TEORIAS DA VIAGEM NO TEMPO

Um dos maiores dilemas da sociedade humana são seus erros. Muitas pessoas quereriam voltar atrás e desfazer o erro cometido, escolher outro rumo na encruzilhada da vida, dar ouvidos a outros conselhos, seguir outra intuição, etc., e recuperar o tempo perdido. Muitos gostariam de desdizer palavras que destruíram relacionamentos, outros gostariam de desfazer erros cometidos e alguns gostariam de reconstruir toda a história de sua vida com o desejo de acertar onde erraram pelo que colhem a vida que levam.

A verdade é que, seja por causa das perdas consequentes ou por causa das pessoas que se magoou, muitos gostariam de simplesmente acionar as teclas CtrlZ, como se faz no computador, e voltar o tempo podendo desfazer o feito para fazer diferente no lugar.

Quanto a poder desfazer o que já se fez, porém, interessante é que, embora no computador isto seja possível, podendo, inclusive desfazer a exclusão acidental de uma arte importante simplesmente acionando as teclas CtrlZ, não se pode apagar da nossa memória o acontecido.

Aliás, desfazer seus erros, as ofensas ocasionadas, a mentiras proferidas, os efeitos devastadores aos outros, os erros fatais, etc., já foi um problema que muito preocupou os indivíduos. Atualmente as pessoas já não estão muito preocupadas em desfazer seus erros, humilhando-se e admitindo ter errado, mas desculpando os próprios erros ou minimizando sua importância. Muitos poucos arrependem-se dos efeitos trágicos que suas palavras e ações causaram aos outros, querendo desfazê-los apenas quando as consequências lhes prejudicam. Então quereriam ter uma máquina do tempo para reverter seus prejuizos.

Quanto a máquina do tempo, porém, e as teorias da viagem no tempo, seria realmente fascinante poder viajar no tempo e consertar grandes e pequenos equívocos que a humanidade cometeu por não conhecer o futuro. Talvez se pudesse advertir aos empreendedores do início do século XX sobre os efeitos devastadores da utilização do automóvel durante o século que passou, o que nós sabemos, ms eles não tinham como saber. Decerto de mão de um note book alguém poderia convencer Santos Dumont a não prosseguir em seu intento apenas mostrando-lhe que a decepção por causa do fim militar dado a sua invenção o levou ao suicídio.

Muitas teorias já foram inventadas sobre o tempo e a possibilidade de deslocar-se nele para frente e para a trás. Muitos filmes foram produzidos para vivenciar-se a hipótese da viagem no tempo. Na antiga série O Túnel do Tempo uma dupla de cientistas viajava para o passado sempre se encontrando em momentos chave da humanidade. Mas em vez de contribuir para melhoria do presente com alguma intercessão, eles apenas arranjavam problemas, que só conseguiam resolver por já conhecer o futuro dali para frente. Na verdade, uma teoria muito importante sugerida pelos autores da série determinava que não se pode interferir em qualquer evento no passado, pois isso causaria mudança contínua na linha temporal, resultando em mudanças radicais e devastadoras no presente.

Sabemos bem que uma pequena mudança na rotina de uma pessoa quase sem importância produz um efeito em cascata capaz de mudar a rotina de milhões de pessoas por todo o mundo. Todavia, imagino que se alguém tivesse matado Henri Ford uma outra pessoa teria produzido o motor a explosão, a linha de montagem, etc., e tudo teria sido exatamente como foi, como vê-se no filme Tempos Modernos de Chaplin.

Assisti a um filme, que não recordo o nome, onde o personagem viajou para o passado a fim de salvar da morte Johan Kennedy e descobriu no fim de sua operação que sua interferência resultou numa guerra nuclear, hipótese sugerida pelo criador do filme. Na verdade, porém, se fosse para haver uma guerra nuclear, outro presidente acionaria o botão.

O não poder interferir no passado ao preço de colher consequências indesejáveis no futuro é uma teoria comum aos filmes de viagens no tempo. No caso de Herbert Wells, sua ficção Um Século em 43 Minutos considera essa mesma teoria. Todavia, na ficção que ele projetou, ele viajou no tempo para o futuro a caça do Jack Stripador, que roubara sua máquina do tempo e, assistindo aos documentários do séculos XX, onde parou, descobriu em 1983 que o futuro se parecia mais com ele do que o passado, pois a violência tornar-se comum nesse tempo.

De igual modo, na série De Volta Para o Futuro a teoria sobre a não intervenção no passado é fato preponderante. Todavia, o autor arroja-se e mostra os efeitos da intervenção fazendo as personagens transitarem livremente através de grandes alterações por elas mesmas provocadas. E a eles é permitido não só mudar o passado, mas também conhecer seu efeito viajando para o presente e futuro, podendo, porém retornar ao passado para reverter a interferência, pondo a história em seu curso normal.

Sendo que não temos como viajar no tempo, filmes assim podem nos servir para ponderar quão importantes são as escolhas que fazemos a cada passo e que seus efeitos podem ter grande abrangência e consequências indesejadas imutáveis.

Voltando, porém, ao assunto viagem no tempo, pondo de lado o fascínio da fantasia, resta-nos a pergunta se será mesmo possível viajar no tempo algum dia. E o que seria mesmo o tempo? Ele se desloca para frente como uma estrada em linha ou seria uma pilha de dados que vai crescendo para cima? Ou, talvez, seja uma sequência de linhas paralelas, como dizem algumas teorias, cada uma sendo uma fração de tempo e em nossa viagem temporal através da existência saltamos de uma dessas linhas para a seguinte, podendo, por isso, virar-nos e retroceder?

Certo dia eu e um amigo conversávamos sobre os fascinantes avanços tecnológicos já conquistados pela humanidade e concordamos que, se formos sinceros, muitas coisas que nos são comuns, como a televisão, a transmissão via satélite, o computador, o celular, etc., há muito pouco eram tidas por impossíveis aos olhos de nossos antepassados, muitos deles gênios. Sendo assim, quem poderá negar a possibilidade da viagem no tempo tornar-se uma realidade no futuro, haja vista que as tecnologias se multiplicam surpreendentemente. Respondi-lhe simplesmente que se alguém fosse desenvolver uma máquina capaz de viajar no tempo em algum momento além do nosso nós já deveríamos ter conhecimento desse fato no momento atual pelo simples fato de que, a exemplo de nós, essa pessoa quererá conhecer o passado e certamente nele quererá convencer os presentes de que ele veio do futuro. E, se ele conseguir convencê-los, logo esse acontecimento tão estupendo se fará notícia nesse tempo e, sendo assim, tornar-se-á parte importantíssima da história desse tempo, pelo que nós, que estamos em tempo à frente daquele tempo, conheceríamos tal fato através da história do passado que chegou até nós. Sendo que não há na história qualquer relato de que alguém viajou do futuro além de nós para para o passado antes do nosso tempo, tal viagem jamais acontecerá.

Ele, porém, retorquiu, dizendo que não temos como afirmar, haja vista que não existiu nenhum tempo adiante do nosso ainda. Repliquei-lhe, porém, indagando que se ele fosse um viajante do tempo que retornasse a 1931 encontrando dois sujeitos lá, como faria para convencê-los de que já houve um tempo além do tempo em que eles estariam vivendo, sendo que esse tempo para eles seria o tempo mais atual. Sendo assim, sugeri-lhe que, se um dia será possível a viagem no tempo, ninguém nos garante que o momento em que estamos vivendo é realmente o momento mais atual e não houve ainda um futuro.

De qualquer maneira, o que é mesmo o tempo para que se possa deslocar nele de um momento para a atrás o para adiante dele?

Na verdade, o tempo não é uma esteira que segue para um momento mais moderno nos levando para lá. O momento mais moderno não existe. São nossas ações que produzem a modernidade. Ao contráio de ser essa esteira, o tempo trata-se de um palco vazio completamente inativo enquanto não há atores nele. O primeiro ator aparece e traz consigo uma pedra. Outros vêm depois dele trazendo cada um sua pedra e a cada nova pedra percebe-se que tem uma pedra a mais. Cada uma delas faz que percebamos que passou algum tempo entre cada uma e o conjunto de todas elas nos diz que passaram-se trinta minutos, sendo que o cenário evoluiu de vazio para uma pilha de pedras, um banco, uma palmeira artificial e um grupo de pessoas nos últimos cinquenta minutos. E nos próximos cinquenta minutos todas essas pessoas saem da cena levando os objetos até restar o cenário como a princípio. Quem chegar então, não perceberá a passagem do tempo, pois não houve atividade no momento em que esse ressém chegado estava assistindo. Ele sabe, porém, que o tempo está passando porque percebe que por algum tempo ele está parado diante de um palco inativo. Todavia, se ele não tivesse essa percepção, o tempo lhe seria sempre o mesmo, não passando jamais.

Portanto, o tempo não passa, mas nós e nossas atividades é que passamos pelo tempo, tendo então a impressão de que o tempo passa por nós. Na verdade, o tempo presente no dia 25 de julho de 1824, quando a Rua Saldanha da Gama era apenas parte da várzea que era o lugar onde hoje está o Cento de São Leopoldo, é exatamente o mesmo tempo presente no dia de hoje. Se tirarmos as pessoas, os objetos e a cidade o cenário ficará exatamente igual sem que tenhamos que voltar no tempo. E outras pessoas virão, porém, com os equipamentos evoluidos de agora e começarão a construir uma cidade que levará alguns anos para ficar exatamente como esta está agora e todo tempo anterior ao tempo atual será sempre tido como um tempo antigo. Se, porém, conseguirmos tirar a tecnologia que se desenvolveu de 1824 até aqui, as pessoas que vierem virão tão antigas quanto as que vieram em 1824 e tão atuais como aquelas pessoas vieram.

Logo, não existe diferença entre o tempo passado e o tempo atual. O tempo são marcas na mente de quem tem consciência das atividades que tiveram vez no palco do tempo. Se não houver atividade que deixe marcas no ambiente e não tiver uma mente na qual permaneçam registrados (ou registros na história) os eventos que fizeram essas marcas, ninguém dirá que o tempo passou, pois o tempo não terá mesmo passado, pois ele sempre esteve e estará aqui e nós é que viremos, aqui estaremos e iremos embora deixando nossas marcas no tempo, querendo dizer ambiente.

Portanto, como voltar no tempo, se não conseguimos reverter nossa passagem pelo tempo? Digo: somente poderíamos dizer que viajamos no tempo se conseguíssemos fazer nossa vida retroceder de seu curso (do estágio que nosso corpo e mente estão agora), mas não conseguimos. Todavia, podemos reproduzir o cenário do passado pondo no tempo atual as marcas que outrora aqui estiveram. Então teremos a sensação de ter voltado no tempo e, de fato voltaremos, pois viveremos exatamente como se vivia naquele tempo, exatamente porque podemos encenar no tempo o tempo que desejarmos encenar (e a modernidade e a antiguidade são apenas formas de encenação), mas só ficaremos encenando sobre o palco do tempo o tempo que nossa vida durar. Logo, quando ela terminar, nosso tempo terá passado porque ela terminou e não teremos mais consciência do tempo porque na morte não se tem consciência de nada.

Sendo assim, resta-nos fazer o melhor da nossa vida no tempo atual, pois esse é o nosso tempo, o tempo que temos, e é o único tempo do qual podemos fazer uso para fazer o melhor de nossa vida e decidir nosso futuro, pois o tempo não volta e a vida que tivemos não voltará jamais. Entretanto, Jesus voltará para desfazer as marcas ruins que fizemos no curso da história da humanidade e todas as lembranças ruins serão apagadas, pois Ele fará retroceder o curso de nossa vida e começaremos tudo de novo tendo a Cristo como referência. Então não mais quereremos retornar no tempo para desfazer nossos erros, simplesmente pelo fato de que nunca mais erraremos.