O que será que tem o Haiti?!
O Haiti
O que será que tem no Haiti?! É muito sofrimento! Certa vez eu disse que para ascender na condição de ser humano existem vários caminhos, e um deles é pela escola do sofrimento. Porém esse não é o único, apesar de que até mesmo dentro das muitas formas de cristianismo o ícone máximo de redenção é a cruz, ou seja, é preciso sofrer para alcançar o reino dos céus. A propósito, é difícil de ver dentro das religiões o Cristo entre as criancinhas feliz e as doutrinando. Todavia, e, particularmente, acredito que sofrimento faz sim o ser humano evoluir como pessoa. Afinal é pelo sofrimento intenso que decidimos a não sofrer mais. E para isso precisamos aperfeiçoar os meios que dispomos, trabalhando com mais consciência para que possamos atingir efetivamente um estado de sossego e paz. O que quero dizer é que se confeccionamos um agasalho para encaramos o frio intenso e, se somos negligentes dentro deste trabalho, é claro que quando vier o frio intenso muito provavelmente iremos sofrer por causa de nossa negligencia.
Contudo, o sofrimento não é a única escola para fazer o ser humano evoluir, existe o amor incondicionado, a bondade, a educação, a solidariedade e por ai vai. Sem querer levar o tema para o lado religioso, mas, se é verdade que o sofrimento redime as pessoas, fazendo com que todos os pecados sejam remidos, então, o povo do Haiti já está com uma cartela de crédito infinita no céu. Porque é sofrimento demais, furacões, guerra civil, ditaduras, ignorância, pobreza, terremotos e o que mais... meu Deus! Gente que estigma é esse dessa gente?!
Há muitos ignorantes que não perdem a oportunidade para exporem suas teses, fruto de idéias superficiais e preconceituosas. Saem dizendo aos quatro cantos que Deus está castigando a terra. E que tudo é o resultado do afastamento do homem em relação a Deus. Ora, quero crer que Deus nada tem haver com o que aconteceu. Como já disse antes, não quero levar a discussão para visão religiosa. O que se testemunhou no Haiti foi que em situação como essa de cataclismo, a desgraça vai atingir de forma indiscriminada tanto ao crente como ao descrente, ao justo como ao injusto, ao bom como ao ruim, ao rico como ao pobre, ou seja, numa desgraça de tamanha proporção, sinceramente, não haverá distinção alguma para quem quer que seja. Basta vê como ficou o palácio da sede do governo haitiano, completamente em ruínas e sem falar nas igrejas, templos e as mansões dos ricos. Por incrível que pareça, os casebres mais miseráveis é que tiveram melhor sorte, sentiram muito menos o impacto do terremoto.
Por outro lado, quando diante de uma catástrofe de proporção tão gigantesca como a que se abateu sobre o Haiti, logo se vê três tipos de pessoas: a que age; a que fica atônita e a que foge. Porém, o tipo que age começa por cavar os escombros com as próprias mãos, todavia, em algum momento ele vai sentir sede e fome. E ai? Descobre que não tem o que comer ou beber. É preciso antes de tudo ajudar quem quer ajudar. Pois, o país está devastado. Não existe governo, infra-estrutura, organização, meios de sobrevivência, há apenas o caos, o desespero e o que se divisa no horizonte é a desesperança. Muitos dos haitianos estão vagando feito zumbi, atônitos sem ter para onde ir em meio ao um cenário de total destruição, ruínas, corpos mortos por todos os lados, desgraça, fome, doença, cheiro de morte em tudo que é lugar e etc.. Afinal não existe mais referência de nada. Pois muitas das vezes quando procuramos por alguma coisa sempre estamos colocando referencias para encontrá-la. Seja um prédio, praça, pessoa, religião, país, ética, sentimentos ou sei lá o quê, porém, o que acontece é que os haitianos não têm mais referencias de nada, pois tudo se acabou. O mundo que eles conheciam não existe mais.
Segundo relatos dos sobreviventes do local onde a Dr. Zilda Arns proferia uma palestra sobre o combate à pobreza, dão conta que em determinado momento de sua exposição, ela disse: “.... tenho presenciado, na minha experiência dentro da pastoral, vários tipos de pobreza, porém, aqui no Haiti é diferente. Pois de todas as formas de pobreza que vi, a daqui é com certeza a mais agressiva que já presenciei à condição de ser humano.”
Veja que o problema não é de agora, o caos já estava instalado há décadas, a ONU e o Exército Brasileiro vem atuando já alguns anos, no sentindo de tentar restabelecer a ordem naquele país. Mas o trabalho nessa tentativa sempre foi hercúleo. Seria necessária uma completa reestruturação na condição socioeconômica do país, e o pouco recurso que era destinado para esse fim, provavelmente, iria arrastar essa tarefa por muito mais anos.
E, agora os Estados Unidos, país que sempre esteve numa condição privilegiada, quer seja financeiramente ou quer seja geograficamente para ajuda aquele povo. Sempre deu as costas, na verdade, nunca se importou com o massacre perpetrado pelas diversas ditaduras que sempre se instalou lá dentro do Haiti. E que levou a grande maioria do povo haitiano a uma condição de quase miséria absoluta. Uma vez que sempre teve sua atenção focada para questão de maior relevo para o seu interesse imperialista. Por exemplo, o petróleo do oriente médio. Gastaram cifras incalculáveis na guerra do Iraque, chegaram até mesmo causar uma crise de proporção mundial no sistema de crédito, tudo por conta do interesse sobre os poços de petróleo iraquianos. Sendo que agora o Obama, sinicamente, - pelo menos do ponto de vista político, declara que os Estados Unidos não vão deixar os nossos irmãos haitianos jogados à própria sorte.
Os americanos deslocaram um porta-aviões de dimensão gigantesca para o Haiti, tomaram conta do controle do espaço aéreo haitiano, só entra e sai do Haiti quem os americanos querem, ou seja, está se criando por conta disso uma tremenda confusão, que já gerou uma reclamação formal do governo brasileiro à secretária de Estado dos Estados Unidos, a Srª Hillary Clinton. Pois, que interesse repentino é esse? Tendo em vista os anos e anos de abandono e descaso para com os “hermanos” haitianos. Agora dá a entender que eles na verdade querem é confinar o povo haitiano dentro da ilha, cuidando para que nenhum haitiano venha migrar de forma irregular para os Estados Unidos. Por outro lado, eles agora querem se aproveitar de uma catástrofe de proporção inimaginável para se colocarem como os heróis da salvação, e assim pousarem de bons moços na fotografia. Pelo menos ainda assim isso é melhor do que nada. Não devemos esquecer que uma coisa é a política americana imperialista, e outra coisa é o cidadão americano que se cotiza no sentindo de querer mesmo ajudar.
Na verdade, é difícil de ver todo o desespero haitiano e não se emocionar, muitas vezes dá para sentir um nó na garganta que embarga a voz e as lágrimas não conseguem ser contidas. Não existe outra forma de tentar atenuar o problema, porque simplesmente não há atenuantes, ou mundo se cotiza num esforço hercúleo para reconstruir o Haiti ou vamos ter que transformar o Haiti num grande cemitério. Devemos sim ajudar, independentemente daquilo que cremos. Não há porque agora procurarmos a causa de tanto sofrimento – castigo de Deus, descaso político, mudança no eixo geofísico da terra, aquecimento global ou sei lá o que seja. É hora de colocar as diferenças de lado, arregaçar as mangas e trabalhar. Pois até o gesto mais insignificante de nossa parte nessa hora, ainda sim pode significar a salvação de uma vida.
( Omena)