O ATENEU, UM IDEAL QUE SE CONCRETIZA

Roberto Rêgo (membro fundador do Ateneu Internacional de Cultura)

Marcava o calendário o dia 24 de outubro de 1958. Foram os primeiros a chegar à ilha, no Parque Municipal de Belo Horizonte. Ainda não havia ninguém.

José Renato, solenemente, principiou a inteirar ao amigo da finalidade daquele encontro, afirmando:-

“- Hoje, Roberto, nascerá neste lugar, nesta ilha, sob esta lua clara que nos observa, defronte a este busto altivo de Anita Garibaldi, a grande heroína brasileira, a “Chancelaria das Ciências, Letras e Artes de Belo Horizonte!”

A lua, as águas tranqüilas do lago e os grilos cantando em meio à quietude da ilha testemunharam também as palavras do jovem estudante, sempre idealista, senhor duma tremenda força de vontade. O amigo balançou a cabeça num gesto de aprovação e de confiança absoluta.

Eis que surge no alto da ponte conducente à ilhota um vulto que se aproxima; é Paduani, outro jovem, poeta de inegáveis méritos, adolescente também. Abraçam-se os três, sorridentes. A conversa continua, girando sempre em torno da “Chancelaria”.

Chega outro estudante:- José Luiz, mais um poeta se unindo ao grupo. Já são quatro agora. A discussão vai animada, risos discretos povoando a ilha. São os reflexos do otimismo ante projeto tão gigantesco.

As atenções se voltam novamente para a ponte, a qual transmite o barulho surdo de passos em seu dorso. Mais um fundador naquela memorável noite. Desta feita é o Professor François de Jesus, contribuindo com sua inteligência, sua personalidade e experiência incontestáveis para a concretização da idéia. Cumprimenta os rapazes, entrosa-se na conversa, participa dos debates iniciais, ouve opiniões, faz sugestões, naquele intercâmbio inaugural de idéias que marcaria o surgimento do silogeu.

José Renato consulta o relógio. Queixa-se do Fano, o encarregado de trazer os Estatutos Provisórios da “Chancelaria”, que ainda não havia chegado. Mas continua discutindo com os presentes os inúmeros problemas que se prenunciam:- terá repercussão internacional o movimento? Não era sui-generis a escolha do patrono da entidade, a Organização das Nações Unidas? E o dia era justamente o que comemorava mais um aniversário de fundação da ONU. Mas, e o Prefeito? Cederia a ilha Anita Garibaldi, onde se encontravam naquele instante, no Parque Municipal da cidade para a sede da Academia?

Examinavam tais questões quando chegou outro moço:- Afonso Romano de Santana, poeta e jornalista. Reunidos, ali se encontravam os representantes da verdadeira mocidade brasileira, aquela que não se corrompeu!

O assunto continua, excitado agora por outros pontos de vista, por novos comentários, por sugestões varias. Estende-se a reunião por mais algum tempo, quando então, devido ao adiantado da hora, José Renato de Pimentel e Medeiros proclama aos companheiros que, apesar de ausentes os Estatutos Provisórios, estava simbolicamente fundada a Chancelaria das Ciências, Letras e Artes de Belo Horizonte, hoje o ATENEU INTERNACIONAL DE CULTURA, com outro nome, portanto, enriquecido de novas inteligências, de intelectuais de renome, tais como o Major Mario Martins de Freitas, o Professor José Quintela Vaz de Mello, o Professor Demóstenes de Azevedo e tantos outros, mas produto do idealismo objetivado por aqueles jovens estudantes.

Uma escola dinâmica, que quebrou os mais velhos preceitos de entidades do gênero, banindo a retórica, os “medalhões”, mas visando, antes de tudo, o bem estar e a harmonia da grande família humana – como mandam seus Estatutos!

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B.Hte., 10/1958

OBS.:- este artigo foi lido em reunião ordinária do “Ateneu Internacional de Cultura” e, por sugestão dos atenienses e do próprio Presidente da entidade, Major Mario Martins de Freitas, foi registrado na Ata dos trabalhos daquela sessão.

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 07/01/2010
Reeditado em 07/01/2010
Código do texto: T2016454
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