a voz que nunca se cala. Em sua obra “Como vejo o mundo” ele faz ressalva sobre o sentido da vida, e eis a passagem:
"Tem um sentido a minha vida? A vida de um homem tem sentido? Posso responder a tais perguntas se tenho espírito religioso. Mas, ´fazer tais perguntas tem sentido?”Aquele que considera sua vida e a dos outros qualquer sentido é fundamentalmente infeliz, pois não tem motivo algum para viver." (EINSTEIN, 1981, p. 13).
É evidente que Einstein viveu em uma época diferente da nossa. E, é claro, que ele não era brasileiro. Mas se fomos analisar profundamente as suas palavras, poderemos concluir que o seu pensamento é vivo na pós-modernidade.
E é exatamente isso que se quer chegar com este texto: suscitar no leitor a refletir sobre o valor de cada sujeito em meio a outros distintos dele. Importante frisar que este texto não quer concluir o assunto aqui debatido como um “sistema fechado” ou, até mesmo, encerrar o assunto sobre o sentido da vida. É apenas, e somente, provocar o leitor a refletir sobre o valor e o sentido da vida. Uma pergunta bem pertinente é a seguinte: Será que viver tem algum sentido? Se tiver, vale a pena viver?
1 - Sentido da vida – liberdade ou censura?
Comumente pensamos que a vida só tem sentido quando conseguimos realizar alguma coisa ou alguém que almejamos. Por exemplo: Quando sonhamos com alguma coisa que muito queremos, é evidente que vamos colocar todos os nossos esforços em busca desse algo que muito queremos. O verdadeiro sentido da vida, se pode chamar assim, se dá dessa forma. Entretanto se pensarmos numa perspectiva einsteiniana veremos que a vida é entendida como algo totalmente simplificado. Os exemplos de uma vida totalmente voltada para o materialismo apenas nos dá tristeza. Isso nos torna escravos de objetos exteriores.
Obviamente que Einstein não vivia de brisas e nem de doações, mas o materialismo nunca foi um de seus prediletos perfis. Pois a liberdade era algo que Einstein prezava e muito queria, como bem podemos notar:
Recuso-me a crer na liberdade e neste conceito filosófico. Eu não sou livre, e sim às vezes constrangido por pressões estranhas a mim, outras vezes por convicções intimas. Ainda jovem, fiquei impressionado pela máxima de Schopenhauer: O homem pode, é certo, fazer o que quer, mas não pode querer o que quer; - e hoje, diante do espetáculo aterrador das injustiças humanas, esta moral me tranqüiliza e me educa (Ibidem, p. 10).
Porém, frente a esta afirmação, podemos fazer a seguinte questão: Qual o conceito de liberdade que o físico-matemático se descrever a presente afirmação? Quais são os pressupostos que ele se utilizou para poder afirmar que não se sentia livre?
De fato que ele, por ser dotado de grande fama tinha regalias por onde passava – muito embora não gostasse. Odiava o assedio dos repórteres e detestava dar entrevistas. Fato que pode comprovar isso é a sua festa de setenta anos de idade: Einstein estava rodeado de crianças quando, de repente, apareceu uma multidão de fotógrafos querendo uma imagem do físico. Ele, por sua vez, por a língua para fora, com o intuito de que parassem, de uma vez por todas, com aquelas fotos. Pobre Einstein, mal sabia que aquela foto iria se expandir e vigorar até hoje em livros e, até mesmo, em jornais.
Podemos, ai entender que ele não se sentia bem em sair para passear e, muito menos, para ir em festas. Pois, uma vez não gostando de ser assediado e, mesmo não gostando, vários fotógrafos de diversas revistas queria uma imagem do grande gênio. É claro que a sua liberdade era deixada de lado. Além do mais, a recusa e a ignorância nunca foram características de Einstein.
Dito isso, qual era o conceito de liberdade para Einstein? Podemos utilizar um exemplo bem claro para evidenciar, com clareza, o sentido de liberdade numa ótica einsteiniana. A educação é um dos modelos que o nosso nobre gênio ressalta como devedora de uma liberdade como tarefa do pensamento. Ou seja, como algo que deveria levar o educando a reflexão acerca da realidade que o cerca:
Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. (...) É preciso, enfim, tendo em vista a realização de uma educação perfeita, desenvolver o espírito crítico na inteligência do jovem (Ibidem, p. 30).
Liberdade é entendida, nesse sentido, como algo reflexivo. Ele era defensor de uma educação livre, que poderia levar o aluno a reflexão. Não obstante, Paulo Freire diz algo muito semelhante:
A experiência da abertura como experiência fundante do ser inacabado que terminou por se saber inacabado. Seria impossível saber-se inacabado e não se abrir ao mundo e aos outros à procura de explicação, de respostas a múltiplas perguntas. O fechamento ao mundo e aos outros se torna transgressão ao impulso natural da incompletude (FREIRE, 1996, P. 136).
Claro que Paulo Freire tinha uma concepção diferente bem diversa de Einstein. Mas, no que dizem respeito à forma de receber os conteúdos e deles mesmos se utilizarem, ambos são bem semelhantes. Afinal, a educação, tanto para este pedagogo quanto para o grande físico, deveria ser algo que levasse ao aluno a reflexão e ao prazer de aprender e ser educado. A educação, entendida como ensino, não se limita a mero conhecimento da história do que esta estudando. Mas sim na constante busca de aperfeiçoamento e no progresso do objeto pesquisado.
Como exemplo, podemos citar o próprio Einstein. Ele estudou durante seu tempo de faculdade os principais sistemas físicos vigentes de sua época. Mesmo conhecendo e admirando, não se limitou ao saber de como era ou como deveria ser entendida a ciência de sua época. Pelo contrário, aperfeiçoou a compreensão de ciência e mostrou uma nova compreensão de espaço e tempo (ROHDEN, 1958, P. 154)
Então, a vida para Einstein pode ser entendida como constante busca da felicidade. Do bem viver com os outros e com a sociedade. Estar em constante convivência com os outros. E fazendo o bem a todos sem qualquer distinção de raça, religião, nacionalidade, classe social, etc. É nítido concluir que se Einstein estivesse vivo até hoje diria que o mundo precisa de um “milagre” ou, até mesmo, de uma melhora radical.
2 – O homem e o sentido de viver
O que realmente a vida nos tem a oferecer? Viver tem realmente um sentido especial para àqueles (as) que delas são portadores? Essas e outras perguntas que penduraram a tradição humana no decorrer da história. Obviamente que as variedades de perguntas são diversas e, conquanto, jamais houve se quer consenso entre os estudiosos dessa temática. Todavia, todos eles, em diversas áreas do conhecimento, contribuíram tanto positivamente quanto negativamente para uma possível formulação de resposta para a então pergunta pertinente na pós-modernidade.
Poderíamos citar o exemplo de uma pessoa que muito trabalha e se esforça. Um trabalhador que muito luta pela sua sobrevivência. Que além de ter que se auto sustentar, tem uma família inteira para cuidar. Porém seu salário é muito baixo frentes as despesas que ele possui. E agora, com vai viver? Será que todos vão morrer de fome? Neste caso, somente neste caso, há alguma possibilidade deles serem felizes? É neste momento que podemos nos remeter a outra temática tão importante quanto a valorização da vida, a felicidade.
Etimologicamente, a felicidade possui um significado muito interresate: Significa contenta e sentimento de sucesso e êxito. Porém, no percurso histórico do homem, varias personalidades qualificaram a palavra felicidade de acordo com o próprio entendimento e noção da felicidade. Para não ficarmos vagando por pensamentos de variados autores, podemos nos reportar ao próprio Einstein. Certa vez, o perguntaram qual era a felicidade que abarcava o cientista. Einstein respondeu:
Ver com os próprios olhos, sentir e julgar sem sucumbir à fascinação da moda, poder dizer o que se viu, o que se sentiu, com um estilo preciso ou por uma expressão artisticamente cinzelada, que maravilha. Serás preciso ainda felicitá-lo? ( EINSTEIN, 1981, p. 52.)
Claro que ele refere-se ao cientista que se maravilha pela sua descoberta de alguma coisa. A primeira vista parece, e de fato é, dirigida ao cientista. Entretanto, se pegarmos este trecho solto na forma como se apresente acima, veremos que não é só o cientista o portador de destinatário desta pequena mensagem. E sim, qualquer pessoa, seja ela cientista ou não. Pois quando é dito ai que por uma expressão artisticamente cinzelada é manifestação exterior que Einstein esta se referindo. Para ao cientista seria a demonstração de um rosto aparentemente feliz. Com sorriso no rosto e olhos brilhantes de alegria. Para o não-cientista, será a mesma coisa: O rosto feliz pelo fato de ter conseguido alcançar alguma coisa ou, até mesmo, em ter conquistado aquela pessoa que tanto gosta.
Definir a felicidade como algo pronto e acabado, ou seja, um conceito válido em todas as culturas é uma tarefa difícil e, até mesmo, inútil. Como podemos perceber:
A primeira coisa a se perceber sobre a felicidade, eu acho, é que é inútil tentar defini-la em uma frase. (Um critico dessas definições vazias observou que elas funcionavam por “definir felicidade como desejar o que você deseja e conseguir o que consegue na esperança que os dois coincidam”) Há muito mais perguntas que respostas nessa área particular do campo filosófico , ,e devemos aprender a aceitar isso. Nenhuma frase que começa com Felicidade é... tem grandes chances de nos ajudar muito. (KINGWELL, 2006, P. 28)
Definir uma palavra tão extensa de significados é uma tarefa difícil e impossível. Talvez seja de grande valia a possibilidade de usá-la para diversas reflexões pertencentes a sociedade atual.
Neste caso, voltemos ao exemplo posto no inicio dessa parte. Podemos nos perguntar: Essa família é feliz? Existe uma possibilidade dela ser feliz? Possivelmente muitos responderiam: Ah, se o pai dessa família ganhasse o suficiente para sustentar a família, esta seria mais feliz. Até que sim, pois um aparte dos problemas seria resolvido. Mas ai caímos em outra armadilha: O único problema da família é a falta de dinheiro ou tem outras questões que a impedem de ser felizes? Se tiver outro(s) problema(s) que perturbem a família, com certeza o aumento do salário não resolveria muita coisa.
É mais do que evidente, a vinda de dinheiro resolveria parte dos problemas, mas ao tudo. Se assim fosse, os milionários do mundo todo viveriam tranquilamente. Afinal, problemas sejam de uma proporção pequena ou grande, todos tem. Claro que uns mais outros menos. Mas presente em todos os lares. Onde há ser humano sempre há problemas e, ao mesmo tempo, resolução de tais problemas.
3) Afinal, vale a pena viver?
Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.(Fernando Pessoa)
Esse tipo de pergunta deveria ser motivo de constante reflexão. É um tipo de questionamento que pode levar cada indivíduo. Se tiver respostas ou isso, de fato, cabe a cada qual descobrir por si só.
Poderia, neste humilde texto, explicitar vários fragmentos que sugerem alguma resposta a pernitente pergunta. Mas nada adiante se cada um não se por a se questionar e ver se a sua própria vida tem algum valor ou não. Gandhi expresa muito bem isso:
O homem não tem que obedecer a ninguém senão ao seu próprio EU. (...)
A minha vida é um Todo indivisível, e todos os meus atos convergem uns nos outros; e todos eles nascem do insaciável amor que tenho para com toda a humanidade (ROHDEN, 1958, p. 152)
Com essas palavras, Gandhi entende que a vida é um conjunto de ações que devem ser exemplos de humildade e simplicidade. Não há prova maior de humanidade do que servir ao outro sem querer nada em troca. Ajudar os outros por ajudar, puro simplesmente, esta é a grande lição que este grande místico nós deixou: Ser irmãos uns dos outros, praticando sempre a bondade e expressando a humildade.
Outra grande personalidade é o teólogo Leonardo Boff que nos sugere a tomar cuidado com a nossa postura frente à vida, eis o que ele mesmo diz:
Devemos todos beber da própria fonte. Auscultar nossa natureza essencial. Consultar nosso coração verdadeiro. Essa dimensão fontal deverá suplantar a desesperança imobilizadora e a resignação amarga. (...) Criará um novo sentido ético e moral. Propiciará uma nova razão, instrumental emocional e espiritual que transformará a ciência, a tecnologia e a crítica em medicinas para a Terra e para a humanidade. Uma nova ética nascerá de uma nova ótica.
É neste sentido que finalizo esta pequena reflexão lançando um desafio que o meu caro leitor esta convidado a realizar. De cada qual pensar em sua própria vida e ver se, de fato, vale a pena viver. Ou, para ser mais prático, se a vida tem algum sentido, frente aos desafios que a mesma nos impõem.
CONCLUSÃO:
Concluir um texto que não tem por finalidade encerrar o assunto é de suma dificuldade, visto que este assunto pode gerar variados tipos de reflexões diversas, por ângulos diversos. Mas uma conclusão, se assim puder ser chamada, é de que cada sujeito vive a própria vida da maneira que o convir, da maneira que os meios externos a ele o permitem. A felicidade depende da ação humana, seja por meio da política ou por qualquer ação que envolva o ser humano.
Viver é mais do que existir fisicamente, é externar o que a própria interioridade o caracteriza. A vida material um dia deixará de existir para uma dada pessoa, mas as suas obras sempre estarão vivas na humanidade. Exemplos disso são na literatura, nomes como: Machado de Assis, José de Alencar, Lima Barreto, Jorge Amado, etc. Essas pessoas não estão presentes fisicamente, mas as suas obras para sempre viverão. Obras não significam, apenas, livros ou escritos filosóficos importantes, mas é a ação que tal pessoa realizou que valerá por toda a eternidade.
BIBLIOGRAFIA:
BOFF, Leonardo. Saber Cuidar. Petrópolis: Vozes, 2003.
EINSTEIN, Albert. Como vejo o mundo. Tradução de H. P. de Andrade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educacional. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (coleção Leitura)
KINGWELL, ,Mark. Aprendendo felicidade: todas as tentativas de Platão ao Prozac. Tradução de Edmundo Barreiros. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2006
ROHDEN, Huberto. Mahatma Gandhi: o apóstolo da Não-Violência. São Paulo: Martin Claret, 1958 ( editado por esta editora em 2007)