PAREDES QUE FALAM

por Tânia Du Bois

Você imagina e realiza. Uma parede com retratos de familiares e amigos. Fotos no quarto, no corredor, na sala, aonde der: pura emoção. São registros de viagens, brincadeiras de amigos e de momentos preciosos. São imagens espalhadas pela casa, que reassumem as lembranças.

Meço a distância dos amigos, esmaecidos /

amarelecidos // amigos resistem / nas fotografias /

e eternizados em juventudes // meço a memória

dos amigos / nas brincadeiras de antes //

conversa fácil, / atualizando a vida, / desde

quando fomos distanciados.” (Pedro Du Bois)

Paredes que falam, porque todos os que são amados aparecem nela. São fatos e fotos marcantes, colecionados com amor e carinho, com valor sentimental. São retratos que estampam poemas, coisas juntadas ao longo da vida.

“... O retrato revelou: / visão da poesia humana /

clarificada em doçura,...” (Murilo Mendes)

Paredes que falam, reúnem lembranças que conversam: o espaço é literalmente um ponto feliz. A fotografia paralisa e eterniza como recorte da realidade. Os retratos trazem a energia dos momentos que vivemos. O segredo está no uso de peças queridas na decoração, apenas para criar um novo e único mundo.

Lembro de Thomaz Farkas, o pioneiro da fotografia moderna no Brasil. Farkas, nas suas fotos capta, entre outras, cenas do cotidiano e, principalmente, os olhares; privilegia o elemento humano, ou o que é produzido pelo homem. É o fotógrafo que “eterniza cenas que palavras jamais definiriam...” Segundo ele, na fotografia, temos o olhar e o momento, e o segredo é como juntar os dois.

E o fotógrafo Valdir Ben, no livro “Cor e Forma na Escultura de Bez Batti”, soube juntar o olhar e o momento, transformado em obra de arte, como expressão simbólica: com o olhar torna a arte uma expressão e, com a suavidade da alma, mostra que o homem está entre o ser e a imagem.