Canal Aberto com o especialista

Atendendo a solicitações de leitores, envio um artigo especialmente escrito para o Clube da Dona Menô, do meu colega endocrinologista Eduardo Flores.

Quem tiver outra dica de tema médico ou queira fazer alguma pergunta sobre o texto abaixo, pode me enviar seu recado.

Leila


Osteoporose



Entende-se por osteoporose a perda de massa de osso além de uma determinada percentagem, quando comparada à média existente em um adulto jovem.

Como podemos ver, não é uma definição muito fácil, já que dentro deste conceito cabe analisar diversos fatores que contribuem para a massa óssea deste “adulto jovem”. Exercem influência sobre a massa óssea:

- Idade
- Sexo
- Raça
- Tipo e Intensidade de Atividade Física
- Biotipo (magro, gordo, alto, baixo)
- Exposição ao Sol e a Luminosidade
- Padrão Nutricional
- Herança ou Bagagem Genética
- Método de Avaliação da Massa Óssea
- Técnica de Avaliação da Massa Óssea.
- Tipo de Estrutura Óssea a ser avaliada (osso longo ou chato)

Ou seja, são muitos os fatores a serem considerados na hora de se estabelecer um diagnóstico de Osteoporose, ou mesmo, de Osteopenia, entendendo-se como OSTEOPOROSE a perda de massa óssea maior que 2,5 desvios padrões (uma medida estatística) da média para um adulto jovem pertencente àquela população a qual o paciente avaliado pertence (considerando-se todos os fatores que listei acima). OSTEOPENIA é quando ocorre uma perda de massa óssea, segundo os parâmetros descritos, mas que não exceda aos 2,5 desvios padrões da média para o adulto jovem da mesma população.



O método mais difundido, mas não o único, utilizado para a avaliação da existência de perda de massa óssea é a DENSITOMETRIA ÓSSEA. O motivo desta escolha se deve aos seguintes fatos:

Exame que não causa dor ou agressão significativas ao organismo.

Tem relativo baixo custo, quando realizado por pessoal qualificado.

Exibe uma boa reprodutibilidade, ou seja, a comparação entre 2 ou mais exames é capaz de se mostrar fiel à realidade dos acontecimentos, no que diz respeito ao que está acontecendo com o metabolismo ósseo daquele indivíduo estudado, embora, o erro entre 2 exames pode girar ao redor de 5%, quando realizados no mesmo aparelho e pelo mesmo técnico e em mãos experientes. Ainda pode variar muito mais, quando comparados com exames realizados em aparelhos diferentes e por técnicos diferentes.

Considerando-se estes aspectos, a importância desse exame se prende principalmente à oportunidade que ele nos oferece em medir a velocidade de perda óssea, particularmente quando esta for maior que 5% entre 2 exames realizados em um espaço de tempo de 12 meses no mínimo (quando se considera aí a perda da massa óssea que ocorre após a menopausa).

O osso é uma estrutura viva e está em constante renovação, ou seja, há uma constante atividade de absorção de osso que poderíamos chamar de “velho” (atividade osteoclástica, como se chama cientificamente), assim como há uma igual atividade constante de formação de osso que poderíamos chamar de “novo” (atividade osteoblástica). Esta atividade formadora de osso é preponderante desde a nossa vida embrionária, dentro do útero materno até por volta dos 21/23 anos de idade, que é quando atingimos o nosso pico de massa óssea. Nessa idade passa a haver um equilíbrio entre a formação e a absorção óssea, e por volta dos 35 anos em diante passa a ocorrer o contrário: a atividade de reabsorção passa a ser inicialmente uma pouco maior que a de formação, até que esta reabsorção vai progressivamente se intensificando com o passar dos anos.

Esse é o fluxo natural da vida e, além dos fatores descritos anteriormente, também contribui para regular a velocidade de perda da massa óssea - o chamado meio hormonal. Em relação os hormônios, podemos dizer que todos interferem na massa óssea, seja promovendo aumento (ex: hormônios sexuais e hormônio do crescimento) ou perda (ex: glicocorticóides, hormônios da tireóide e paratireóides).

Também a ingesta de cálcio e vitamina D é de suma importância para a regulação da massa óssea.

Doenças reumáticas, doenças do sangue, dos rins, diabetes, doenças respiratórias, do aparelho digestório, da nutrição, doenças infecciosas crônicas, doenças das glândulas endócrinas, o confinamento (particularmente ao leito), as deficiências nutricionais (principalmente na infância), a perda da função dos órgãos sexuais (menopausa ou castração) e uso crônico de alguns medicamentos estão relacionados a grandes comprometimentos da massa óssea.

Aqui, neste momento, de uma forma puramente didática, embora sempre exista a interação entre todos os fatores que descrevemos, falaremos particularmente sobre o que acontece no osso na fase pré, per e pós menopausa.

Um dos principais hormônios de formação e estabilização da massa óssea, tanto em mulheres (principalmente) como em homens, é o ESTRADIOL – também um dos principais hormônios sexuais femininos. Ele é um importante inibidor da atividade de reabsorção óssea (osteoclástica). Na perimenopausa (período imediatamente antes da parada completa da menstruação) há um acentuado declínio e irregularidade na produção deste hormônio pelos ovários, que evolui até a parada completa de sua produção (menopausa). Concomitantemente a este fato, ocorre em maior ou menor grau (dependendo de todos os outros fatores já descritos) um aumento da atividade de reabsorção óssea, que, se muito intensa e/ou ocorrer em um indivíduo que já possua por motivos diversos, uma baixa massa óssea poderá levar à osteoporose.

Essa osteoporose poderá levar a fraturas ósseas espontâneas ou, em sequência, a pequenos traumatismos, tanto de ossos longos (punho, quadril fêmur), como de ossos chatos (vértebras, costelas), podendo, inclusive, levar à invalidez.



O osso se comporta durante nossa vida como uma conta corrente bancária. Devemos no início de nossa vida fazer polpudos depósitos em nossos ossos com uma boa alimentação, prática de exercícios físicos, ingesta adequada de cálcio e vitamina D e adequada exposição ao sol para que possamos conquistar uma boa massa óssea no momento de seu pico aos 23 anos. Nesta fase é importante uma boa manutenção desses cuidados, visando o futuro, porque após a menopausa, mesmo tomando todos os cuidados, iniciaremos os saques nesta conta. Logo, quanto maior for o saldo, menor será o prejuízo!

Já entendemos que uma excelente prevenção para evitar a OSTEOPOROSE, mantendo a qualidade do osso na pós menopausa começa por uma boa nutrição, já de nossa vida embrionária, e que se estenda por toda vida, juntamente com hábitos saudáveis, como a prática de exercícios, a exposição saudável ao sol, uma dieta adequada com cálcio e vitamina D.

A perimenopausa nos parece, nas pessoas saudáveis, ser o momento ideal para a realização da primeira DENSITOMETRIA ÓSSEA. Será o exame basal (a base de dados) para que possamos saber ano a ano (quando os exames são repetidos) se aquela pessoa é ou não uma rápida perdedora de massa óssea.

De posse deste dado, podemos adotar as medidas necessárias à proteção daquele indivíduo. Na verdade, a velocidade da perda óssea se torna um dado mais importante que a existência ou não de OSTEOPENIA ou OSTEOPOROSE, dados estes que podem refletir um banco deficiente de massa óssea como reflexo de uma má nutrição na infância ou o curso de outras doenças no passado.

Como foi dito anteriormente, o pico de massa óssea ocorre no adulto jovem e, após essa idade, não é muito fácil se obter um ganho significativo da massa óssea, a não ser com o uso de hormônios sinteticamente modificados, de alta potência e elevado custo. No entanto podemos evitar, a um custo não tão elevado, com o uso de hormônios (particularmente o ESTRADIOL) ou com alguns medicamentos e oferta adequada de cálcio e vitamina D, associando-se os bons hábitos de vida, que ocorra uma perda acelerada da massa óssea existente na fase da pré menopausa.

É importante reforçar que a finalidade da reposição hormonal, o uso de cálcio medicamentoso, a reposição adequada de vitamina D e, eventualmente, o uso de outras medicações, tais como o RALOXIFENO, os BIFOSFONATOS (alendronato de sódio, residronato de sódio, ibandronato de sódio) visam tão somente à manutenção da massa óssea existente através da desaceleração da atividade osteoclástica (reabsorção óssea), que ocorre de forma mais acentuada logo após a menopausa e se estende, perdendo sua intensidade, até ao redor dos 65 anos de idade na mulher . Após esta idade a reposição hormonal e o uso do RALOXIFENO e dos BIFOSFONATOS descritos deverão ser suspensos, por não mais apresentarão atividade significativa. A reposição de cálcio (1g/dia no mínimo) e vitamina D (400UI/dia), no entanto, deverá ser mantida por toda a vida.

Existem alguns marcadores bioquímicos que podem ser dosados no sangue e/ou na urina, que expressam com maior sensibilidade as atividades de formação e reabsorção ósseas e que poderão ser eventualmente solicitados pelo médico que acompanha e cuida dessa patologia. Tais exames se prestam a um melhor ajuste e adequação da medicação necessária em cada caso em particular.

Eduardo Flores
Endocrinologia
CRM: 5227724/8