CATÁSTROFE Á VISTA: REFORMA DO ENSINO

Meus amigos, não serei prolixo. O título deste meu artigo já diz tudo, dispensando quaisquer alusões, quaisquer comentários mais alongados a respeito.

Apenas quero chamar a atenção dos colegas para o que se sucede no momento, pois, isso é óbvio, o grosso ou a quase totalidade dos estudantes secundários de Belo Horizonte desconhecem os graves fatos que, entrementes, apaixonam a opinião de autoridades no assunto.

Vem aí uma reforma do ensino, visando principalmente ao secundário. Uma aberração, segundo o Professor Samuel da Rocha Barros. Sim, colegas, uma verdadeira aberração, uma revolta, um levante, em sua gravidade talvez pior do que o do Oriente Médio.

Participei no dia 12 p.passado,no auditório do SENAC, de uma conferência organizada pelo atual Presidente da UMES de Belo Horizonte, Sr. José Renato de Pimentel e Medeiros, e à qual compareceram pessoas credenciadas a discutir o assunto, tais como o Professor Samuel da Rocha Barros, Presidente do Sindicato dos Diretores de Estabelecimentos de Ensino Médio de Minas Gerais, Professor Oscar P.Andrade, Representante do Sindicato dos Professores de Ensino Médio de Minas Gerais, dos Reverendíssimos Padres Vicente Domo e Farah (o nosso velho amigo Padre Farah, como sempre atento às causas do estudante), representantes de O Diário, do Diário de Minas, Roberto Drumond, Presidente do Grêmio do Colégio Afonso Arinos e do “Binômio”, o Presidente da UCMG, outros professores e estudantes de vários colégios da capital.

O Professor Samuel da Rocha Barros, atualmente porta-voz dos estudantes mineiros em relação à reforma, no Rio de Janeiro, palco dos debates, apresentou-nos alguns artigos do projeto realmente interessantes, provocando a manifestação (não ruidosa) dos colegas presentes, os quais apartearam varias vezes, expondo opiniões que coincidiam sempre com as suas.

E, caros amigos, a situação não está boa, não! Se o tal projeto for aprovado teremos de cumpri-lo, pois “dura lex, sed lex”. Mas, como poderemos fazer isso? Simplesmente impossível.

Segundo o Professor Samuel da Rocha Barros, teríamos de fechar as nossas escolas. Em suma, querem implantar no Brasil o sistema de ensino médio dos Estados Unidos da América do Norte. E isso é, nada mais nada menos, do que mais uma manifestação em nosso meio da influência americana.

Nos Estados Unidos cada estado tem a sua legislação própria, diferindo sempre das dos outros. Portanto, caso o projeto seja aprovado, o que por certo provocará um caos no cenário do ensino médio nacional e criará uma segunda Torre de Babel, teremos de arcar com grandes dificuldades, pois a Lei o exigirá.

Depois de explicar minuciosamente o problema, de debater com alguns colegas vários itens importantes dos artigos, de opinar sobre “pros” e “contras”, o Professor Samuel da Rocha Barros leu o sumário organizado pelas representações do Rio Grande do Sul e de São Paulo, elaborado no Rio de Janeiro, sobre a propalada reforma. Entre as diversas conseqüências (em sua maior parte desastrosas) apontadas pelo dito resumo, anotei três apenas, as quais considero sumamente importantes e que são as seguintes:-

1o)- encarecimento dos livros didáticos (se houver livros didáticos), pois cada Estado da federação deverá confeccionar os seus, o que acarretará grande queda na produção de livros e automaticamente o inevitável aumento do seu preço de custo. Daí a dificuldade na sua aquisição a preço módico;

2o.)- a quase impossibilidade de transferência do estudante para outros estabelecimentos de ensino, devido às dificílimas condições para adaptação ao seu sistema, pois, como dissemos, cada escola terá o seu método de ensino próprio; e,

3o.)- o aumento do desvio (aumento digo eu, pois já desviam em grande quantidade) da verba destinada ao Fundo Beneficente dos estabelecimentos secundários, por Deputados, na Câmara.

Aí estão, caros colegas, três somente dos vários pontos ventilados pela comissão encarregada de resumir o assunto. Através os mesmos podemos ver claramente quais as conseqüências que poderão advir dessa reforma. Simplesmente impossível implantarmos isso aqui no Brasil.

Os nossos pedagogos foram lá passear, viram, gostaram e agora voltam com idéias “americanalhadas”, querendo aplicar o sistema aqui.

Como disse o Professor Samuel da Rocha Barros, seria um retrocesso, pois quando conseguíssemos a adaptação conveniente, plena, total, teríamos gasto mais ou menos uns trinta anos e não estaríamos mais evoluídos do que estamos hoje!

Portanto, aí estão três das deficiências do aludido projeto. Três apenas. Quero pedir a colaboração dos colegas e espicaçar-lhes o interesse pela coisa. Em vez de fazermos “fila boba” em represália ao aumento dos cinemas, etc., etc., voltemos os nossos olhos para a corrupção que se está insuflando em nosso meio estudantil, na nossa política, na nossa própria casa.

É preciso reagir imediatamente! A nota destoante da reunião foi, aliás, justamente o escasso número de estudantes presentes ao encontro. Colegas, não podemos ficar de braços cruzados! Procurem se informar a respeito, procurem seus representantes de turma, seus dirigentes de grêmios, seus líderes. O Presidente da UMES, nosso particular amigo José Renato, está, juntamente com o Presidente da UCMG e de vários estudantes, elaborando um vasto plano de ação.

Serão posteriormente distribuídos boletins, folhetos, circulares, para despertar o nosso estudante secundário. A reação se faz necessária. E se preciso for, como disse o Professor Samuel, “iremos até ao General Lott”. Do contrário, sendo aprovado o projeto, teremos de fechar as nossas escolas, os nossos estabelecimentos, porque será impossível continuar.

E então as portas se cerrarão até que a Lei seja revogada, o que por certo durará muito tempo. Cerrarão para tormento dos idealistas, dos rapazes esforçados, lutadores. E para alegria e sossego dos displicentes, dos quase-vencidos, dos entreguistas safados.

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 1958

OBS.- artigo publicado no MUNICIPAL, órgão oficial do DECM (Diretório Estudantil do Colégio Municipal) de Belo Horizonte.

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 07/01/2010
Código do texto: T2016462
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