Maria José Aranha de Resende
Muito há que se dizer de Maria José Aranha de Resende, ‘a cigarra que mais alto canta no planalto paulista’, no dizer de Olegário Mariano.
Nascida em Santos em 2 de outubro de 1911, a escritora veio a falecer em 17 de junho de 1999, aos 88 anos, dormindo. Era conhecida entre os amigos por Zezinha, a poetisa das rosas, pois esta sua flor preferida inspirou-a para muitos poemas e deu nome a seu primeiro livro: Rosa Desfolhada. Zezinha era cronista do jornal A Tribuna, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santos e fundadora da Academia Santista de Letras. Foi a primeira mulher a ser admitida em uma entidade literária, e isto aos 17 anos de idade. Suas influências poéticas foram poetas com quem conviveu muito de perto: o tio-avô Vicente de Carvalho, Martins Fontes, Paulo Gonçalves, Ribeiro Couto e Martins Fontes.
A cidade de Santos a homenageou em 1974 outorgando o título de Cidadã Emérita a esta poetisa apaixonada por sua terra, que nunca quis deixar em busca de melhor divulgação para seus textos. Mais tarde excursionando pela América do Sul e pela Europa fazendo palestras sobre Vicente de Carvalho, por ocasião dos 25 anos da morte do tio-avô, Zezinha confessava sentir muitas saudades de Santos.
Sua obra poética consiste nos seguintes livros : Rosa Desfolhada; Fonte Sonora; A Flor e Outros Poemas; Sonetos que o amor inspirou ; além de um LP Poemas.
Sua obra em prosa consiste dos livros: Crônicas de Domingo; Vicente de Carvalho, o Poeta da Mar (biografia que lhe valeu o prêmio Luiz de Camões da Academia de Ciências e Letras de Lisboa); Affonso d’Escragnolle Taunay - O Desbravador da História Paulista (biografia que recebeu Menção Honrosa da Comissão Estadual de Literatura)
Zezinha escreveu também Muita Prosa, pouco Verso, obra que recebeu o Troféu Ribeiro Couto – O Livro do Ano em 1983, pela União Brasileira de Escritores.
Zezinha, como era carinhosamente chamada por seus amigos e admiradores, irradiava entusiasmo pela beleza e tanta alegria em viver, que o mundo à sua volta parecia caloroso e bom. Serei sempre grata a Zezinha pela sabedoria que transmitiu, através de sua fé, sua coragem e sua determinação em ser feliz, como podemos perceber neste versos:
Cantiga de Rosa
( do livro Rosa Desfolhada)
Ao contrário dos jardins
que há rosas em profusão,
na vida são mais espinhos
que ferem a nossa mão.
Não amargures a vida
lembrando coisas penosas,
a roseira tem espinhos
mas só colhemos as rosas.
Colhe a rosa que te couber
perfumada e colorida,
e esquecerás os espinhos
que te feriram na vida.
Não abras muito a janela
pois o vento pode entrar
e a tua rosa tão bela
poderá se desfolhar.
Cultiva, por isso, a rosa,
mesmo entre espinhos nascida,
porque os espinhos são muitos
e poucas rosas na vida!
Zezinha tinha a capacidade de utilizar a seu favor as adversidades, e podemos perceber sua força espiritual nestes versos em que ela se refere à poliomielite, doença que a acometeu em criança:
“Mas não fiquei amarga, não....
O que me faltou em movimento
Sobrou em sentimento
O que perdi em ação
Ganhei em imaginação.”
Sua última crônica, publicada no jornal A Tribuna no dia dos namorados, foi dedicada ao amor, e finalizada com estes versos:
“Bendito seja o amor, seja sempre bem vindo
Amemos sempre, sim, com toda a intensidade,
O amor traz para nós um benefício infindo
Quando chega, a sorrir, nos dá felicidade
Quando parte, a chorar, nos deixa uma saudade”.
Fim de Mocidade
Maria José Aranha de Rezende
Felicidade, que chegou tão tarde,
que veio de mansinho, sem alarde,
a bater levemente à minha porta...
Agora, já no fim da primavera
quando não estava mais à tua espera,
pois para mim foste esperança morta...
Mas é tão lindo o convite que me fazes,
são tão belas as coisas que me trazes,
que a minha alma se abriu, de par em par...
Entra, Felicidade, em minha vida,
desperta esta mulher adormecida,
que se cansou de tanto te esperar!
(de A Fonte, a Flor e outros poemas)
BIBLIOGRAFIA:
Artigos do jornal A Tribuna - 1999
Revista Chapéu de Sol – n°2 – 1999
Livros de Maria José Aranha de Rezende