DESIGUALDADE SOCIAL

Quando a indústria vai desistir de produzir pensando em lucro e mais lucro? Quando o homem vai desistir de ter e mais ter? Quando desistiremos do conforto e da tecnologia? Quando gostaríamos de voltar ao candeeiro e ao ferro de engomar? Quando a ganância não nos moverá? Quando a maioria pensará em uníssono em prol do Bem social? Quando aprenderemos a economizar, a partilhar e a nos importarmos com a sorte do semelhante? Quando aprenderemos que as respostas para estas questões são sempre um tanto fingidas por parte de uns e inocentes por parte de outros?

Poderíamos continuar perguntando, inclusive porque acompanhamos e lemos as notícias sobre a desigualdade social, nos chocamos e depois nos esquecemos. E nos esquecemos porque é um modus vivendi moderno. Por exemplo, há campanhas contra o gasto excessivo de água. Depois dos comerciais e das leituras, abrimos e deixamos correndo as nossas torneiras.

A vida moderna é um moto contínuo, tudo funciona por toda parte o tempo inteiro: casas familiares, escolas, hospitais, empresas, indústrias, cinemas, hotéis, feiras, shoppings, festas, eventos os mais variados, bares, lavanderias, postos de lavagem de automóveis, lanchonetes, etc. E o que esperamos de um planeta explorado ao nível máximo? Que aconteça um milagre? Que este planeta se reconstitua imediatamente à exploração? É algo sob todos os pontos de vista, improvável.

A população se conscientiza aos poucos e depois esmorece quando descobre que nos palácios e em tantos outros ambientes, especialmente naqueles dos promotores de campanhas, a farra continua. É fácil notar que o nosso esforço tem uma serventia: deixar mais à vontade os ricos, os poderosos. Eles destroem o empenho dos mais humildes esbanjando sem parar e gastando o dinheiro do povo. E ainda dizem que não sabemos escolher, votar. Como saber se depois de escolhidos, quase todos mostram as unhas? É mais ou menos como fazem muitos namorados e namoradas. No início, promessas, flores, juras de amor, mar de rosas e mais alguma coisa. Depois, vem a convivência, o costume, a intimidade e a descoberta de outros mares. Bem assim votamos, conquistados pelos labiosos candidatos, por eles nos “apaixonamos” e entregamos a esperança em dias melhores.

Não prego a bandeira do pessimismo, mas considero a certeza de atravessar as leituras da evolução da civilização e chegar às experiências atuais na pele. Eram bons os faraós? Cumpriram promessas os imperadores? Foram éticos os reis, os governadores e qualquer outra autoridade mal ou bem constituída? São raras as exceções. Sempre existiu a divisão social entre poderosos e submissos. Sempre existiu a relação ordenar e obedecer. Tentativas de harmonizar não deram certo porque são muitos os habituados à voz de comando e que até se deliciam em obedecer e mitificar, endeusar autoridades. Preciso citar exemplos? Que acha o leitor da história de Perón? De Vargas? De Dom Sebastião? E até de Lula, que nem quer sair e, por outro lado, tantos também se acostumaram com ele “até que a morte os separe”.

E ninguém venha me dizer que isto é coisa de Brasil. Na Europa, gastam euros e mais euros para sustentar reis. Na Inglaterra e na Espanha é assim. O povo reclama, mas paga e até porque aprecia o charme nada discreto da monarquia. Enquanto estas e milhares de outras coisas acontecem, os mais fracos vivem o caos e a miséria social.