IV CONGRESSO MUNICIPAL DE ESTUDANTES SECUNDÁRIOS - B.HTE/MG

Com a presença de varias personalidades, entre elas Dom Serafim Fernandes, Bispo Auxiliar de Belo Horizonte, os Senhores Representantes do Prefeito Municipal, do Secretário da Educação, o Senhor Inspetor Seccional do Ensino Secundário em Belo Horizonte, o Dr. LEOPOLDO GARCIA BRANDÃO, brioso militante da política nacionalista do nosso tempo e, ainda, com a participação de bancadas estudantis, interpretando os ideais e reivindicações da classe relativamente aos seus respectivos educandários, iniciaram-se em 21 de julho fluente, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, os trabalhos atinentes do IV CONGRESSO DE ESTUDANTES SECUNDÁRIOS DE GRAU MÉDIO do município de Belo Horizonte, promovido pela UMES, entidade máxima representativa dessa importante camada social nesta metrópole.

Encabeçando os trabalhos do certame, THOMPSON DE ANDRADE, atual presidente da UMES, após as formalidades de praxe, concedeu a palavra ao colega representante da mocidade estudantil lavrense que, em rápida e segura oração, expressou o integral apoio dos companheiros de Lavras ao Congresso promovido pela UMES de Belo Horizonte. Interpretando o pensamento dos seus colegas e conterrâneos, elogiou a iniciativa dos co-irmãos belorizontinos, sendo muito aplaudido quando, em meio às suas palavras, pronunciou emocionado:- “... a PETROBRÁS é intocável!” .

A seguir, o Dr. LEOPOLDO GARCIA BRANDÃO, ilustre conferencista da noite, principiou o seu trabalho sobre o tema da conferência, ou seja, “Aspectos Fundamentais da Realidade Brasileira”, sendo que, conforme frisou de antemão, se propunha a examinar apenas os pontos básicos da nossa atual situação socio-econômica, visando mormente ao nosso estado de povo subdesenvolvido.

Através da sua palestra, o Dr. LEOPOLDO GARCIA BRANDÃO deixou clara a necessidade de se dar uma sólida construção à nossa infraestrutura econômica, de se amparar com maior cuidado as nossas indústrias de base, de se volverem os olhos dos governantes do país para a nossa agricultura, examinando com serenidade e especial carinho a já proposta REFORMA AGRÁRIA.

Falou também da necessidade de se nacionalizar as empresas estrangeiras que sugam a economia nacional, canalizando lucros fabulosos para o exterior, prejudicando-nos, pois, de modo claro e incontestável. Para maior ênfase de tais reivindicações, seria interessante que se aliassem operários e estudantes na luta em prol da nossa libertação econômica, de melhores dias para o Brasil magro e faminto da atualidade.

O proletariado é o grande esteio de uma nação; os estudantes, unindo seus ideais aos anseios dos trabalhadores, atingiriam mais depressa o objetivo de combate e destruição do subdesenvolvimento econômico, câncer que corroi as entranhas do organismo social deste sacrificado país.

Ressaltou um projeto já apresentado às nossas autoridades governamentais, propondo fossem extinguidas as Ações ao Portador, eliminando assim o anonimato das sociedades, deixando a descoberto as firmas estrangeiras que operam em nosso país. Tal medida seria um golpe de morte nos trustes que controlam muitos dos ramos de negócios em nossa terra, resultando, pois, grande conquista e um imenso passo no caminho da nossa emancipação econômica.

Disse também da “doença” do Brasil de produzir e até de importar bens supérfluos para seu uso. Como pequeno exemplo, os vestidos caríssimos importados da moda estrangeira, as bebidas, os cigarros e outras futilidades, coisas completamente dispensáveis ao nosso uso pessoal. Ademais, aqui mesmo as temos, muito bem fabricadas e acabadas. Gasta-se, em conseqüência, elevadas somas com esse luxo pecaminoso. O dinheiro bem poderia ser empregado na construção de escolas – das quais precisamos em abundancia, de hospitais, de penitenciárias, etc. . É claro que por detrás desse negócio rendoso e altamente lucrativo existem os grupos dominantes operando em tal campo de ação.

As primeiras pessoas a fazer uso desses artigos são as mulheres dos ricaços. Torna-se, pois, difícil um combate direto à praga. Seria provocar uma briga com o belo sexo das camadas altas, onde a situação periga. É delicado. Preferível mil vezes criticar e dar combate aos próprios ricos, também culpados no caso.

Teceu ainda o Dr. LEOPOLDO GARCIA BRANDÃO explanações a respeito do discutido PONTO IV, pelo qual se vê seriamente prejudicado, corrompido, deturpado e aleijado o nosso sistema educacional.

Por que os gringos se intrometeram na educação dos jovens brasileiros? Por que aceitarmos métodos e sistemas que falharam completamente na própria América do Norte? São coisas e atitudes do nosso governo que não podemos compreender. Reflexos da infiltração dos “testas-de-ferro” em nosso meio, trabalhando ativamente em favor trustes e dos monopólios internacionais.

É isso, também, conseqüência da falta de orientação da nossa política administrativa, que reclama por homens cultos, responsáveis e honestos – antes de tudo.

E discorreu longamente o insigne homem do povo, falando com fluência e uma pureza de sentimentos que nos empolgava a todos.

Terminou rechaçando argumentações ridículas de capachos do Rockfeller, que apregoam serem os brasileiros, ou por outra, o governo brasileiro, inepto e incapaz de organizar e dirigir, técnica e administrativamente, uma empresa de vulto. Só eles o sabem fazer com mestria ...

Grande basófia, conversa fiada! Veja-se, como exemplos, a PETROBRÁS, a FÁBRICA NACIONAL DE MOTORES, a COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL e outras grandes empresas estatais, que muito claramente dão prova da capacidade de realização, do dinamismo e da operosidade do povo brasileiro.

Ao término de sua palestra, foi o Dr. LEOPOLDO GARCIA BRANDÃO vivamente aplaudido pelos estudantes presentes, se prontificando ainda a responder perguntas formuladas pelo plenário.

Corroborando o interesse da classe estudantil pelos problemas que afligem a ação neste atormentado instante da nossa atualidade, vários colegas interrogaram o ilustre vereador, fazendo-lhe indagações sobre muitos aspectos da realidade brasileira.

A todos ele respondeu com acerto, com satisfação, conforme frisou, pois os jovens colegiais demonstraram que estão imbuídos de espírito democrático e perfeitamente identificados com a verdadeira situação social e econômica do povo desta grandiosa terra.

E salientou o Dr. LEOPOLDO GARCIA BRANDÃO que, apesar dos pesares, não teme o futuro do Brasil. A vitória é certa e não poderão jamais obstar os nossos passos de gigante, caminhar que cresce dia a dia, impulsionados por esta juventude radiosa do país!

B.Hte., 09/1960 --o-o-o-o-o--

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 06/01/2010
Reeditado em 06/01/2010
Código do texto: T2014870
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