AS VEIAS ABERTAS da CARA de PAU

Engraçado relembrar as coisinhas da esquerda (por esquerda devemos considerar aqueles que defendem o programa geral da burguesia expresso na declaração universal dos direitos humanos, misturando-o a algum arrepio no cabelo despenteado do socialismo de botequim secundarista pós-guevarista e neoleninista).

Eu era (e continuo sendo) entusiasta das teses do Enrico Berlingher, secretário geral do PCI (Partido Comunista Italiano), principalmente a do compromisso histórico, que gerou uma coalizão do centro direitista da Democracia Cristã com os comunistas e os socialistas, ficando o PCI de fora do governo com a função de fiscalizar os atos emanados dele. Vêm daí várias ideias que desembocaram na Operação Mãos Limpas.

Admirava igualmente a Pietro Ingrao, e a concepção por ele cunhada: Terceira Via, que seria um caminho entre a social democracia e o chamado erroneamente comunismo, e lia com atenção a Norberto Bobbio, cujo debate com os marxistas era interessantíssimo.

Betino Craxi também me despertava a atenção, estabelecendo o veio histórico do PSI (Partido Socialista Italiano), não em Marx, mas em Proudhon, e mesmo se corrompendo no Poder, um escândalo de cifras muito menores do que o Mensalão, vale a pena conhecer suas ideias de então.

Felipe Gonzalez, Santiago Carrillo e François Miterrand também participavam da ebulição das ideias deste momento, mas eu prefiro os comunas italianos e espanhóis, que baseados nas teses de Carrillo, Berlingher e de Ingrao, criaram o conceito do Eurocomunismo, cuja tese é a de um poderoso movimento de massas trabalhadoras, que das organizações controle a hegemonia do Estado, através do Parlamento, reconhecendo a democracia como valor universal. Teses, por sinal, nascidas do pensamento sofisticado de Gramsci.

O PT sempre criticou as teses e os criadores, chegando a denominá-los “traidores”. Não é para menos. Durante a redemocratização, nós, (eu era do movimento estudantil e do antigo PCB), lutávamos contra a Ditadura. O PT lutava contra nós.

Éramos acusados de prestar culto às personalidades dos nossos líderes (de acordo com o casuísmo: Lênin, Stalin, Prestes, Brizola, os italianos).

Me lembrei disso outro dia, quando dei de cara com um cartaz do filme do Lula.

Do ponto de vista da sabujice bajulacionista, uma obra-prima. E não me venham dizer que o cineasta é bom, tadinho, sofreu acidente. Lamento o fato e execro o filme.

Não que Lula não mereça filme.

Merece sim.

Deveríamos contar como ele serviu à ditadura, praticamente como interventor (interventor sim, quem concorre em chapa única em época de exceção é interventor), (ou seja, pelegão atrelado ao Ministério do Trabalho e ao então temido SNI (afinal, concorreu em chapa única, primeiro em cargo de diretoria e depois como candidato a presidente, isso depois de desfeita a chapa de oposição na qual concorreria como suplente. Lulinha foi o único que saiu da cadeia a tempo de concorrer. Qual a mágica? Pergunte ao pó.))

Do ponto de vista do culto à personalidade, Lula, ou melhor, Lord Mensalóide, dá de dez no Stalin, no Fidel, no Saddam, no Mao, em quem aparecer. Até porque eles todos, não importa como apareçam, eram (há quem deles seja), revolucionários de verdade, não tinham tempo de ficar na base do espelho meu, equilibrando copo de cachaça (ah, você acha que não é assim e que são todos assassinos, vampiros, demônios, tá, pega o que eram os lodaçais nos quais derrubaram as estruturas arcaicas, e de calculadora armada no pc, vai vendo quantos comem, quantos estudam, como é a saúde, e veja quantos trabalham de fato e de direito, sem precisar de Bolsa isso, bolsa aquilo).

Agora, eu me pergunto, aonde estão os caras que criticavam tão azedamente o culto à personalidades da velha esquerda?

Na fila do cinema, bandeirinha numa mão, pipoquinha vermelinha na outra.

Pelo menos o Chapolim Venezuelano lia Galeano (não é lá grande coisa, mas bem melhor do que o filme).