“UMA VERDADEIRA ODISSÉIA PARA SE MANTER VIVO”

Sem vagas em hospitais, pacientes renais ficam sem tratamento

Transmito abaixo, na íntegra, duas belíssimas reportagens publicadas hoje no jornal “O Globo” sobre a situação real por que passam os doentes renais deste país. Na primeira reportagem o “jornalista Fábio Fabrini”, descreve a penúria dessa gente da seguinte forma: Belo Horizonte. Faltam duas horas para Bonfim, cidade de 6,6 mil habitantes, no Centro-Oeste mineiro, acordar, e o auxiliar de produção Euler Elias de Jesus, de 36 anos, já está de pé. Às 4h, pula da cama, se ajeita e “caminha dois quilômetros” até o ponto do ônibus que o levará a uma máquina de hemodiálise. O veículo surge no breu e, até o centro de Nefrologia da Santa Casa de Belo Horizonte, a cem quilômetros, leva quase duas horas recolhendo pacientes e entregando-lhes em hospitais. Euler perde “oito horas do dia”, um sacrifício que se repete três vezes por semana, há “cinco anos”, por falta de unidades mais próximas de casa. Nesta mesma reportagem o jornalista destaca, ainda, que, Euler, apesar dessa situação caótica, dispõe de uma situação “privilegiada”, considerando que, nas estatísticas de saúde no Brasil, em 2009, um quinto dos doentes renais não foram tratados nas clínicas do setor por falta de estrutura e diagnóstico.

Numa outra belíssima reportagem sobre o mesmo tema, a “jornalista Catarina Alencastro”, relata o seguinte: Brasília. Às 9hs da manhã, Virginia Pereira da Silva, Ana Lopes Cardoso e Antônia Ferreira dos Santos, deixam suas casa em Arinos (MG), com destino a Unaí, num “trajeto de 150 quilômetros”. É só a primeira parte da viagem. Ainda vão enfrentar, com outras 37 pessoas, “mais 150 quilômetros” num ônibus fretado pela prefeitura. Todos têm a mesma sina: Pacientes e seus parentes, rumo a um centro médico no entorno de Brasília, na cidade de Valparaíso de Goiás, onde farão sessões de hemodiálise. A viagem é apenas o começo desse longo dia, que só vai terminar “às 2h da manhã”, quando as três chegam de volta em casa.

A jornalista relata, também, que no trajeto, um enfermeiro acompanha os doentes. Alguns passam mal. Muitos levam marmita. Todos esses pacientes são aposentados e a maioria tem mais de 50 anos. A viagem ainda traz alguns riscos, explica o enfermeiro, que trata os pacientes de Unaí . Os dois principais fatores de riscos para a falência dos rins são a hipertensão e a diabetes. A maioria dos pacientes sofre de um desses problemas, o que aliado ao cansaço da viagem, pode ser perigoso. Há chances de um deles ter uma crise fatal, tamanha a sobrecarga gerada ao organismo. Com o desgaste da viagem, a pressão deles vai lá pra cima. A vida desses pacientes está sempre por um fio.

Mais abaixo, no mesmo jornal, aparece uma outra nota: O Ministério da Saúde alega desconhecer os números sobre o déficit no atendimento a pacientes de hemodiálise e argumenta que quase triplicou os repasses anuais para o setor.

Infelizmente, não dá para acreditar no que o governo afirma. Nos dois relatos acima, louve-se, inclusive, o belíssimo trabalho jornalístico, as pessoas são reais, as cidades citadas são reais e só ir lá e conferir. Este é um pequeno exemplo do que ocorre de fato com a saúde deste país. Este mal é sistêmico. Entra governo, sai governo, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. Todos são farinhas do mesmo saco.

Falta fiscalização, falta controle, falta seriedade, falta objetivos e comprometimento sério para resolver este problema crônico que, afeta, sobremaneira, os menos favorecidos.

E pensar que o presidente Lula, declarou há algum tempo atrás que, “a saúde neste país estava perto de alcançar a perfeição”, após submeter-se àquele check-up anual, rotineiro, com tratamento vip, num dos hospitais de São Paulo mais bem aparelhados do país, um privilégio exclusivo para aqueles que estão no Nirvana.