O pré-sal
Pré-Sal
Quanto barulho... os tambores rufaram... festa, algazarra, euforia e enfim a montanha pariu. Porém o que se viu foi apenas um pé de serra bastante tênue. O governo aposta todas as fichas na extração de petróleo na área do Pré-Sal. Acredita-se que a quantidade de óleo cru existente nessa reserva seja uma fonte gigantesca de riqueza, e que a sua distribuição equânime pelo país, vai conseguir acabar finalmente com o hiato sócio-econômico entre as diferentes classes sociais que compõem a estrutura da sociedade brasileira.
Todavia, apesar de toda essa riqueza, fruto de um laborioso processo natural de anos e anos, a que sopesar a viabilidade econômica na prospecção desse óleo, tendo em vista o seu difícil acesso. Esse óleo cru encontra-se na plataforma continental da costa brasileira a quinhentos quilômetros mar adentro e a aproximadamente, onze mil metros de profundidade. É preciso um investimento faraônico com uma tecnologia de ponta que ainda não dominamos, e, provavelmente, devemos demorar pelo menos uns vinte anos só para chegarmos lá. E mesmo que venhamos a desenvolver uma tecnologia adequada à extração desse petróleo, também é de grande importância analisar os custos envolvidos nessa atividade.
Os japoneses já detêm a tecnologia para transformar o plástico em gasolina, só que o litro desta gasolina é dez vezes mais caro que o da gasolina convencional, e mesmo sopesando a questão ambiental, ainda assim o custo é altíssimo de maneira que inviabiliza essa exploração para fins comerciais. Assim como já há tecnologia suficiente para acabar com a seca no sertão nordestino do Brasil, a mesma tecnologia que permitiu que Israel cultivasse hortaliça no deserto. Só que no caso brasileiro, a seca ainda perdura porque ainda não se tem resposta econômica para um investimento desta proporção e, nem o governo tem interesse político em por fim a esta situação. Assim, em outras palavras, tudo em relação ao Pré-Sal vai depender da resposta econômica e do interesse político.
Daqui a quinze, vinte anos muita água vai ainda passar por de baixo da ponte. Quem pode garantir que a extração desse óleo tão profundo vai ter um custo acessivo que permita enfim a locupletação dessa riqueza anunciada de forma abrupta no circo do governo. E mais, quem garante que daqui a quinze anos ainda o mundo estará se utilizando dos combustíveis fósseis como fonte principal de energia, diga-se de passagem, que ninguém de sã consciência está a vontade com a dependência que tem o resto do mundo em relação aos países produtores de petróleo. A Europa, por exemplo, encontra-se de joelho face à dependência que tem em relação ao gás natural russo. Então, será que daqui a quinze, vinte anos o petróleo vai continuar a ter a importância que ainda tem hoje? Será?!...
Por outro lado, o simples rufar dos tambores já gerou uma tremenda algazarra dentro da sociedade civil, principalmente no meio político. Governadores já estão na maior “grita” discutindo a partilha do bolo. E, é muito estranho que o governo federal tenha anunciado o Pré-Sal como a panacéia para os males da sociedade brasileira, de forma tão vestibular e, que tenha determinado ao congresso um regime de urgência para aprovação da regulação do Pré-Sal. Na verdade, essa maneira abrupta e superficial no tratamento de uma questão de tamanha relevância como essa, aponta apenas para um objetivo mais imediato que preocupa o governo neste momento, a permanência da situação política atual que é garantir a sua sucessão política institucional.
Porque além da questão da viabilidade econômica na prospecção do Pré-Sal, a que se levar em conta que também esse caminho vai na contramão daquilo que o mundo está buscando. Hoje há uma corrida muito grande no desenvolvimento de outras formas alternativas de energias renováveis diferentes das dos combustíveis fósseis: biodiesel, metanol, eólica, solar, hidrogênio, elétrica e enfim várias outras alternativas que hoje já se mostram viáveis até mesmo em termos de resposta econômica. E aqueles que chegarem à frente, com certeza estarão numa condição privilegiada em relação aos demais países no processo de desenvolvimento como um todo. Sem falar que o planeta agradece. Porque ainda que não haja cientificamente uma comprovação que nos permita entender, claramente, a exata correlação entre a queima de combustíveis fósseis e o aquecimento global, bem como o impacto ambiental que isso vem provocando sobre toda vida do planeta.
Na verdade, tudo em relação a essa matéria precisa ter o devido tratamento, responsável e equilibrado para que não venhamos embarcar numa canoa furada, atraído pelo canto da sereia de um governo que só pensa no imediatismo político.
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(Omena)