ALÉM DE TODOS OS LIMITES

Fatos mais pretéritos irão povoar o contexto deste artigo, quase inteiramente já faz algum tempo rabiscado. No entanto, o enredo central da tragédia dos dramas quotidianos continua intacto, quero dizer, a veemência é cada vez maior e atual, no cenário da violência urbana.

Agora mesmo, há dois dias, em nosso Estado, na pacata cidade de Pedra Branca, sertão central do Ceará, desenrolou-se um assalto cinematográfico e simultâneo em duas agências bancárias, numa loteria e na agência dos correios. Cerca de quinze homens fortemente armados, que impuseram o terror àquela população em pânico. Quatro assaltos simultâneos, sendo estipulado um roubo de cerca de um milhão e meio de reais.

Enquanto o Congresso Nacional discute se a barba de Maomé era azul ou cor-de-rosa, gastando verborragia em tentativas de instalar CPIs de faz-de-conta e eleitoreiras, enquanto uma deputada se saracoteia na “dança da pizza”, sem governo, deitando e rolando sobre leis frouxas e totalmente superadas, criminosos da pior espécie, em completa impunidade, no Brasil inteiro, tomam conta do País e disseminam o terror. E os escândalos de verbas públicas escondidas na cueca e nas meias, sob um festival de “Panetones”, tudo para embalar a corrupção e bandalheira nos setores da política nacional.

Imperam o descalabro e a insegurança no nosso sistema social, político, econômico, carcerário e até jurídico, de sul a norte, e o crime corre solto para o orgasmo dos inúmeros bacharéis chicaneiros que proporcionam uma verdadeira farra constitucional, com base no instituto do habeas-corpus, aliás, muito justo, porém só para quem lhe faça jus.

Sem nem falar no narcotráfico, que dizem gerar milhões e milhões de dinheiro sujo. Contudo, ele, narcotráfico, assassina as consciências humanas, corrói e escangalha, sobretudo, os mais jovens, a produzir mais e mais desgraças. E o dito “crime organizado” tripudia da babaquice de uma sociedade indulgente que vota ruim e ainda cobra muito pouco das tão famosas, corruptas e aclamadas elites do poder político brasileiro.

O assalto, o roubo e o furto, o estelionato, o seqüestro ou o estupro, tudo isto ainda é café pequeno perante o placar macabro daí decorrente: o crime, além de praticar todas essas atrocidades, simplesmente mata, tira valiosas vidas. E mata por dá cá aquela palha.

Quem assim diz, sabe-o bem. O subscritor destas linhas teve seu sogro assassinado, dentro de casa, no Recife, e os dois bandidos que o mataram só continuam enjaulados, na ilha de Itamaracá, por conta e obra de um filho do morto, advogado, que, há anos, planta pé de guarita nas instâncias legais, a fim de manter na prisão a dupla de malfeitores.

E meu sogro era homem do bem, cidadão pacato e trabalhador, pagador de impostos, uma pessoa ordeira. Antes de abrir seu cofre, para entregar o fruto do próprio suor, torturado, pernas golpeadas a facão, um dos punhos quase decepado. Jamais escrevera eu uma só linha sobre tal fato. Hoje, após anos e anos, aquela barbaridade ainda me indigna e emociona.

Relembro, aqui, a tragédia da família de minha mulher para associá-la aos fatos que, em dias atuais, aconteceram em São Paulo. O levante sujo que lá se deu naquele maio violento, entre os dias 12, 13 e 14, passou da conta, foi além de todos os limites: rebeliões coordenadas em presídios, incêndios, reféns na mão dos fora-da-lei, civis e policiais mortos e feridos, uma guerra à brasileira. Mas, ainda em curso, além de todos os limites, impera a escalada de fatos que ora se dá em plano global, nas cidades e até nos sítios, chácaras, fazendas e praias de veraneio.

Para o meu simplório entendimento, aqueles homens maus que, até agora, patrocinaram mais de sessenta atentados contra alvos da Polícia, e também dos Bombeiros, naquele importante estado, deixando trinta mortos (?), sendo que a maioria era composta de policiais, além de dezenas de feridos, ao exercerem assaltos, atentados, seqüestros e o narcotráfico, de algum modo todos se ligam à má-sorte dos assassinos do meu sogro. Eles são gente da mesma espécie.

Alguém que me lê isto, na certa, já imagina que, afinal, irei incitar às “autoridades maiores” da Nação a implantar a pena de morte ou a justiça com as próprias mãos. Longe disso. O que é cobrada, aqui, e com muita força, é uma resposta enérgica e imediata contra o clima irrespirável de violência que se instalou, de ponta a ponta, no País. Quem sabe, para os casos extremos, a prisão perpétua? É como sentenciou o grande Ernesto Che Guevara: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.”

Fort., 07/01/2010.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 07/01/2010
Reeditado em 07/01/2010
Código do texto: T2016793
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