NOITES BELAS E PASSAGEIRAS: A SAGA DO PASSADO QUE SE FAZ NO PRESENTE.
Mal poderia saber o quanto aquela noite me encantava e o tanto que ela me fazia lembrar de tempos remotos do passado. Bem que queria esquecer, porém esta tarefa seria impossível de ser realizado. Por um simples fato: de não ser da minha vontade. Ora, se eu não quero, logo não farei. Isto é mais do que claro e evidente, é claro de ser visto e entendido. É tão simples que não há necessidade de recorrermos a Descartes para comprovar que eu faço ou acredito naquilo que minha vontade permitir e, também, no que ela se deixar levar.
Bem, a noite daquele dia me fazia lembrar dos momentos mágicos e sublimes que a humanidade já passou e ainda passa. Lembrei-me do caso Galileu que, a meu ver, é digno de nota e de lembrança. Fico me perguntando: como pôde uma pessoa tão inteligente e dotada de talento astronômico ter sido incriminada pela Igreja? Claro que quando falo em Igreja não estou generalizando todos os membros da Santa instituição divina, mas me refiro aqueles que estavam no governo clerical daquele período. Quando me lembro de Galileu me lembro, imediatamente, em Nicolau Copérnico. Este por sua vez, fora um dos grandes representantes do período da Revolução Cientifica. Sua teoria era a seguinte: de que a terra não era o centro do universo, mas que, na realidade, se movia em torno do Sol. Ele foi um grande astrônomo, muito embora Lutero o tenha denominado como um “idiota” e o acusou de querer inverter toda a ciência da astronomia; ao mesmo tempo, admitiu que na Sagrada Escritura, especificamente no livro de Josué, relata sobre o mandato que é feito ao sol para que parasse e não a terra (Josué 10,13 – fala sobre o Sol ficar imóvel, foi usado para Afirmar que o Sol que normalmente se move, não a terra). Pode-se fazer o seguinte questionamento a respeito da teoria copernicana: se a Igreja já conhecia a teoria de Copérnico desde 1533, como pode ser explicada a perseguição à Galileu no século XVII? Para esta indagação pode ser apresentada a seguinte resposta: O físico brasileiro Moacir Lacerda sugere que, talvez, por ele ter escrito em toscano e, portanto, permitido ao povo acesso às teorias. Deve ser pesado também sua atitude, considerada ousada e mesmo irreverente, de desafiar a autoridade papal ao “legislar” sobre os fenômenos da natureza. (BETTO, Frei. A obra do artista: uma visão holística do universo. São Paulo: Ática, 1995. p. 37). Bem sabemos que anos mais, o Papa João Paulo II após realizar o reexame do caso Galileu, a Igreja reconheceu sua falha e por esta razão: O papa João Paulo II ordenou o reexame do caso Galileu e, em nome da Igreja Católica, pediu perdão em público, admitindo que o físico italiano sofrera em mãos das instituições eclesiásticas e acrescentando que a pesquisa científica jamais pode contrariar a fé, pois ambas as realidades, a profana e a religiosa, originam-se do mesmo Deus. (BETTO, Frei. A obra do artista: uma visão holística do universo. São Paulo: Ática, 1995., p. 943)
Sei perfeitamente que o contexto social em que vivemos é bem diferente do período em que a inquisição era motivo de medo e pavor por parte de todas as pessoas que eram contra as idéias estabelecidas pelo poderia, mas fico me perguntando: será que mesmo com as mudanças atuais, no que diz respeito a liberdade de expressão, há uma participação ativa por parte daqueles que se julgam “defensores dos direitos humanos”? Ou, para ser mais claro, há realmente uma preocupação, não só por parte dos políticos, mas da população em geral de promover a tão sonhada paz em nosso meio?
O medo ainda nos persegue. Quer queiramos ou não, ainda esta marcado em nós o desconforto em ir contra as leis estabelecidas. Evidentemente que existe exceções, ou seja, há muitos que lutam pelos seus direitos e denunciam a falta de dignidade por parte daqueles que deveriam ser exemplo de comportamento ético e moral frente a todos.
Fico extremamente feliz por ter existido pessoas como Frei Tito que não cansou em lutar pelo povo. Ele se entregou de forma radical em prou de seus ideais e direitos. Certamente, não foi só ele, houve muitos que lutaram pelo povo. Cito, além de Frei Tito, o Frei Betto, Frei Fernando, Carlos Marighela, Flávio Tavares, e tantos outros que sempre foram convictos de suas lutas e batalhas. Vocês merecem todo o nosso reconhecimento e lembrança. Que estes exemplos vivos sejam para nós estimulo de trabalho e luta em vista do bem comum da sociedade. E que sempre nos lembremos que fazer memória aqueles que lutaram pelo povo é buscar um determinado vetor para que se gere uma ação aqui e agora. Ainda, como diz muito bem Frei Tito em carta ao seu colega Frei Daniel: “ainda verei a chamar do espírito latino-americano brilhar bem alto, para dar novo mundo que nasce testemunho vivo do verdadeiro humanismo. Ainda hei de ver o esplendor de nossa cultura dizer bem forte o quanto tínhamos para dar, mas, infelizmente, os donos do mundo impediram-nos”.