ORÍGENES LESSA E AS CRIANÇAS
Orígenes Lessa dispensa comentários.
Quem o leu sabe, quem não, deve ler.
Tanto adultos como crianças.
Escritor consagrado, já maduro principiou na literatura infanto-juvenil deixando à garotada vários livros com a marca do seu estilo enxuto, direto e símples.
Eis alguns curiosos encontros de Orígenes com seus infantes leitores, narrados por ele:
"Em Mariana MG, numa palestra em escola, diante dos meus cabelos brancos (ou dos não cabelos) veio a pergunta:
"Que idade você tem? O Senhor nasceu quando?
Alguns já sabiam, claro (tinham visto na orelha do livro)
Para os que não sabiam eu iria contar.
-Mas não espalhem, combinado?
E eu acabava de informar que, por um triz, eu deixara de conhecer pessoalmente Pedro alvares Cabral ("voces sabem quem foi?), quando uma professora me diz ao ouvido:
-Lá no fundo tem um que deu um palpite curioso...
Todos o olham.
-Fale outra vez -diz ela.
O garoto não é de gaguejar nem de ter medo:
-Ele nasceu ontem...
-Como é?
-Pra mim foi ontem. Eu nunca tinha visto livro dele. Até que é bacana...
Gargalhada geral.
Palmas.
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Esta ocorreu em Ouro Preto. No tumulto do desabamento de um ´piso
onde Orígenes Lessa daria uma sessão de autógrafos diante de professoras, crianças, famílias e do secretário local da educação e cultura que,agora, ao telefone informava à Rede Globo que não houvera morte, apenas ferimentos leves, graças a Deus. Que Orígenes Lessa nada sofrera:
"Está até dando um autógrafo"... -acrescentou.
"Parece mentira, mas estava.
Não sei se aquele garoto era pálido ou se apenas estava.
Sei que ele acabava de passar pelas ruínas e me aborda, caneta em punho, o livro imundo:
-Já que ninguém faleceu, dá pro senhor me autografar um volume?"
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Essas acima copiei-as do delicioso livro "MILAGRE EM OURO PRETO. Ainda deste, na apresentação por Maria Antonieta Antunes Cunha, tem aquela do menino que queria porquê queria um autógrafo do seu autor preferido:
"Bem, à falta de livro, no aperto, o menino -oito ou nove anos- pega um papel no pátio da escola e tenta desamassá-lo às pressas, quando a orientadora busca convencê-lo que não era um papel adequado para o autor assinar -sujo, rasgado... Mas o menino já tinha a solução:
- Não tem importância, em casa eu passo a limpo."
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Abaixo estão, narradas pelo autor , algumas tiradas de "DEPOIMENTO":
"Uma sobrinha-neta (Os meus sobrinhos propriamente ditos já andam pelos 30 e 40), uma sobrinha-neta de 3 anos, curiosidade viva nos olhos, aproxima-se de uma tia comum, sem idade precisa, que lê para um irmãozinho de nove anos , um livro de autoria de quem vai terminar daqui a pouquinho este depoimento. O mais velhinho está empolgado. A caçulinha pouco interessada. Ouve, ouve, com tudo que tem de atenção. A certa altura, porém interrompe a leitura e, muito objetiva, pergunta:
-Tia, você tem outro livro escrito pelo tio?
-Tenho, claro.
-Então lê outro.
-Por quê?
-Esse aí tem muita palavra e pouca história.
Claro que o livro não era para a sua faixa etária...
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"Num colégio X, no meio das manifestações muitas de simpatia dos pequenos leitores, eu vivi um caso que me chamou a atenção. Uma garotinha de oito ou nove anos, me mandava um quase bilhete de amor: "Fulano" (era eu), "Muito obrigada pelo livro tal (não importa qual,digo eu). Foi o melhor livro que eu li em toda a minha vida" . Ela veio,sorriu, fiz-lhe um agradinho comovido na cabeça. Mas tive a curiosidade de perguntar: "que outros livros você já leu?" E ela, com a maior doçura do mundo. "Bom..Por enquanto só esse..."
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Um me festeja sempre que me vê.
É o repouso do guerreiro autor.
Há poucos dias nos vimos na rua, ele veio feliz, tinha uma boa notícia:
-Eu li outro dia mais um livro seu.
-Que bom. Gostou?
-Adorei.
-Qual deles?
-É...não sei o que lá de Orígenes Lessa.
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