Espiritismo: dissecação- Segunda Parte
Trechos da Isto É de 08/09/99, nº1562:27:
Muito se discutiu nos últimos anos sobre os diversos aspectos da inteligência. (...) um biólogo da Universidade de Princeton, em Nova Jersey, passava seus dias alterando o DNA de camundongos para, em seguida, testar suas capacidades de aprendizagem. Na quinta-feira 2, Joe Tsien publicou os resultados dessa pesquisa na revista Nature. E subverteu tudo o que se conhecia sobre a inteligência. Alterando um gene do DNA dos camundongos, Tsien elevou suas inteligência e memória, mostrando como são intimamente ligadas ao código hereditário.
Em primeiro lugar, Tsien criou camundongos desprovidos de um gene chamado NR2B e mostrou que tinham aprendizagem e memória reduzidas em relação aos ratos normais. O geneticista produziu então cobaias dotadas de cópias extras do gene e checou sua aptidão comparada à dos ratos comuns. (...) Os animais transgênicos reconheceram [um] objeto antigo e não perderam tempo, trataram de explorar [um] novo. Já os ratos comuns gastaram o mesmo tempo com as duas peças [nova e antiga].
No segundo teste, (...) Eles [ratos transgênicos e comuns] foram postos numa câmara onde recebiam choques nas patas. (...) [onde] os transgênicos demonstraram mais medo que os demais. Por outro lado, ao repetir a experiência no mesmo local, mas sem os choques, eles perceberam mais rápido que o perigo havia passado. Na prova final, os bichos foram jogados numa piscina. Numa das bordas, submersa, havia uma plataforma para ajudar a sair da água. Os transgênicos aprenderam a localizar a plataforma em três sessões, enquanto os outros precisaram de seis. (...) Ele salientou que os ratos retiveram até a idade adulta a capacidade de aprendizado da juventude. Da mesma forma que nos humanos (...).
(...) A pesquisa provou que o gene NR2B é fundamental no controle da habilidade cerebral de associar um evento a outro, propriedade básica do aprendizado. (...) Por disporem do gene NR2B em abundância, os neurônios dos ratos transgênicos têm mais receptores, portanto aprendem mais rápido.
A descoberta abre caminho para, no futuro, empregar-se manipulação genética no tratamento de humanos. "Este trabalho levanta a possibilidade de não só produzir-se animais mais espertos como também obter uma terapia genética para uso humano em áreas como a demência", aposta Ira Black, chefe da cadeira de neurociência da Universidade Rutgers, de Nova Jersey. (...)
Para Joe Tsien, sua descoberta indica ser possível elevar o QI, o coeficiente de inteligência, através de meios genéticos. (...) "Não acho isso necessariamente ruim. Encontrar meios de reparar autismo e retardamento mental associados à síndrome de Down ou ao mal de Alzheimer é muito bom. (...)", diz Caplan.
E ainda dizem que o espiritismo é a religião da ciência. Pois assim é o espiritismo, tudo que eles falam ficamos com dúvida se é certo. Mas e o que eles falam e não temos como, hoje, comprovar? Oras, quantos espíritas em detrimento do ensinamento estapafúrdio de que a raça caucasiana era superior não alimentaram o racismo? Deus e os seus espíritos superiores permitiram por que isso acontecer? Ou seja, de tudo que eles falam paira uma dúvida, e, na dúvida, sigo a fé ou aguardo a ciência? Se eu tiver que aguardar a ciência a fé perde o sentido, se eu seguir a fé posso estar cometendo um profundo engano.
Ou seja, o espiritismo explica tudo, mas não serve para nada.
Uma teoria não pode ser aceita como verdadeira senão com a cláusula de satisfazer a razão e dar conta de todos os fatos que a abrange.(1Ci I:8) Assim segue o espiritismo, de dilema em dilema. Tentando ser científico, mas, dia a dia, menos semelhante a este. O que dizer então da clonagem? Se Deus é quem faz os espíritos permanentemente (Le q..80), conforme a população aumenta. Significa, neste caso que, literalmente, Deus está trabalhando para os homens; ou seja, o homem clona o homem e Deus corre para lhe providenciar uma alma. É ou não é ridículo?
Noções de sociedade e conseqüências segundo o espiritismo
O bem e o mal são absolutos para todos os homens?
— A lei de Deus é a mesma para todos; mas o mal depende, sobretudo, da vontade que se tenha de fazê-lo. O bem é sempre bem e o mal sempre mal, qualquer que seja a posição do homem; a diferença está no grau de responsabilidade. (Le q.636)
Oras, como sabemos, para os maias não era um “mal” sacrificar alguém em nome de Deus, como pode o mal ser sempre mal para todo homem? Para outros povos, a poligamia é algo normal, como pode o mal ser sempre mal para todo homem? Para as regiões frias, é sumamente necessário se habituar a beber, como pode o mal ser sempre mal para todo homem? Aquele que está numa guerra, deve fugir? Mas ele foi obrigado a estar lá pelo governo! Como pode o mal ser sempre mal para todo homem “qualquer que seja a posição do homem” (sic.)?
Isso é ridículo! Falando em matar porque você foi obrigado a servir exército, os espíritos reiteram: O mal parece, algumas vezes, conseqüente das circunstâncias. Tal é, por exemplo, em certos casos, a necessidade de destruição, até mesmo do nosso semelhante. Pode-se dizer, então, que há infração à lei de Deus?
— O mal não é menos mal por ser necessário [estamos falando de ser obrigado!]; mas essa necessidade desaparece à medida que a alma se depura, passando de uma a outra existência; então o homem se torna mais culpável quando o comete, porque melhor o compreende. (Le q.638)
Traduzindo: se você for convocado para a guerra, não deve matar ninguém, pois, se matar, pouco importa, o mal é sempre mal, você pagará pelos seus pecados. Por causa de uma legislação (que não foi você quem fez) que te obriga a servir o exército, por uma guerra que não foi você quem começou. Afinal, o mal não é menos mal por ser necessário. Eis o kardecismo. Há pessoas que, por sua posição, não tenham possibilidade de fazer o bem? — Não há ninguém que não possa fazer o bem: somente o egoísta não encontra jamais a ocasião de praticá-lo. (Le q.643)
Traduzindo: todo doente mental profundo é egoísta. Eis o espiritismo.
Aqueles que em situações críticas se viram obrigados a sacrificar os semelhantes para matar a fome cometeram com isso um crime? Se houve crime, é ele atenuado pela necessidade de viver que o instinto de conservação lhes dá?
— Já respondi, ao dizer que há mais mérito em sofrer todas as provas da vida com abnegação e coragem. Há homicídio e crime de lesa-natureza, que deve ser duplamente punido. (Le q.709)
Isso é ou não é pura crueldade?
A lei da Natureza impõe aos filhos a obrigação de trabalhar para os pais?
— Certamente, como os pais devem trabalhar para os filhos. Eis porque Deus fez do amor filial e do amor paterno um sentimento natural, (Le q.681)
Honestamente, eu duvido muito que seja algo tão natural assim. O kardecismo, também é contra o uso de anticoncepcionais, camisinha, tabela, etc.: As leis e os costumes humanos que objetivam ou têm por efeito criar obstáculos à reprodução são contrários à lei natural?
— Tudo o que entrava a marcha da Natureza é contrário à lei geral. (Le q.693)
Mostrando completa “desnoção” de economia, os espíritos dizem que as desigualdades de condições sociais são obras do homem, e não de Deus (Le q.806), como se fosse possível distribuir toda a renda entre toda a humanidade sem que enterrasse todos de miséria comprometendo o próprio progresso que o espiritismo defende.
Com que fim a mulher é fisicamente mais fraca do que o homem?
— Para lhe assinalar funções particulares. O homem se destina aos trabalhos rudes, por ser o mais forte; a mulher aos trabalhos suaves (Le q.819) E os trabalhos intelectuais? No país onde eu nasci isso se chama preconceito.
Os costumes sociais não obrigam muitas vezes o homem a seguir um caminho errado? E não está ele submetido à influência das opiniões na escolha de suas ocupações? Isso a que chamamos respeito humano não é um obstáculo ao exercício do livre arbítrio? — São os homens que fazem os costumes sociais e não Deus; se a eles se submetem, é que lhes convém. Isso também é um ato de livre arbítrio, pois se quisessem poderiam rejeitá-los. (Le q.863)
Oras, esta observação é completamente ridícula. Como pode uma criança educada sob o regime escravista ter a mesma força para rejeitar a cultura com a mesma facilidade? Como pode uma teoria inspirada por espíritos de altas ordens ser tão estúpida ao negar a inquestionável influência da vida intra-uterina na vida da criança? Como pode um bebê de quatro meses questionar os atos e pensamentos da mãe? Como pode isso ser chamado de ciência?
Emmanuel, no livro Vida e Sexo (p.44), “afirma que sempre que escolhemos alguém para união conjugal e só depois do casamento percebemos gravíssimos defeitos conjugais no companheiro escolhido, estamos diante de criatura ofendida por nós em outra vida [ou seja, diante de débito cármico]” (Barros: 2006, p.11). Bom, então significa que sempre que um casamento não dá certo é porque fizemos alguma coisa ao companheiro ou o inverso? E que não devemos fugir a tal prova, logo, devemos manter uma relação enfadonha a vida toda apesar dos efeitos devastadores de tal relação e suas conseqüências aos filhos,netos e outras pessoas próximas? É esta a lição de “alto valor moral” que os “Espíritos Superiores” sempre nos dão? É isto que chamam de fé raciocinada?
A revolução é sempre o engano trágico daqueles que desejam arrebatar a outrem o cetro do governo. Quando cada servidor entende o dever que lhe cabe no plano da vida, não há disposição para a indisciplina, nem tempo para a insubmissão. (Xavier: 1949, p.66) Traduzindo: devemos aceitar os governos todos como são, seja autoritário, seja devasso, seja injusto, seja maligno. Eis o regresso, eis o conservadorismo, eis o espiritismo.
Dizem que o espiritismo prega o respeito a outras crenças. Bem, nem sempre: Onde estão os valores morais da Humanidade? As igrejas estão amordaçadas pelas injunções de ordem econômica e política. Somente o Espiritismo, prescindindo de todas as garantias terrenas, executa o esforço tremendo de manter acesa a luz da crença, nesse barco frágil do homem. (Xavier: 1938, p.209-10) Traduzindo: fora do espiritismo, só há maldade.
Assim, sucessivamente, vamos tirando o véu do que realmente é o espiritismo. O qual atribui erroneamente ao materialismo exclusividade sobre a atual conjuntura social da humanidade (cf. Franco: 1974, p.10). Que diz que o suicídio é sempre fruto do orgulho (cf. Franco: 1974, p.85). E muitas outras coisas que até o diabo duvida.
Curiosidades
Este tópico sobre alguma curiosidade do kardecismo não vem para ser combatido, nem traz, grosso modo, questionamentos irrefutáveis, mas, como o tópico de mesmo nome no capítulo que trata da Bíblia, venho aqui, somente “alfinetar” os crentes no Evangelho Segundo Gasparzinho, para [por que não?] rir um pouco e apresentar questões, no mínimo, curiosas.
Vós admitis também que cada um não é bom juiz senão naquilo que é da sua competência. Se quereis construir uma casa, procurais um músico? Se estivésseis doente, vos faríeis cuidar por um arquiteto? Se tivésseis um processo, procuraríeis a opinião de um dançarino? Enfim, se se trata de uma questão de teologia, a fareis resolver por um químico ou um astrônomo? (Oqe I:8).
E quem procuraria um pedagogo [que não é sinônimo de cientista... outra falácia] para falar de espíritos?
Quando a opinião pública estiver formada a esse respeito, os sábios, como indivíduos, a aceitarão, e suportarão a força das coisas. Deixai passar uma geração e, com ela, os preconceitos do amor-próprio em que se obstina, e vereis que ocorrerá com o Espiritismo como ocorreu com tantas outras verdades antes combatidas (...) (Oqe I:8).
Isto foi escrito 1861, gerações e gerações e, fora do Brasil, o kardecismo é completamente inexpressivo, oras, têm mais gente na área Metropolitana de Recife do que espírita (kardecista) no planeta inteiro; isto é, falsa profecia.
Embora alguns textos biográficos afirmem que Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869) era médico, não há registro que ateste que ele cursou medicina. Esta opinião é compartilhada pela maioria dos espíritas.
É preciso não confundir a loucura patológica com a obsessão. Esta não se origina de nenhuma lesão cerebral, mas da subjugação que Espíritos malfazejos exercem sobre certos indivíduos, e tem por vezes as aparências da loucura propriamente dita. (Oqe I:17).
Concordo que é preciso não confundir, mas você há de convir que é preciso explicar, mas simplesmente não explicam. Pelo que as estatísticas nos mostram, cada dia o mundo está mais ateu, é “uma pena”, mas os espíritos superiores falharam enormemente em sua missão [embora a filosofia diga que os espíritos superiores jamais falhem em suas missões (cf. Le q.578)], ou é falsa a profecia.
Não creiais em todo Espírito, mas examinai se os Espíritos são de Deus. (Lm n.267).
Bom, todos os espíritos deveriam ser de Deus, pois Deus foi quem fez e faz todos os espíritos. Agora, se os espíritos entendem nosso pensamento como um livro aberto (Oqe II:17), como saberei se não fui persuadido por aquele que lê até o meu pensamento, dando os dados que eu esperava, de antemão, para concluir o meu exame sobre a ordem que pertence tal fantasma?
O homem tem o direito de defender aquilo que ajuntou pelo trabalho? — Deus não disse: "Não roubarás"? E Jesus: "Dai a César o que é de César"? (Le q.882) Deus disse? Por que ele se referiu a Jesus como Jesus, e a Moisés como Deus? Pensei que o espiritismo não desse margem para alegorias (Le q.917) e nem para dupla interpretação (Oqe I:21). Quem conhece o espiritismo sabe o quão perturbadora é esta pergunta.
Qual é o caráter da propriedade legítima?
— Só há uma propriedade legítima, a que foi adquirida sem prejuízo para os outros. (Le q.884)
Queria estar lá para perguntar para os espíritos superiores se existe uma única propriedade que não seja adquirida em prejuízo de alguém. Naturalmente, eu quero exemplos.
As guerras estão cada vez mais raras e não mais excluem os sentimentos de humanidade: a uniformidade se estabelece nas relações; as distinções de raças e de castas desaparecem. (Leconclusão: IV) Este livro foi escrito em no século XIX, sua profecia é tão imaginária quanto a existência de Deus. Oras, depois disto, já tivemos duas guerras mundiais e ficamos a beira de um colapso atômico. Do que estes tais espíritos estavam falando afinal?
Confiabilidade dos espíritos
O próprio Kardec admitiu a grande dificuldade em ter convicção de que o espírito é exatamente aquele que diz ser: Um Espírito da categoria de Fénelon pode, portanto, vir em seu lugar, às vezes mesmo com o seu nome, porque é idêntico a ele e pode substituí-lo e porque necessitamos de um nome para fixar as nossas idéias. Mas que importa, na verdade, que um Espírito seja realmente o de Fénelon? (Le introdução:XI)
O que provavelmente ocorreu, quando Kardec resolveu difundir o espiritismo, era justamente a tamanha notabilidade dessas comunicações e evidente falta de qualidade das mesmas. Os espíritos mentem? Eles são confiáveis? Será que eles são quem dizem ser? Não são todos zombeteiros? Não são seres que, diferente do que e pensa, pertencem a outra natureza? Nunca foram humanos, mas mentiram quando disseram isso? A reencarnação foi uma invenção dos espíritos para que eles fossem notados? Todas estas questões provavelmente passaram pela cabeça do codificador, então ele determinou que justamente os espíritos que ele se baseou para escrever suas obras são superiores e, logo, o que eles falam é verdade, portanto, existe Deus, reencarnação e todas as conseqüências do que os próprios livros atestam. Mas, gostaria de perguntar a Kardec: “mas e se até mesmo os espíritos superiores que ditaram os seus livros falaram bobagens?”, isto significa que literalmente em toda a história da doutrina jamais teve um único espírito que não mentiu! Oras, pessoalmente eu não acredito em espíritos, mas, mesmo que eles existissem, nada do que eles dizem é confiável, bem como é profundamente incerta a crença em reencarnação e imortalidade, pois foram “inventadas” pelos mesmos espíritos mentirosos que disseram que os cometas seriam mundos, e que os negros e orientais são corpos impróprios a inteligências e morais elevadas. Mas precisamente sobre o modo de ver os espíritos, Platão nos legou que “nenhuma natureza humana investida de poder supremo é capaz de ordenar os assuntos humanos (...) sem transbordar de insolência e iniqüidade”.
Não nomeamos bois para serem os senhores dos bois, nem bodes para serem os senhores dos bodes, mas somos nós próprios uma raça superior, que os governamos. De maneira semelhante, Deus, por amor à humanidade, colocou acima de nós os demônios, que são uma raça superior, e eles, de forma fácil e prazerosa para si mesmos, e não menos prazerosa para nós,tornam as tribos de homens felizes e unidas, ao cuidar de nós e nos dar paz, reverência, ordem e justiça que nunca falham.
Os espíritos de Platão têm mais sentido do que os de Kardec. Tem mais sentido os espíritos, supondo que existam, serem uma raça distinta da nossa do que provinda desta. Talvez nem eles mesmos sejam imortais, mas sejam meramente seres outros, como as bactérias não são répteis, e as plantas não são aves, os homens não são e nem serão espíritos.
Não será raro, ao discutir com espíritas, ouvir a ridícula afirmação de que o espiritismo é uma ciência, logo, propícia a avanços e contendas, não obstante, passível de erros e contradições. Bom, tomando como premissa a existência dos espíritos, a única fonte que temos das suas afirmações são os próprios espíritos, os únicos seres que testificam haver reencarnação, Deus e imortalidade são os próprios espíritos. Mas, admitidamente, se estes mesmo espíritos são passíveis de erros e contradições, realmente é muito ridículo crer na existência de reencarnação, Deus e imortalidade. Oras, é como dizer que a Enciclopédia Britânica tem profundos erros em assuntos ligados a religião [hipoteticamente], mas que, de acordo com a Enciclopédia Britânica, certamente o ateísmo cresce no mundo. Não é digno de risadas? Vejamos então: os espíritos cometem profundos erros e enganos em todas as áreas que ousam opinar, mas os espíritos nos ensinam que existe Deus, reencarnação e imortalidade, logo existe? Eis o que eles chamam de lógica e ciência: acreditar numa fonte que se acredita como duvidosa?
Outro argumento utilizado em larga escala, tem origem no próprio livro de Kardec, lembra até mesmo a Bíblia, que se defende de antemão dos seus refutadores, analisemos: Os mesmos escrúpulos havendo presidido à redação das nossas outras obras, pudemos, com toda verdade, dizê-las: segundo o Espiritismo, porque estávamos certo da conformidade delas com o ensino geral dos Espíritos. O mesmo sucede com esta, que podemos, por motivos semelhantes, apresentar como complemento das que a precederam, com exceção, todavia, de algumas teorias ainda hipotéticas, que tivemos o cuidado de indicar como tais e que devem ser consideradas simples opiniões pessoais, enquanto não forem confirmadas ou contraditadas, a fim de que não pese sobre a doutrina a responsabilidade delas.
Primeiramente, é ridícula esta afirmação de que “cabe ao leitor distinguir a qual parte da obra é ou não pessoal”. Se a distinção deve ser feita pelo leitor, segundo a editora, por que na Kardec diz “que tivemos o cuidado de indicar como tais [!]”? Seria algum pergaminho escondido no Mar Morto?
Mas, vamos fingir que a frase que eu citei não existe, e assumiremos tal premissa. Oras, (a) por que Kardec não fez a distinção de uma vez do que ele inventou e o que foi ditado? Por que (b) ele mentiu na obra O livro dos Espíritos ao afirmar que os espíritos superiores tinham cuidado de todos os detalhes (Le introdução)? Se ele mentiu (c) por que ainda acreditam nele? Por que (d) ele demorou 11 anos [onze anos!] para dizer isso?
Imagine que você, leitor, tenha escrito um livro baseado nos sonhos que você teve. Mais tarde, entretanto, alguns céticos mostram as falhas e contradições deste mesmo sonho. O que você faria? Você poderia então escrever [onze anos mais tarde!] um outro livro dizendo que as tais contradições, sem dizer quais [vai que achem mais!], foram um erro pessoal da interpretação dos sonhos, mas os sonhos em si, em geral [sem definir o que é o geral] é o mesmo. Este texto, só denotou o enorme desespero de Kardec em se esquivar das refutações. Deixando claro que isso, que direi agora, é mera especulação e bom humor, comento: Kardec morreu somente um ano depois da publicação deste livro, por aneurisma cerebral, patologia que pode ser causada por alto nível de estresse, pelo que estudamos, notando o que acabamos de ler, até agora, não é nenhuma surpresa.
O mais curioso e talvez o que mais desespere o kardecista é que, tanto na obra citada, O Livro dos Espíritos, quanto na Gênese, que é “o complemento de todas as obras que a precederam”, o racismo é chancelado (Gn: XI:32), e, segundo o próprio Kardec, tomo como a doutrina dos espíritos. O espiritismo, numa palavra: racismo da capa a capa.
Os livros sagrados são assim, como um cobertor pequeno em dia de frio: você tapa o busto, descobre-se o pé. Toda esta bobagem citada aqui no tocante ao espiritismo e mesmo os melhores argumentos dos seus mais instruídos e inveterados defensores me deixa clara a noção de que o espiritismo nada mais é do que uma “cientifização” mal-sucedida da religião. Kardec, que tinha um verdadeiro pavor do materialismo, entregou todos os esforços para expurgar da religiosidade toda a indecência e hipocrisia das crenças cristãs difundidas no século XIX na Europa. Se podemos dizer que o cristianismo foi uma tentativa de salvar o judaísmo, embora renegado, o kardecismo é uma tentativa de salvar o cristianismo, o qual também foi renegado. Oras, sempre haverá novas crenças, cada vez mais bem feita e mais inteligente [talvez], e nós ateístas sempre aferiremos nosso conhecimento e nosso martelo nietzschiano para derrubar tais ídolos completamente incompatíveis com um mundo de sensatez e ciência. Da visão crítica do espiritismo, o que se pode dizer é que não passa de um estudo de fenômeno com causas suspeitas e contraditórias; porém, a crença no espiritismo, seus rituais de passe, suas terapias e palestras, por fim, é pouco mais do que uma crença exótica ou uma cópia indecente do budismo ou catarismo (todos reencarnacionistas), ao meu ver, aliás, o espiritismo não passa de uma macumba sofisticada, nas duas definições do termo29 .
Conclusões
Pelo que estudamos até agora somos, se caminhando lado-a-lado com a lógica, obrigados a reconhecer que há mesmo muitas falhas no kardecismo. Não só falhas em um ponto ou em outro, mas em seus dogmas básicos (reencarnação, imortalidade da alma, comunicação além-mundo), na sua fundamentação (identidade dos espíritos, elevação dos espíritos), na sua comunicação (altamente questionável, errônea), estrutura (livros contraditórios entre si), nas suas observações (erros científicos), na sua prática (o mal aflige o mais correto dos kardecistas e o mais ímpio dos ateus, em geral, na mesma dose). Ou seja, do que o espiritismo trata não há nada confiável, nada que mereça crédito, nenhuma afirmação é digna de aceitação.
O problema, eis porque estou “martelando” o kardecismo, é quando em nome dessa crença no além-mundo, infere-se todas as maldades do mundo com origem nele, e, não obstante, comete-se injustiças com as pessoas aos dizermos, não sei com que autoridade, que tudo que se passa com alguém é um comércio de escambo de maldades e sofrimentos do além-mundo, das dívidas que você fez numa vida imaginária que ninguém recorda. Coloquei uma coleção de frases kardecistas completamente preconceituosas, no sentido literal ou não; isto é, conceitua precipitadamente um fato, e se julga de modo discriminatório alguém, leia e procure a verdade. Os textos entre “colchetes” são meus: Não há situações em que os meios de subsistência não dependem absolutamente da vontade do homem e a privação do necessário, até o mais imperioso, é uma conseqüência das circunstâncias?