Café? ! ...Porção mágica ou espinafre do Popeye

O poder da Cafeína

Existe uma porção de drogas que promete, promete, promete … E como a maioria dos políticos, faz muita fumaça e pouco fogo. Na onda das academias é comum ouvi falar desse ou daquele “produto” ... Que é bom pra “isso” pra “aquilo” e por ai vai... Todavia a maioria não passa de apelo propagandista da indústria de aparência, que irresponsavelmente promete milagres imediatos, sem se dar conta que para isso compromete a própria “árvore dos frutos de ouro”. Na verdade, o que está sendo oferecido é um autêntico coquetel “molotov”, que lentamente explode dentro dos consumidores atraídos pelos resultados imediatos e ávidos pela boa forma física escultural de um corpo atlético, sendo assim, acabam tornando-se presas fáceis dessa indústria. Alguns desses representantes, na busca incansável pelo lucro, até se valem do conhecimento científico da nutrição a respeito do importante papel desempenhado pelos aminoácidos na síntese de proteína no interior dos músculos. Procurando, por conseguinte, apresentar seus coquetéis dentro de uma pomposa cripta científica, dando-lhes um ar meio que “Einstein”... algo de cibernético ou sei lá o que!!! Mas, na verdade, tudo isto não passa de um “grande elefante branco” cheio de propaganda embrulhado em papel de presente.

A cafeína, ao contrário, é uma droga que foge a exceção para a regra geral contra o uso de estimulantes, continua sendo um medicamento controlado - restrito nas competições atléticas. A cafeína pertence a um grupo de compostos lipossolúveis denominados purinas (1,3,7-trimetilxantina) - encontrados in natura nos grãos de café, nas folhas de chá, no chocolate, nas sementes de cacau e nas nozes de cola - que são acrescentados com frequência às bebidas gaseificadas e aos medicamentos não etílicos. Sessenta e três espécies de plantas contêm cafeína em suas folhas, sementes ou frutas. No Brasil, 85% da ingestão de cafeína resultam do café, 15% do chá e o restante dos outros produtos. Uma xícara de café contém entre 60 a 150 mg de cafeína, o café expresso cerca de 100 mg, o chá fermentado entre 20 e 50 mg e os refrigerantes cafeinados aproximadamente 50 mg. Como sistema de comparação, 2,5 xícaras de café coado contém 250 a 400 mg de cafeína. Isso produz concentrações urinárias de cafeína abaixo dos limites aceitos pelo COI de 12 mg/ml e dos limites no Comitê Olímpico Brasileiro de 15 mg/ml. O trato intestinal absorve rapidamente a cafeína, com as concentrações plasmáticas máximas sendo alcançadas dentro de 1 hora; no entanto, é eliminada pelo corpo com bastante rapidez. São necessárias de 3 a 6 horas para que as concentrações sanguíneas de cafeína sejam reduzidas à metade, em comparação com cerca de 10 horas para outros estimulantes, como a metanfetamina.

Ergogênia

A ingestão de duas xícaras e meia de café cerca de 1 hora antes do exercício prolonga de maneira significativa a endurance no exercício aeróbico moderadamente extenuante, o mesmo acontecendo com o esforço físico de maior intensidade e menor duração. Dessarte, a cafeína por ser um estimulante cortical atuando no sistema nervoso central por intermédio das sinapses, propicia uma melhor tolerância ao esforço resultante dos exercícios físicos. Ela acentua a produção de neurotransmissores (beta-endorfina e dinorfina), que dentro da corrente sanguínea provoca a sensação de bem estar, e, além do mais, provoca efeitos broncodilatadores e vasodilatadores que facilitam a prática de exercícios aeróbicos.

O efeito ergogênico ocorre até mesmo quando a ingestão de cafeína é feita imediatamente antes do exercício. Segundo dados científicos, do centro de treinamento avançado da aeronáutica, os fundistas de elite que consumiam 10 mg de cafeína por kg de massa corporal imediatamente antes de uma corrida na esteira rolante até a exaustão conseguiam prolongar acentuadamente o tempo de desempenho em até 2%, em comparação com o placebo ou as outras condições de controle. O ser humano normal pode realizar 90 minutos de exercício com cafeína, em comparação com 75 minutos sem ela. Apesar dos valores para frequência cardíaca e captação de oxigênio durante os dois ensaios serem semelhantes, a cafeína também fazia o trabalho “parecer mais fácil”, em função do efeito provocado sobre o sistema nervoso.

Os estudos ainda comprovaram que o consumo de cafeína antes do exercício elevava o metabolismo da escovação das gorduras, uma vez que torna mais eficiente o trabalho das enzimas responsáveis pela quebra das moléculas de gordura do tecido adiposo, bem como facilita também o transporte destas até o músculo para serem disponibilizadas como energia para contração muscular e, como consequência, acaba por reduzir a oxidação dos carboidratos, na forma de glicogênio muscular e hepático, que é o combustível de mais fácil absorção pelo mecanismo da contração muscular, deixando esta importante reserva em “stand bay” para os momentos de maior demanda ou para o “sprint” final. Chegou-se a esta conclusão tomando por base os níveis plasmáticos de glicerol e de ácidos graxos livres na corrente sanguínea e no quociente respiratório dos atletas meio-fundistas. As doses de cafeína mais altas também induziam um efeito ergogênico sobre a prova de longa duração (ex: iroman), porém alguns indivíduos ultrapassavam o limite de dopagem do COB para as concentrações urinárias de cafeína. Curiosamente, a cafeína é a única substância para qual os limites urinários foram estabelecidos pelo COI, ou seja, até determinado limite não é considerado o dopping. O efeito ergogênico de cafeína sobre o desempenho de endurance se aplica também ao exercício aeróbico realizado em altas temperaturas ambientes.

A cafeína proporciona também um benefício ergogênico durante os desempenhos máximos de natação completados em menos de 25 minutos. Os tempos parciais melhoram significativamente com a cafeína para cada 500 metros da prova de natação. O tempo total para a prova de 1,9% em média mais rápido com cafeína que sem ela (20:58 versus 21:21). O melhor desempenho com a cafeína estava associado com concentração plasmática mais baixa de potássio antes do exercício e níveis sanguíneos mais altos de glicose no final do teste. Isso sugere que o equilíbrio eletrolítico e a disponibilidade de glicose podem ser fatores-chave que influenciam o efeito ergogênico da cafeína.

Já em outro teste, os indivíduos recebiam placebo ou cápsula contendo 4mg de cafeína por kg de massa corporal 1 hora antes da competição de triathlon. Todos os testes com cafeína resultaram em uma melhora significativa de 24% de desempenho. Entretanto, não foi observado qualquer benefício nas quantidades superiores a 5mg/kg de massa corporal. Para todos os indivíduos, apenas a dose mais baixa de cafeína produzia concentrações urinárias de cafeína abaixo do limite do dopping estabelecido pelo COI, um achado de grande importância para o atleta competitivo de elite.

Bom, como em tudo que fazemos, devemos ter uma relação de moderação. Não vamos sair por ai tomando café como quem toma água. Daí é que surge o “blablablá”, e muitos dos mitos que rolam na academias. “Ah! Café é bom pra emagrecer, pra fôlego, pra o ganho de massa muscular, pra resistência física, coração ... tesão e etc.”. E por aí vai, a imaginação é o limite...

Então, galera, moderação é a palavra “chave”.

(Fábio Omena)

Ohhdin
Enviado por Ohhdin em 08/01/2010
Reeditado em 22/11/2015
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