O HAITI NÃO É PANDORA!

Ainda agora me chegou por um amigo uma notícia surreal, de que psicólogos americanos estão tendo que se ver às voltas com um tipo de depressão esquisita que anda assolando alguns adolescentes perdidos e adultos inconscientes que entram em contato com o filme Avatar.

A matéria diz que a experiência em 3D funciona de forma tão impactante que alguns na platéia estão reagindo de modo insólito, sem saber depois como lidar com as realidades do nosso próprio mundo; trocando alhos por bugalhos em relação ao que, na trama de Cameron, é ainda e sempre fictício; e embarcando feio numa viagem cheia de frustração que incluí inclusive desejo de suicídio, por não conseguirem ir para lá, para Pandora, o maravilhoso planeta da trama; por terem que acordar no dia seguinte e descobrirem que pertencem - sim! - à nossa boa e velha Terra, linda e azul, mas cujos povos ainda chafurdam num estado involuído, atualmente, insuportável! E, por conta disso, tendo que se ver às voltas com as conseqüências, como não poderia deixar de ser: pois quem depreda o meio ambiente, joga lixo no chão, poluí o ar, desrespeita o próximo, promove guerras, é orgulhosa e monstruosamente egoísta, conduz suas vidas em função de mesquinharias, de orgulho e arrogância absolutamente cegos e idiotas, atingindo com isto tudo e todo mundo em volta, não haveria mesmo de esperar que o nosso planeta, nem na mais delirante hipótese, se transmudasse do dia para a noite nalgo sequer parecido com o tipo de raça avançada ilustrada em Avatar, nos clãs nativos dos Na'vi!

Amigos, as contradições dos humanos por vezes evocam irrefreável impaciência! Quando vamos aprender?!

Noticiários do mundo inteiro exibem, na hora que passa, as cenas dantescas do inferno vivido pelos haitianos após o catastrófico terremoto recente! O país, se já se abeirava do caos antes disso, literalmente acabou! Foi lançado à mais completa indigência, ao mais absoluto, aterrorizador desespero! As imagens mais recentes mostram crianças órfãs de toda a sua família, bebês solitários, recém nascidos, à mercê da caridade dos jornalistas e das missões que aportam sem parar em Porto Príncipe para os resgates! Pessoas vagueando sem destino, se destroçando entre si por um copo dágua! Fome! Milhares de cadáveres empilhados nas ruas à espera de providências que não permitam que o lugar afunde num cataclismo ainda pior! Ameaça de epidemia, o pungente odor da morte tomando conta de tudo!

Pessoas - famílias, pais e mães, crianças, trabalhadores, uma sociedade em si - mergulhadas num desastre aleatório acontecido num país miserável que, à semelhança de muitos outros sobre o orbe, aguarda que a humanidade enfim amadureça e se dê conta de que não há felicidade plena possível construida sobre a voluntária inconsciência do sofrimento atróz de outros seres humanos!

E enquanto isto, a platéia burguesa que lota os cinemas para assistir a mensagem futurista e, vá lá, bem intencionada de James Cameron, concitando a todos nós à harmonia mundial, ao respeito à Vida em todas as suas formas de expressão, existentes num mundo hipotético em que uma civilização avançada é quase destruída pela nossa tradicional e implacável beligerança... enquanto isto pessoas inconscientes, mais que tudo, do belo mundo com o qual foram presenteados com esta mesma Vida ignoram a própria condição, a situação de atraso de nossa, esta sim, verídica raça, aqui, neste sofrido e sacrificado contexto terreno, para se abandonar a crises caprichosas de melancolia, a viagens injustificáveis para fora da realidade mais imediata, e para choramingar acerca das razões de não poder ir para um mundo como Pandora - lar de uma bela personagem fictícia chamada Neytiri e de um mariner americano que opta por se tornar um deles ao fim da história, compondo qualquer coisa parecida ao casalzinho do drama insosso exibido há vários anos sob o título Top Gun!

Chega a ser criminosa, a inconsciência desta nossa humanidade!

Caros: quem constrói uma civilização avançada e idílica como aquela somos nós! E de preferência, aqui, onde estamos, no nosso belo mundo azul, como se pede, já que, afinal, não estamos aqui exatamente a passeio, à toa! Existe um propósito maior nos planos do Criador de todos os universos, e a vida humana não haveria de surgir na face da Terra a troco de nada, que não fosse para criar e sustentar beleza, sabedoria, progresso real e felicidade autêntica! Mas o primeiro requisito para isto é veneração a esta mesma Vida! Em nós, no próximo, na fauna e na flora, e em tudo em volta!

Não há outro caminho! E, fora dele, não haverá nunca de nos surgir na Terra uma versão da edênica Pandora sobre as ruínas dos nossos diários, renitentes e maiores descalabros, assim, do nada!

O Haiti não é Pandora!

A Terra, bela em si, Ser pródigo em riquezas naturais, em Vida, em oportunidades, também, e ainda, não - mas somente por culpa nossa!

Comecemos, portanto, a pensar em termos de merecimento! E olhemos para o lado! Neste instante, para o desespero no Haiti - e, com o tempo, para as irradiações patentes deste mesmo estado de coisas noutros tantos quadrantes do mundo, e a partir mesmo de onde nos achamos agora!

Talvez no dia em que enfim materializemos à luz do dia, nas nossas atitudes mais corriqueiras, a máxima daquele velho adágio: fazer ao próximo apenas o que queremos para nós mesmos! -  consigamos fazer da Terra algo como aquele outro mundo fictício - algo melhor! Algo justo ao que certamente estava o nosso planeta destinado, sob os desígnios perfeitos do Criador!

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 15/01/2010
Reeditado em 15/01/2010
Código do texto: T2031417
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