A MAÇONARIA E O ILUMINISMO

A Maçonaria tem como característic a a sua forma universal, por ser uma sociedade que aceita a afiliação de todos os cidadãos que se enquadrarem na qualificação "livres e de bons costumes", qualquer que seja a sua raça, a sua nacionalidade, o seu credo, a sua tendência política ou filosófica, excetuados os adeptos do comunismo, porque seus princípios filosóficos fundamentais negam ao homem o direito à liberdade individual da autodeterminação.

Essa universalidade não implica a Maçonaria em ter um poder administrativo soberano centralizado, nem mundial nem supranacional, e nem significa que tenha princípios doutrinários ou filosóficos universais de aceitação obrigatória por parte de seus membros. Os únicos princípios filosóficos ou doutrinários, se é que assim se pode denominá-los, são a crença em um Ser Supremo (GADU - Grande Arquiteto do Universo) bem como na crença da sobrevivência do Espírito, sem nenhuma definição que identifique esses conceitos ou essas crenças, em relação a determinada filosofia ou a determinada religião.

A definição desses dois postulados é deixada ao livre arbítrio de cada Maçom, de forma a não interferir em suas convicções ou tendências pessoais.

Acredita o Maçom na existência de um DEUS único e Supremo.

E, esse Ser Supremo, é habitualmente referido na Maçonaria como o Grande Arquiteto do Universo, uma expressão que, apesar de conter os atributos físicos Grande e Arquiteto, não privilegia nenhuma concepção de Deus em particular. Grande Arquiteto do Universo, tem para os Maçons apenas um significado simbólico, o da unificação sob um só conceito, da geração de todos os seres pela contínua atuação das leis que governam o Universo. Dar-lhe uma interpretação diversa ou menos ampla, seria prestigiar uma ou outra corrente filosófica, contrariando o princípio de neutralidade maçônica.

Dessa forma, não tem a Maçonaria um centro ou um órgão administrador supranacional ou mundial, apesar de ter órgãos administrativos regionais, com jurisdições geograficamente definidas, chamados potências. Sua atribuição exclusiva é manter a unidade das lojas, regulando sua organização administrativa, definindo as regras do relacionamentos delas entre si e com seus membros e destes entre si. Todas essas potências maçônicas, são também absolutamente independentes entre si, e todas tem seus próprios estatutos e os seus próprios regulamentos.

Potências e Lojas são autônomas, somente em sentido administrativo, mas nem os Grão-Mestres e nem os Mestres das Lojas podem se pronunciar em nome da Maçonaria Universal. Mas, desde que para isso estejam oficialmente autorizados por suas Assembléias, podem se pronunciar oficialmente sobre desenvolvimento dos seus trabalhos, na escolha da forma e do direcionamento de suas atividades sociais e culturais. Isso equivale a dizer que os Grão-Mestrados e os Mestres das Lojas sempre seguem a tendência da maioria de suas assembléias. Essa autonomia, impede que as decisões particulares se transfiram a outros Grão-Mestrados e a Mestres de outras Lojas.

Essa definição de Maçonaria permitiu, que em tempos passados algumas lojas, ou grupos de lojas, se pronunciassem a favor da república e outras lojas ou grupos de Lojas a favor de reinos constitucionais como, por exemplo, aconteceu no Brasil durante o segundo Império. Mas essas posições, aparentemente divergentes, atendem às aspirações da liberdade maçônica, porque ambos os mencionados sistemas políticos, limitam os poderes de seus governantes máximos, o presidente ou o rei.

Portanto, não tem sentido a hipótese de que uma recíproca influência Iluminismo/Maçonaria, tantas vezes alegada por igrejas cristãs para condenar a Maçonaria, possa tê-la levado a ser anticristã. Mesmo que a maioria dos membros de determinada loja possa ser de iluministas não cristãos, devem eles respeitar a minoria quanto ao direito à sua própria convicção filosófica ou religiosa.

Na verdade, pode ter acontecido no correr da História da Maçonaria Moderna, que uma ou outra loja tenha sido formada por uma maioria iluminista dominando a administração e impondo seu ponto de vista. Mas são exceções raríssimas que habitualmente se corrigem, tanto pela alternância anual das administrações das Lojas, como pela constante mudança das concepções filosóficas, uma das características do livre uso da razão.

Algumas igrejas cristãs, insistem nessa ligação como algo condenável, por concluírem afinal que a Maçonaria teria absorvido do Iluminismo, a idéia central de submeter ao crivo da razão todos os aspectos do conhecimento, o que demonstraria a oposição Maçonaria/Religião, por considerarem que o livre pensamento é o inimigo da fé, por excelência. Mas isto não acontecerá, porque os livres pensadores jamais predominarão na humanidade.

Um apoio espúrio a esse ponto de vista, recebem essas igrejas em afirmações historicamente incorretas, como a contida na Enciclopédia Mirador internacional sob o verbete "Iluminismo", onde diz: "Entre os sucessores do Iluminismo está a Maçonaria" (v. 11, p. 5.982). Evidentemente, o redator do texto explicativo do verbete não procurou instruir-se em fontes fidedignas, pois origens da Maçonaria são anteriores aos primeiros movimentos Iluministas.

Na verdade, pode a Maçonaria ter sofrido influência dos Iluministas, mas essa influência foi temporária, pois no mundo atual a maioria absoluta dos Maçons é de cristãos.

Contrariando essa afirmação enciclopédica, afirma-se que foram os Iluministas que se filiaram às Lojas Maçônicas, como um lugar seguro e intelectualmente livre e neutro, apropriado para a discussão de suas idéias, principalmente no século XVIII, quando os ideais libertários ainda sofriam sérias restrições por parte dos governos absolutistas na Europa. Por isso não se pode negar, que certamente a Maçonaria pode ter contribuído para a difusão do Iluminismo e que este por sua vez, possa ter contribuído para a difusão das lojas maçônicas.

A Maçonaria contudo, não adotou e nem incorporou teses de origem iluminista aos seus dois princípios básicos anteriormente referidos, e nem o poderia ter feito, pois isso comprometeria o seu postulado de universalidade. Assim, a Maçonaria pode ter contribuído apenas indiretamente para o crescimento dos movimentos iluministas, por congregar seus seguidores e pô-los em contato direto entre si, na mesma forma do acontecido com os constitucionalistas, com os republicanos ou com os liberais. Nem por isso, a Maçonaria se tomou iluminista, constitucionalista, republicana ou liberal, por princípio.

Mas essa preocupação das Igrejas, é uma perda desnecessária de energias, pois menos de um por cento das pessoas de fé, teriam a necessária cultura filosófica para racionalizar seus princípios de fé. E ainda mais, das pessoas que teriam essa capacidade, talvez menos de um por cento, teria a necessária coragem para faze-lo. Restaria uma ínfima porcentagem de pessoas, talvez menos de 0,01%, a colocar eventualmente sua fé em perigo, se é que essa percentagem, mesmo tão ínfima, chegue a tanto.

Não se definirá aqui o que é Maçonaria, porque o assunto foi exaustivamente tratado na obra MAÇONARIA HISTÓRIA E FILOSOFIA. Discorrer-se-á somente sobre o Iluminismo, cuja essência é freqüentemente mal compreendida e cujos movimentos nem sempre são percebidos, e lamentavelmente, porque é um movimento intelectual que todo o Maçom deveria conhecer. Foi o Iluminismo que despertou a humanidade para o uso da razão, em todos os campos do conhecimento.

Isso contudo, não o torna um inimigo das religiões, porque devido ao seu diminuto número, os homens pensantes jamais destruirão qualquer religião. Poderão, quando muito influenciar um ou outro membro isoladamente. São muito raros os homens em condições de discutir temas filosóficos.

Mendes Neto
Enviado por Mendes Neto em 19/01/2010
Código do texto: T2039645
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