A criança abandonada no Brasil

Quando se fala em criança abandonada no Brasil o imediatismo nos faz supor que o problema é atual, devido ao aumento da população, desemprego, desintegração das famílias e outros males da atualidade. Porém, ao estudarmos a história da infância do nosso país, verificamos que essa mazela tem marcas profundas desde o tempo colonial, passando pelo império com a mesma intensidade, chegando assim à república e aos nossos dias.

Ainda no século XVIII se instituiu no Brasil a roda dos expostos, que era um sistema que utilizava um dispositivo, geralmente colocado no muro de uma Santa Casa de Misericórdia. Era constituído por um cilindro de madeira no qual se colocava a criança enjeitada do lado de fora. Girando o cilindro, uma pessoa do lado de dentro, alertada por uma sineta já deixada para esse fim, recolhia a criança sem ver quem a deixara. Esse procedimento persistiu até a década de 1950, apesar de ser um sistema que não correspondia às necessidades reais das crianças. Muitas delas eram doadas a famílias como “filhos de criação”, mas acabavam maltratadas, desamparadas ainda pequenas e muitas delas morriam sem assistência.

Em nossos dias a história de abandono continua, sem a roda dos expostos, mas com toda a gravidade que o fato acarreta. É assim que, séculos após o período colonial, continuamos convivendo com um quadro de desamparo à criança carente, inequivocamente igual ao triste sistema da roda dos enjeitados.

Além disso, abandono não é apenas “deixar” o filho para outra pessoa ou instituição cuidar. Muitos adultos mantêm os filhos junto a si, mas tão maltratados e sem assistência, que expõem as crianças à marginalidade, no sentido mais amplo da palavra, colocando a sociedade refém de uma situação com a qual não sabe lidar de uma maneira eficiente para sanar o problema.

É necessário mudar a história da infância do Brasil com boa vontade política e grandes ações, pois assistencialismo e filantropia não resolvem a questão, que é urgente e crucial.