Espiritismo: dissecações- Primeira Parte

De acordo com a doutrina, todas as almas foram criadas simples e ignorantes (Le q.114-133). Para explicar a diversidade de desenvolvimento intelectual e moral, o espiritismo relaciona isso com a diversidade de idades entre os espíritos, bem como pela prática do livre-arbítrio (Oqe III:113). Para ilustrar melhor, eis o fragmento: Se Deus tivesse feito almas mais perfeitas, umas que as outras, essa preferência não seria conciliável com a sua justiça. Sendo todas suas criaturas, por que isentaria umas do trabalho, que impõe às outras, para alcançarem a felicidade eterna? A desigualdade das almas, quanto à sua origem, seria a negação da justiça de Deus. (Oqe III:112)

O texto realmente parece claro, também sabemos que as almas são eternamente criadas por Deus (Le q.78,80), talvez isso dê uma aparente justificativa à “diversidade de trabalho” entre uma e outra alma, nos dias de hoje. Mas não é mesmo surpreendente imaginar como seria a primeira legião de espíritos que Deus criou? Todos simples e ignorantes, como os primatas na Terra? Entretanto, bem sabemos que os neanthertales foram subjugados aos homo sapiens porque havia diferença de inteligência entre eles, e também não podemos esquecer da decisiva ação do meio-ambiente, tornando o homem mais forte, mais claro ou negro, mais resistente, etc., em diferentes quantidades entre os diferentes povos e em diferentes quantidades até mesmo entre os mesmos indivíduos do mesmo povo. Bom, se isso ocorreu com a primeira legião de espíritos, certamente Deus não foi justo, pois uns tiveram mais possibilidades de se desenvolver do que o outro. Se isso não ocorreu, significa que todos os espíritos se desenvolveram em igualdade de velocidade e qualidade, ou seja, todos alcançaram pureza passando por mundos tais que eram o supra-sumo da democracia, onde até a inteligência era eqüitativa, então Deus não foi justo conosco, pois trabalhamos mais do que a primeira legião trabalhou. Eis só o começo das falhas do kardecismo.

O espiritismo, curiosamente, nega mais de uma vez o livre-arbítrio que ele prega, ao impor, por ordem de Deus, o avanço espiritual (Le q.337). Através de existências cada vez mais dolorosas e providas de grande sofrimento, Deus, destarte, força o desenvolvimento e nega o livre-arbítrio.

Mas de onde Kardec tirou a idéia de reencarnação? Seria um escândalo dizermos que ele se baseou no budismo ou hinduismo, pois ele sempre se referiu a tais crenças como antiquadas e de inferências equivocadas, mas dizemos que foram passadas pelos espíritos, preferencialmente superiores, mas o que parece, entretanto, é que tais seres eram inferiores. Bom, segundo o próprio Kardec, foi através dos espíritos que ele chegou a esta conclusão; mas sua metodologia é confiável?

Na Revista Espírita de novembro de 1858, página 296 (artigo "Da Pluralidade das Existências Corpóreas"), Kardec fala sobre a reencarnação, dizendo que é um tema ainda polêmico. Diz ainda que ele foi levado a acreditar na reencarnação devido às comunicações dos espíritos sobre esse assunto, e devido à lógica desse sistema explicativo.

Afirma ele que desde que iniciou seus estudos espíritas, teve oportunidade de consultar "mais de cinqüenta médiuns" a respeito dessa questão da reencarnação, "e que, em nenhum caso, os Espíritos foram desmentidos sobre essa questão;" (grifos meus). Essa afirmação não pareceu muito clara para mim. É mais ou menos como se desse margem à seguinte pergunta: "Sim. Cinqüenta não desmentiram a reencarnação. Mas quantos afirmaram que há reencarnação, e quantos afirmaram que a reencarnação é compulsória e necessária?". (Barros: 2003, p.28)

Essa justificativa numérica não só é ridícula, como, ao que parece, sob a luz da ciência atual, caiu por terra em outras passagens.

Na Revista Espírita de março de 1858, página 70 (artigo "Júpiter e Alguns Outros Mundos"), Kardec fala sobre as revelações a respeito da vida de seres corpóreos nos diversos planetas do nosso Sistema Solar. Ele apresenta tais informações do seguinte modo: Para nós, que fomos cem vezes testemunhas destas comunicações, que pudemos apreciá-las em seus menores detalhes, que nelas escrutamos o forte e o fraco, observamos as semelhanças e as contradições, encontramos todos os caracteres da probabilidade; todavia, não lhes damos senão sob o benefício de inventário, a título de notícias, aos quais cada um está livre para ligar a importância que julga adequada.

Aqui temos "cem vezes" o testemunho e a análise minuciosa de comunicações levando a uma identificação de "todos os caracteres da probabilidade". Mas acontece que esta "revelação" específica está em profundo desacordo com o que é admitido pela ciência atualmente (vida relativamente semelhante à humana em Marte, Vênus, Júpiter, etc.). Se compararmos isso com os "cinqüenta não desmentidos" quanto à reencarnação, seríamos talvez levados atualmente à conclusão de que há "aí" (ou seja, na questão da reencarnação) "todos os caracteres da improbabilidade". (Barros: 2003, p.29)

Como você pode conferir pela forma que eu fiz a citação, tal opinião não é só minha. Estou demonstrando, item por item, passagem por passagem, que da crença em espírito até a reencarnação há tantos tropeços e inferências esquisitas que não batem com qualquer pretensão científica ou filosófica de um sistema fechado.

Os espíritas unanimamente argumentam que o esquecimento dos atos do passado, da vida anterior, é supostamente uma benção [é uma pena, contudo, que este esquecimento seja justamente o sustentáculo da dúvida na tese]. Ocorre que o que se dá no mundo espiritual não tem analogia no mundo terrestre, embora sejam aplicados nos mesmos seres, afinal, ninguém esquece os dados marcantes do passado naturalmente. O que me faz crer, contrariando o que a crença proclama, que a Lei de Deus não é a Lei da Natureza, senão teríamos uma contradição que periclita a própria tese que promove.

Acaso se eu cometo um crime, mesmo sem esquecê-lo, não posso me arrepender verdadeiramente? Acaso todo bandido defende a virtude do crime a vida toda? Acaso não existe reforma íntima e arrependimento verdadeiro justamente nesta vida? Onde mora, então, a lógica de expiar por um pecado que jamais se conhece, com causas nunca reveladas?

Sem duvida, entretanto, teríamos mesmo inconvenientes se soubéssemos que nosso filho ou nosso pai foi quem nos matou em outra vida, mas Deus não poderia proporcionar uma relação na qual não tivéssemos meios de nos vingar? Saber que nosso pai nos matou um dia, mas saber que também já matamos outras pessoas, também em outras vidas, já não nos daria compreensão mais do que suficiente para não sermos tão duros ou sermos indiferentes a este fato? Não é Deus onipotente o suficiente para criar este sistema? A humanidade não evoluiria em todo o globo mais rapidamente se já reiniciássemos de onde paramos, sem termos que cumprir os dramas da educação e cultura da adolescência?

Eu não poderia, ainda mais além, reencarnar num lugar inédito aos que me rodeiam, onde ninguém recorda do que eu fui ou fiz e vice-versa [destarte, livre da memória daqueles]? Não vejo razão alguma para que compulsoriamente conviva durante várias vidas no meio das mesmas pessoas? Deus acaso não é suficientemente inteligente para fazer com que passamos por provações sob diferentes circunstâncias que não necessariamente o resgate da dívida diretamente ao que me infligiu?

Ou então, ainda que eu reencarnasse no meio destas pessoas, as quais já conviveram comigo em outras encarnações, não poderíamos esquecer tão somente aquilo que representasse um obstáculo a minha evolução, sem esquecer o que não prejudica em nada? Por exemplo, que um dia morri no parto? Ou que fui uma outra vida um simples retardado mental? Ou aquelas determinadas encarnações, primitivas ou não, onde as pessoas do meu meio hoje não passearam comigo pela Terra? Por que precisamos esquecer necessariamente tudo se só algumas encarnações poderiam ser consideras perniciosas?

Não há respostas simplesmente porque não há lógica. O espiritismo faz tanto sentido quanto a teoria do Matrix, isto é, o sistema que propõe se fecha porque é ininteligível, intangível, incrível, improvável. Porém, coisa singular, não só não se refuta como não se prova cientificamente. Porque, em ambos os casos, tanto na Matrix quanto no espiritismo, não há o que refutar. Porque não ciência de qualquer evidência do espiritismo ou da Matrix. No tocante a coerência, ambos são igualmente sustentáveis. No tocante a cientificidade, ambos são igualmente improváveis. No tocante a imaginação, ambos são igualmente criativos [embora o espiritismo seja adaptação de crenças orientais]. Por que, pergunto eu, se aceita um e se refuta o outro?

Repito, não há respostas simplesmente porque não há lógica, embora assim pretenda os defensores desta tese ser.

Método

Ao espírita convém perguntar se o móvel da sua escolha é uma resolução religiosa ou científica. Se a resolução é religiosa, não passa pelas provas empíricas e não nos dá conclusões lógicas, o assunto está encerrado, ele acredita porque acredita, neste caso, não há mais nada a dizer. Mas se meu interlocutor responde que a base da sua crença é científica, é mister fazermos algumas observações. Como a reencarnação, mundo espiritual, pluralidade de mundos habitados são idéias não-comprovadas, o kardecismo é uma teoria. Dificilmente você ouvirá dizer que algum teórico moldou toda sua vida em pró de agir tal qual sua teoria prescrevia. Seria algo como crer que um teórico que formulasse uma tese incomprovada de que venenos de ratos curam câncer, caso este tenha câncer, realmente venha a ingerir o medicamento, em nome da teoria. Então, o que vemos no espírita? Ele acredita na sua teoria veementemente. Crença científica? Na verdade, tendo em vista que é ciência, a crença é numa teoria, e todas as orações, reformas íntimas, conversas mediúnicas, são conseqüências de uma hipótese. E tal hipótese delineia a vida inteira de uma pessoa que, segundo ela mesma, pois é ciência, não passa de uma teoria, de uma hipótese. Isto, se não é ridículo, é, no mínimo, risível.

Mas, em termos práticos, o que podemos dizer sobre a cientificidade do legado kardecista? O biólogo Julio César de Siqueira Barros [vide bibliografia] nos deixa um interessante legado sobre os passos do codificador.

Pelo menos professamente, Kardec era crente no indutivismo científico, ou seja, ele alegava a inexistência de idéias pré-concebidas em suas investigações (isto é, em seu modo de conduzir suas pesquisas). Tal idéia de Kardec, além de ingênua e incorreta (à luz das visões das filosofias da ciência atuais, e à luz do atual conhecimento a respeito do inconsciente inclusive, na área da filosofia da ciência, o termo "indutivismo ingênuo"), chega a se constituir em notável contradição para alguém que se acreditava "pré-concebido", ou seja, reencarnado: como pode alguém que é reencarnado não possuir idéias ou pelo menos intuições préconcebidas a respeito do espiritismo?

Kardec era claramente "elitista", acreditando que o trabalho intelectual é uma forma superior de atividade humana-espiritual, e que o trabalho manual é algo inferior a esse respeito. Existem críticas a seu respeito que dizem que ele relegava certo desprezo, no seus estudos do espiritismo, aos fenômenos físicos e à experimentação prática correlata (vide o texto do site kardecista Novavoz).

Era confiante em demasia na sua própria lógica (e confiante em demasia na "lógica" em si). Igualmente, não sendo médium, era confiante em demasia na sua intuição, ou seja, na sua capacidade de através do uso da sua intuição humana normal entender o que era apropriado para o movimento espírita que dirigia. Em pelo menos alguns pontos importantes, alterou o conteúdo de trechos de seus livros espíritas sem motivos claramente expostos, itens esses de graves conseqüências para a natureza e credibilidade do espiritismo (vide a questão da "tendência inata para o homicídio", presente na primeira edição do Livro dos Espíritos, de 1857 e retirada na segunda, a que se tornou a definitiva, de 1860. E também o texto considerado potencialmente "não apócrifo" de autoria de "Jesus de Nazaré", segundo relatado na parte final do Livro dos Médiuns, e que aparece novamente no Evangelho Segundo o Espiritismo com a assinatura alterada para "Espírito de Verdade" e principalmente com estranhas alterações no corpo do texto...).(Barros:2003,p.06)

Nesta crítica direta a Kardec, Julio Siqueira [como é mais conhecido], conclui que: “Kardec erigiu todo um sólido e robusto sistema de crenças (que ele rotulava de Fé Raciocinada) sobre um oceano abismal e tenebroso de dúvidas.” Assim começa a obra de Siqueira, primeiro, nos fazendo duvidar de quem Kardec é; bom, ninguém confiaria num mentiroso. A partir daí, então, Siqueira começa a explicar as bases do kardecismo, depois passa a contestar, não mais Kardec como pessoa, mas a sua metodologia.

Certa vez, em uma ata de reunião da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, se fez menção expressa à necessidade de que não fossem tratados temas que pudessem conflitar com dogmas religiosos, pois que havia em tal sociedade membros praticantes de vários credos religiosos! Isso é pouco conhecido mesmo de alguns bons estudiosos do espiritismo na atualidade, além de sem dúvida ser algo que parece bem estranho aos

nossos olhos atualmente. E causava, na época, muito mais estranheza ainda! Um outro aspecto "científico" no procedimento de Kardec era a importância que ele dava à "replicação" de uma determinada observação por vários “pesquisadores independentes". (Barros:2003, p.09)

Após explicar a metodologia de trabalho de Kardec, Siqueira demonstra a primeira contradição evidente: a de que Kardec afirma, em diversos momentos, que ninguém imaginou a explicação “espíritos” para tais fenômenos, mas ele mesmo afirma (Le: introdução) que o fenômeno já tinha sido observado outrora (1853), bem como na “mais alta Antiguidade”. Ainda cita o caso das irmãs Fox, no qual, uma criança de apenas 9 anos (1848) já entendia um personagem que conversava como um espírito (cf. Barros: 2003, p.13-14). A intenção de Siqueira, nesta parte do texto, não é a de demonstrar exatamente contradições, como farei exclusivamente em outro sub-capítulo, mas de nos fazer duvidar da credibilidade de Kardec e seu método. Voltando ao texto, Siqueira cita o evento curioso de que Kardec recebeu 50 cadernos de ilustres franceses com textos psicografados.

Sem dúvida, não se trata de nada de extraordinário, e é bem possível que tais cadernos de fato tenham existido e desempenhado papel importante na elaboração da primeira edição do Livro dos Espíritos. Um dado adicional curioso é comentado por Wantuil e Thiesen (Allan Kardec -Pesquisa Bibliográfica e Ensaios de Interpretação, vol. 2, pág. 71). Eles afirmam que o conteúdo de tais cadernos teria sido obtido principalmente através do trabalho da sonâmbula e médium Srta. Japhet. Se assim de fato foi, então os cinqüenta cadernos, obtidos pela Srta. Japhet, foram usados como insumos para os trabalhos junto com a Srta. Caroline Baudin, tendo o resultado de tais trabalhos sido posteriormente revisto pela Srta. Japhet, e daí levando à elaboração da primeira edição do Livro dos Espíritos. Ou seja: Japhet -> Baudin -> Japhet-> Livro dos Espíritos. Um percurso um tanto quanto circular e restrito. (Barros:2003,p.15)

Eu acrescentaria que é restrito demais para concluir qualquer coisa, e ingênuo demais para ser científico. Logo adiante, Siqueira deixa claro que o único lugar onde se encontra qualquer referência sobre Kardec ter escrito seu livro por “mais de dez outros médiuns” é o livro Obras

Póstumas, que é tão veementemente negado quando fala em racismo, entretanto, aceito quando fala de números favoráveis. Logo adiante, são destacados os trechos que falam sobre os métodos de comunicação com os espíritos (Lm n.153-155) e, em seguida, questionada sua fidedignidade. Mesmo na fase inicial das "pesquisas" de Kardec, com Caroline Baudin, a médium acabou utilizando-se da psicografia direta, apesar de não sabermos o quanto do Livro dos Espíritos foi obtido desta forma. O método anterior utilizado por Caroline Baudin, "cesta-pião", apesar de ser descrito por Kardec como imune da interferência do médium, possuía, contudo, um ponto especialmente fraco a meu ver, pelo que se pode compreender de sua descrição. Kardec diz: "Nem sempre é muito legível a escrita assim feita, por não ficarem separadas as palavras. Entretanto, o médium, por uma espécie de intuição, facilmente a decifra.". Com relação aos trabalhos com Caroline Baudin, não sabemos o quanto do trabalho foi obtido por psicografia direta, e não sabemos também, do que foi obtido através da "cesta-pião", o quanto constituía-se de textos cuja identificação podia ser feita apenas por ela. Já com relação à Srta. Japhet, a utilização de um mecanismo aparentemente mais suscetível de interferência do médium ("cesta de bico") somada à possibilidade de auxílio através do sonambulismo, são fatores que "enfraquecem" o fenômeno objeto de estudo. (Barros: 2003, p.20)

Em seguida, Siqueira questiona a confiabilidade investigativa e postura de Kardec.

Além disso, por mais que de fato Kardec possuísse cuidado com relação a fraudes, muitas vezes só pessoas com vasta experiência em técnicas de ilusionismo conseguem detectar possíveis pontos fracos em mecanismos como, por exemplo, os utilizados pelas médiuns em questão ("cesta-pião" e "cesta de bico"). E o mesmo pode ser dito com relação ao uso específico destes instrumentos, feito por estas duas médiuns específicas, nas várias sessões específicas acompanhadas por Kardec.

("Postura epistemológico-filosófica"), considero altamente criticáveis as afirmações freqüentes de Kardec de que ele "não partia de idéias pré-concebidas" e de que "ninguém pensou na hipótese 'espíritos'; foi o fenômeno que se nomeou como tal". Tais afirmações parecem ter como objetivo principal, senão exclusivo, construir uma respeitabilidade para as proposições de Kardec (ou para as proposições dos "espíritos" que foram através dele divulgados) perante a visão científica da época; e são, a meu ver, afirmações na verdade com uma base muito fraca. (Barros: 2003, p.21)

Depois disto, assim espero, começamos a realmente duvidar do que Kardec legou. Até que ponto o que ele escreveu é ou não confiável? Até que ponto ele confiou demais em seu método? Se não podemos confiar no autor, o que diríamos da obra?

Veja bem, aqui está em jogo se a crença na reencarnação pode ou não ser considerada como teoria científica; se pode ou não ser considerada com uma explicação racional [que não deve ser confundido com convincente]. A arrogância de Kardec certamente nos deixa grandes duvidas sobre se o que ele escreveu é digno de estudo.

A inteligência ser um atributo do espírito é reiterado em inúmeras passagens e um dogma sine qua non reencarnacionista que tenta justificar a diferença intelectual de cada ser através desta explicação: a cada encarnação na Terra eu estou, em relação a inteligência, inerte ou mais avançado, mais inteligente. Como podemos conferir: A inteligência é um atributo essencial do espírito; mas um e outro se confundem num princípio comum, de maneira que, para vós, são uma e a mesma coisa. (Le q.24)

Quero referir-me ao progresso moral, porque o intelectual avança sempre. (Le q. 785)

[Aqui há uma pequena contradição no kardecismo, pois se o espírito pode estagnar (q. 118), a afirmação de que ele avança sempre é errônea.]

Ao passar deste mundo para outro, o Espírito conserva a inteligência que tinha aqui?

— Sem dúvida, pois a inteligência nunca se perde. (Le q.180) A cada nova existência o homem tem mais inteligência e pode melhor distinguir o bem e o mal. (Le q. 393)

Esse item é extremamente importante para entender o erro kardecista em relação a hereditariedade, peço que tenha sempre esta observação em vista: Não confundais o efeito com a causa.O Espírito tem sempre as faculdades que lhe são próprias. Assim, não são os órgãos que lhe dão as faculdades, mas as faculdades que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos. (Le q.370).

Bem como a inteligência, segundo Kardec, as características psicológicas vem do espírito, o que é outro equívoco. Entretanto, da mesma forma que a inteligência, as características psicológicas também são passadas de geração em geração, a evidência deste conceito científico é quando vemos um filho que herda o temperamento do pai ou da tia, os trejeitos e manias, mesmo quando não há convívio, vide filhos de mães solteiras quando o pai nunca ou pouco interagiu, mesmo assim, com todo este afastamento, a criança tem mil manias e características psicológicas do pai. Ou seja, se as características psicológicas e, principalmente, a inteligência é herdada geneticamente, o espiritismo de Kardec perde todo sentido, afinal, não importa o que supostamente o espírito evolua, pois, na próxima encarnação, ele estará ancorado pela herança de seus antecessores telúricos, o que os amigos do além de Hippolyte Leon não previram.

Antes de ler o próximo texto, tenha em mente que, para o Kardecismo, os animais também têm alma (Le q.597a-599). E a inteligência, como sabemos, de acordo com Kardec, embora seja este Hippolyte Leon (1804-1869), pseudônimo de Allan Kardec. um princípio universal (Le q.72), é também o princípio essencial da alma (Le q.24), logo, não deveria ser manipulado quimicamente, pois a alma é semi-material.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 15/01/2010
Código do texto: T2030920
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