Fonética e Fonologia um encontro de evidencias para as novas ciências educacionais
Fonética e Fonologia um encontro de evidencias para as novas ciências educacionais
Traçando um paralelo entre linguagem cinematográfica e linguagem humana, evidenciamos que ambas foram criadas aos poucos atendendo a uma necessidade específica da época. No decorrer da vida histórica, ideológica e verbal de cada geração, em cada uma de seus grupos sociais, possui sua linguagem; além disso, substancialmente, cada grupo etário tem seu 'falar', seu vocabulário, que, por sua vez, variam segundo a classe social, o estabelecimento escolar e outros fatores de estratificação. Percebe-se então que é a linguagem que nos diferencia do animal, não que estes não possam se comunicar, mas só ao homem é creditado a criação da linguagem, cujo sistema é complexo e bem elaborado. A linguagem trata-se de um sistema simbólico, ou melhor, um conjunto de signos arbitrários em relação ao objeto que representa de forma convencionada.
Por ela o homem é capaz de projetar o seu futuro e rever o seu passado, cria-se o mundo pela linguagem. Ela abriga em si certa estabilidade em relação ao mundo natural, devido à possibilidade de ser transmitir conhecimento e cultura, além de ter a possibilidade de registrar através da escrita, e mesmo que seja um mundo de idéias, porque não dizer teórico, ele se mostra mais sólido do que o mundo físico. Segundo Almandrade:
A fala toma conta da coisa (...), o objeto depois de nomeado, passa para o mundo da linguagem (...), o homem se aproxima ou se distancia do mundo e das coisas, apropria-se do real e tenta dominar o desconhecido. A coisa e o mundo torna-se imagens e conceitos (...). Na busca da cômoda ilusão de ver um mundo ordenado e deter o incômodo do desconhecido, o homem usa do poder da palavra, subtraindo o ser da existência, mergulhando-o no nada da linguagem (...). A compreensão equivale a um assassinato da coisa, o conceito é a ausência do ser. (ALMANDRADE, 2006)
Avançar na compreensão do processo de aquisição da linguagem, como também os elementos de sua estrutura significa também trazer mais luz a própria compreensão de nossa espécie. Afinal, a língua e sua aquisição são duas de nossas mais peculiares características que nos distingue como seres humanos. Podemos acreditar que a faculdade da linguagem articulada é a forma que o homem descobriu para se auto-afirmar como ser e dominar o mundo. O homem, ao nomear as coisas e objetos, passou a ter o controle sobre o universo, organizando o espaço em que vive e superando o desconhecido pelo desejo de conhecimento. A tudo e a todas as coisas, o homem atribuiu sentido, designou funções, nomeou coisas e se impôs perante os outros seres.
A linguagem verbal por sua vez é estruturada a partir de um sistema de signos, que é a combinação arbitrária de um significante com um significado. Onde o significante é a imagem acústica ou visual, é através do significante que expressamos a imagem mental (através da análise de uma seqüência sonora que será a base para a analise do corpus) já o significado é o conceito, a idéias que fazemos de um objeto ou da realidade, pode-se afirmar que a linguagem elege determinadas partes da realidade para nomear, por isso ela recorta a realidade.
Linguagem, pensamento e cultura são objetos indissociáveis, é por meio da linguagem que o homem expressa seu pensamento que é fruto da cultura, temos assim o pensamento concreto que é imediato e o mediato que é mediato e racional. Ela segue um repertório, além de estabelecer regras de combinação dos signos assim é preciso que conheçamos esse repertorio para afirmarmos que dominamos uma língua. Esse fato vem ao encontro com a proposta teórica de Chomsky, na qual ele postula diferentes níveis da gramática e a inter-relação entre eles. Evidenciamos essa interdependência uma vez que a linguagem caracteriza-se pelas seqüências de sons permitidos ou excluídos na língua em questão, o estudo da estrutura sonora das línguas pertence à Fonologia. No que tange a combinação desses signos levamos em consideração aspecto semânticos e sintáticos.
Em forma mais ou menos direta, os valores e as visões de mundo dos grupos locutores, determinados social mente e historicamente, determinam a sua língua.
Sabendo que essas são sistemas de comunicação criativos, arbitrários fundamentalmente orais, complementares gráficos, compostos de símbolos com significados convencionalizados, que ocorrem dentro de uma determinada comunidade ou cultura, estando a ela intrinsecamente ligados, ao alcance de qualquer ser humano e assimilados por todos de forma semelhante, possuindo, diferentes línguas, entre si, características universais.
Na linha das observações feitas acima sobre a noção de língua, a noção de sentido também será definida em termos de estrutura, isto é, o sentido tal como a língua não constituí um dado de observação, mas um objeto da teoria, uma construção do lingüista, um objeto de estrutura, enfim. Deste modo, nossa observação vai ao encontro do conceito de sentido estrutural, conceito de natureza puramente formal e cuja objetivação só pode dar-se no interior da codificação da linguagem, entendida como estrutura.
Na medida em que o sentido não constitui um dado de observação, pois se trata de algo abstrato, pressupomos então que os enunciados de uma determinada língua têm valor semântico, não podendo fazê-lo senão pelo método da absorção mental do que é convencionado pela sociedade.
A língua é constituída de variações, onde seus usuários classificam-na de acordo com a posição social que ocupam, portanto esta pode ser de prestigio, estigmatizadas ou neutras, assim sendo, a língua por ser uma atividade criadora e por permear por vários espaços sofrem influências que resultam em mudanças onde estas podem ser etárias, socioeconômica, de gênero, geográfica, enfim são muitos os aspectos que provocam essa flexibilidade na língua.
Toda mudança significativa que se verifique na língua é, inicialmente, uma variação individual, mas nem todas as variantes fazem parte dessa mudança. Cada traço característico dessa mudança existe, a princípio, como tendência, muitas vezes estereotipadas no sentido de menosprezar ou valorizar algumas variedades lingüísticas, nos reportarmos assim à gramática normativa.
Na verdade, a conjunção do descritivo e do normativo efetuada pela gramática tradicional opera uma redução do objeto de análise que, intrinsecamente heterogêneo, assume uma só forma: a do uso considerado correto da língua. Na maioria dos casos, é esse uso o único que vai ser estudado e difundido pela escola, em detrimento de um conhecimento mais amplo da diversidade e variedade dos usos lingüísticos.
Evidentemente todo estudioso de linguagem compreende que não há língua “mais lógica” melhor ou pior, rica ou pobre. Todas as línguas naturais possuem os meios necessários para a comunicação entre seus falantes. Se uma língua não possui um léxico extenso num determinado domínio, significa que os seus falantes não necessitam dessas palavras; caso contrário, ao entrar em contato com novos contextos, os falantes dessa língua serão fatalmente levados a criar novos termos ou tomá-los emprestado. A partir disso, fica claro o conceito de Chomsky no qual dirá que a criatividade é o elemento diferenciador da linguagem humana, onde no ato da fala está expressa a capacidade do individuo de criar o que constitui seu desempenho lingüístico.
Pensamos a linguagem e somos o que a linguagem nos faz ser. Construímos e destruímos mundos diferentes. Podemos estreitar relacionamentos ou nos distanciarmos de relações com o exterior. A partir do momento em que falamos, abandonamos o nosso estado natural e passamos a dominar tudo o que existe no mundo. Criamos novos objetos e seres dentro e fora da realidade, nomeando o que nos cerca e fazendo de nós donos do real e do imaginário. Por ser a linguagem um fenômeno complexo, que não se esgota no estudo das características internas à língua em termos de propriedades formais do sistema lingüístico, mas se abre para outras abordagens que considerem o contexto, a sociedade e a história.
REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES:
ALMANDRADE. O nome do belo. São Paulo, 2006. disponível em: http://www.artebrasil.com.br/almandrade.htm> acesso em 13/06/2006.
ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena. A linguagem. In:-. Filosofando: Introdução à Filosofia. 2. ed.rev.atual. São Paulo: Moderna, 1993. p. 11-16.
MANDRYK, D; FARACO, C. Alberto. Língua Portuguesa. Praticas de redação para estudantes universitários, 11 edição, Editora Vozes, 2004.
SILVA, Thais Cristófaro. A linguagem. In:-. Fonética e fonologia do Português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 6. ed. ver. São Paulo: Contexto, 2002. p. 11-19.