POESIA E POETAS
Neste texto tentarei refletir um pouco sobre a condição de ser poeta. São inúmeros os trabalhos em prosa e verso que procuram dizer algo sobre os poetas e a poesia. Disse Casimiro de Abreu: “Todos cantam sua terra/Também vou cantar a minha/Nas débeis cordas da lira/Hei de fazê-la rainha”. Quero escrever sobre Poesia e poetas.
Torna-se complicado resolver alguns impasses, pois a poesia é sempre estrela, até quando querem ofuscá-la. Quanto aos poetas (sejam homens ou mulheres), há sempre discussões. Todos querem dizer o que é ser poeta, mesmo que entendam que nem o próprio saiba quem seja. Crianças poetas nem se ocupam de saber por que o são. Quando crescem vêm a angústia, a inquietude, a falta de fé, a preocupação com a morte e mais tantos outros sentimentos misturados. Nós, poetas (eu me sinto poeta), somos mesmo pessoas com um diferencial.
Há muitos conceitos e frases poético-filosóficas sobre o ser poeta. Frases geralmente muito belas e pertinentes. Gostaria de lembrar que ser poeta não é propriamente uma profissão e nunca o será. De toda sorte, vale lembrar a informação de que, em alguns lugares, a exemplo do palácio real inglês, há um contratado para compor poemas sobre aniversários, casamentos e outros eventos da corte. Tudo bem, mas no geral, não existe faculdade, concurso, emprego fixo nessa função. Pessoa alguma tem o diploma de Bacharel em Poesia, seria até engraçado. Acredito que isto aconteça justamente pelo simples motivo que um aedo não pensa em coisas tão mínimas, sem sabor, sem inspiração. Já pensou um dia a manchete no jornal: GOVERNO ABRE CONCURSO PARA POETAS?
Eu estou convencida de que um lírico nasce assim, lírico, mesmo que estude ou se aperfeiçoe em sua doce missão de poetizar. Convém lembrar, entretanto, que a poesia não é feita só de lirismo e doçura, de amor e carinho. Há inspiração para o que no mundo real e no mundo da imaginação possa existir, da guerra ao Amor.
Seja qual for o motivo da poesia, a sua inspiração, a forma do poema, o estilo, note-se que o poeta não é apenas um fingidor, é mais um sofredor. O poeta sofre por si e pelos outros. É uma criatura que passa a idéia de viver vagando em outros mundos. Eu diria que sim e diria ainda que esse vagar é a alegria e a felicidade de um trovador em meio à sua natural condição de angustiado. Mesmo numa composição alegre, não duvide, há algo triste sob as palavras.
Alguém poderia até perguntar: E é bom ser poeta mesmo assim? Nem tenha qualquer tipo de incerteza. Da minha parte eu afirmo que, mesmo brigando com a Poesia, eu a amo incondicional e totalmente. Mesmo que algum crítico diga que não sou poeta ou sou uma poeta medíocre, eu digo que, se ele for poeta, está perdoado. Se não for, nem o levo em consideração, sinto pena dessa criatura.
A Poesia é uma prisão, uma espécie de sina, mania ou vício, no melhor dos sentidos. Um poeta não quer ser livre da Poesia. Pelo contrário, sonha com a prisão perpétua e até aceita ser executado sumariamente, desde que não se prive da sua companheira. Eu nunca ouvi dizer que em parte alguma do mundo alguém deixou de ser poeta. Pode até haver acontecido, de nada se duvide. Eu sei mesmo é que a Poesia é uma tirana, ciumenta, dominadora e, ao mesmo tempo, uma deusa. Onde ela está? Quem saberia? Ela domina, mas não se deixa dominar. É possessiva, mas ela é inteiramente livre, vai e volta ao seu bel prazer. E quando some por uma temporada misteriosa, não se engane, volta mais sedutora, mais embriagadora. A poesia é o mais perfeito vinho e feliz de quem desse vinho pode tomar.