HAITI



     Três vezes prestei atenção a HAITI. Envergonho-me de confessá-lo.
     Uma foi Caetano cantando “O HAITI NÃO É AQUI...”.
     Outra foi uma longa reportagem entre os haitianos e eles diziam: “NÓS FALAMOS INGLÊS, OUVIMOS AS RÁDIOS AMERICANAS, AS NOTÍCIAS E AS MÚSICAS...”, eles, o povo haitiano não tinha cultura própria; os que tiveram no seu passado, já tinham esquecido. Aceitavam o momento deles sem questionar mais nada, que me pareceu uma falta de pátria, de patriotismo, de amores a si mesmos.
     E a atual é a tripudiada HAITI DEVASTADA SOB UM TERREMOTO sem precedentes ocorrido na capital Porto Príncipe. (Foto do satélite)

     O caos, a dor, o desumano. Tudo desmoronado e o povo soterrado sob escombros. Quem não o foi perambula esfomeado pelas ruas com fome e sede, entre mortos em decomposição, perdendo a noção de humanidade a perigo de se tornarem simples animais esfomeados. É terrível quando a sobrevivência supera a essência humana do discernir e do sentir. O horror pode se instalar como última instância.
     Estou tão triste como qualquer outra pessoa possa estar.
     Um terremoto; um lugar perto, entre o Brasil e os USA. Um caos humano. Não foi uma guerra. Não foi um descaso recente. Não foram interesses internacionais. Nem da ONU.
     Mas Haiti desde a sua descoberta por Cristovão Colombo começou a ser dizimada. Era uma terra numa ilha do Atlântico e já existia há mais de 7.000 anos e era habitada por seus nativos habitantes. Mas, como toda terra descoberta pelos navegadores daqueles tempos, como nos atuais tempos, vira logo a ambição do Velho Mundo ou de nações mais poderosas. O mesmo processo de “colonizar”, invadir e se apropriar do bem ou riqueza do outro. O mesmo desrespeito de sempre dos bárbaros, egoístas, ambiciosos humanos sob a capa do bem e do interesse “humanitário”.
     Haiti foi dizimado, foi disputado pelos espanhóis e pelos franceses. Tem uma história trágica de usurpadores.
     Haiti é Tristeza. É instabilidade da ordem e da paz. Haiti é uma canção triste. Como outros lugares do mundo atual é o resultado da violação dos direitos humanos.

     O terremoto desta semana foi e é uma ação geológica de grandes proporções.
     Mas se pensarmos bem, a ação do homem desde 1492 foi de contínua devastação de uma terra pequena que já existia e tinha sua própria gente em paz vivendo, até serem escravizados e extintos. E criados escravos substitutos importados da África.

     Uma terra, um país ao alcance de nossas mãos, ignorados no transcorrer de sua história. Um espanto de indiferença humana, só agora sentido e percebido internacionalmente.
     O que é necessário para acordar as consciências humanas?

     É preciso tanto?